Homenagem argentina

Dilma recebe Prêmio Rodolfo Walsh e homenagem das Mães da Praça de Maio

A presidenta receberá a honraria máxima conferida, o singelo lenço branco que se tornou símbolo mundial da luta contra o arbítrio e a violência política
Dilma recebe Prêmio Rodolfo Walsh e homenagem das Mães da Praça de Maio

Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

A presidenta Dilma Rousseff recebe duas importantes homenagens nesta quinta-feira (11) na Argentina. Ela será agraciada com o Prêmio Rodolfo Walsh, concedido anualmente pela Faculdade de Jornalismo da Universidade de la Plata pelo “exemplo de trajetória político-acadêmica, compromisso militante e coerência nos princípios e na ação”. Além disso, receberá o histórico lenço branco das Mães da Praça de Maio, organização que se tornou um símbolo mundial da luta pelos direitos humanos, contra a tortura e a repressão política.

As homenagens serão realizadas às 18 horas, no Ginásio Poliesportivo de Humanidades da Universidade de la Plata. “As Mães da Praça de Maio decidiram outorgar sua insígnia máxima a uma lutadora incansável, a presidenta eleita democraticamente no Brasil”, anunciou Hebe de Bonafini, dirigente da organização. “Estamos muito felizes de poder entregar o lenço a Dilma, especialmente neste momento. Ela merece muito, porque depois de ter suportado o cárcere, a tortura e quase a morte, chegou à Presidência de seu país e enfrentou todos os ataques com a mesma coragem”.

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O lenço branco
Há 40 anos, em 30 de abril de 1977, em plena ditadura militar, 14 mulheres se reuniram na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do governo nacional, para cobrar notícias de seus filhos desaparecidos na esteira da brutal repressão política. Chamadas de “loucas” pelo regime, essas mulheres se tornaram milhares e, incansáveis, expuseram ao mundo a chaga da tortura, dos assassinatos, desaparecimentos e dos sequestros de crianças, filhas de militantes, entregues a pais adotivos.

Os lenços brancos que elas usavam na cabeça, naquele distante 30 de abril de 1977, acabaram se tornando um símbolo mundial de luta pela justiça, pela verdade histórica e contra o esquecimento. Duramente perseguidas, las madres  e avós tornaram-se também alvo da violência política — três delas figuram entre os 30 mil desaparecidos na Argentina.

A homenagem a Dilma ocorre um dia depois de 500 mil pessoas terem se reunido em Buenos Aires, na quarta-feira (10) para repudiar a tentativa da Suprema Corte da Argentina de abrandar a legislação que pune os implicados em crimes contra a humanidade durante a ditadura.

[blockquote align=”none” author=”Conselho Diretor do Prêmio Rodolfo Walsh”]Dilma foi  ferozmente atacada por uma articulação que reage às conquistas de direitos alcançadas durante 13 anos de governo popular no Brasil[/blockquote]

Prêmio Rodolfo Walsh
O jornalista, escritor e tradutor Rodolfo Walsh destacou-se na denúncia da violência política que se instaurou na Argentina ainda antes do golpe de 1976 e era levada a cabo por grupos paramilitares clandestinos, antes de ser encampada pelas Forças Armadas, já no governo ditatorial. Desaparecido desde 1977,  ele também perdeu a filha Vitória, de 26 anos, vítima da repressão.

O prêmio instituído em sua memória pela Faculdade de Jornalismo da Universidade de La Plata é conferido anualmente em três categorias: trajetória profissional, melhor trabalho jornalístico do ano e melhor tese acadêmica sobre jornalismo. Além disso, são distinguidas personalidades que se destacam na defesa da democracia, da liberdade de expressão, ética e militância social.

Em 2017, o Conselho Diretor do prêmio decidiu por unanimidade homenagear “a presidenta eleita democraticamente” no Brasil, lembrando que em 2010, com 56% dos votos, Dilma a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo eletivo em seu país. “Dilma foi e é ferozmente atacada por parte do establishment, numa articulação característica da atualidade latino-americana onde convergem os interesses dos meios de comunicação hegemônicos, o sistema judicial e os partidos neo-conservadores que regem às conquistas de direitos alcançada durante 13 anos de governo popular no Brasil”, afirma o comunicado do conselho.

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