Internacional

Lula vai à China e à Rússia para compromissos estratégicos do Brasil

Visitas oficiais de Estado ocorrem em meio ao acirramento da guerra comercial e tarifária imposta pelos EUA. Reunidos recentemente no Brasil, chanceleres do Brics condenaram postura do presidente Trump

Ricardo Stuckert

Lula vai à China e à Rússia para compromissos estratégicos do Brasil

Lula: diálogo para ampliar multilateralismo e aprimorar relações bilaterais

O presidente Lula embarca esta semana para compromissos estratégicos do Brasil na Rússia e na China. As visitas de Estado ocorrem em meio ao acirramento da guerra comercial e tarifária deflagrada pelos Estados Unidos (EUA). Na semana passada, os chanceleres do Brics – bloco integrado por Brasil, Rússia, China e outros oito países – divulgaram nota condenando a postura do governo de Washington e as sucessivas turbulências econômicas causadas pelo oligarca republicano Donald Trump.

Em Moscou, onde permanece de 8 a 10 de maio, Lula participa do desfile cívico-militar em comemoração aos 80 anos da vitória da União Soviética sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial, feriado nacional mais importante para os russos. Em seguida, o petista viaja a Pequim, entre 12 e 13 de maio, para se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping, e para comparecer à Cúpula China-Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

A política externa do governo Lula tem apostado no fortalecimento do multilateralismo, na expansão do comércio e na promoção do desenvolvimento, sempre reforçando a liderança e a autonomia do Brasil no cenário internacional. As reuniões bilaterais com Xi Jinping e com o presidente russo, Vladimir Putin, visam também à consolidação do Brics enquanto principal bloco econômico do mundo.

Os chineses são hoje os maiores parceiros comerciais do Brasil. A ida de Lula à China é a segunda desde que ele assumiu a Presidência da República para um terceiro mandato. Xi Jinping, por sua vez, retribuiu a visita em novembro de 2024, quando foi à Cúpula do G20, sediada no Rio de Janeiro.

Nova ordem multipolar

Reunidos no Brasil, há seis dias, os chanceleres do Brics debateram os rumos da nova ordem global e os perigos da guerra tarifária imposta pelos EUA. Eles destacaram, em resposta a Trump, “a importância do uso ampliado de moedas locais” em transações entre os países-membros. Na ocasião, o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, deu o tom de como será a presidência brasileira do bloco em 2025.

“A guerra de tarifas ameaça de morte o sistema multilateral de comércio”, alertou. “Cadeias globais de produção correm sérios riscos, gerando incertezas que afetam as tentativas de renda e a prosperidade das nossas populações. Não podemos regredir ao mundo onde as negociações ocorriam, predominantemente, de modo bilateral”, acrescentou o ex-chanceler.

Ainda na semana passada, a presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, teceu duras críticas à opção de Trump pelas tarifas, classificando-a de “grave erro”. Na avaliação dela, a política de Washington é pautada por critérios opacos e fórmulas “matemáticas e financeiras que não batem”.

“O que assustou o mundo foi o fato de que até pequenas ilhas estavam sujeitas a uma tarifação absurda, algumas inclusive desabitadas”, destacou Dilma. “É algo que não podemos aceitar tranquilamente.”

Temores de uma recessão global

As tarifas de Trump despertam temores de uma recessão global. Os principais índices acionários de Wall Street (Dow Jones, Standard & Poor’s e Nasdaq) abriram em baixa nesta segunda (5/5). O presidente estadunidense já determinou taxas sobre produtos de mais de 180 países, embora de maneira claudicante e, por vezes, voltando atrás, como no caso da China.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com o secretário do Tesouro do EUA, Scott Bessent, no domingo (4/5), em Los Angeles. Conforme relatou Haddad, está em curso uma negociação em torno das tarifas sobre as importações provenientes da América do Sul. Ante os déficits comerciais da região, os tributos “não fazem sentido”, argumentou o ministro.

“O mais importante nesse momento é dizer que nós estamos em uma mesa negociando os termos de um entendimento. Eu acredito que a postura do secretário foi bastante frutífera e demonstrou uma abertura para o diálogo bastante importante”, declarou Haddad.

Em entrevista à CNN Brasil, o economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Marcello Estevão, disse que a estratégia de Washington foi desenhada para “alterar a engenharia do sistema financeiro e econômico, estratégico e político”.

“O que a gente está vendo hoje em dia não é simplesmente um choque externo, é um choque que está sendo construído pelo governo americano”, afirmou.

To top