Mantega, de Londres: Brasil pode atuar mais no câmbio e aumentar IOF

Ministro reage duramente às medidas protecionistas adotadas pelo governo americano e garante que, sempre que necessário, vai defender a economia brasileira

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está irritado com a entrada de dólares considerados especulativos no Brasil. Nesta sexta-feira (21/09), em Londres, ele reafirmou sua preocupação com as medidas americanas para aumentar a quantidade de dólares no mercado, o chamado “quantitative easing”.
Após palestra organizada pela revista The Economist, na capital britânica, Mantega disse que, se necessário, o governo brasileiro pode atuar no mercado de câmbio e aumentar o imposto sobre operações financeiras (IOF) para evitar o capital especulativo – dinheiro que entra no país por meio de investimentos voláteis, em busca de lucro imediato, que em nada contribuem para a geração de renda e emprego.

“Se houver capitais desta natureza (especulativos), nós teremos que comprá-los”, afirmou o ministro. “Vamos aumentar as nossas reservas, ou vamos fazer operações no mercado de derivativos, compras no mercado futuro. Se não for suficiente, tomaremos medidas de taxação de IOF, como já fizemos no passado”, reforçou Mantega. O ministro sinalizou ainda que o governo brasileiro pode aumentar a compra de dólares ou aumentar a taxação sobre alguns investimentos para que o capital especulativo não tenha o Brasil como porto preferencial,
“Se necessário, caso as entradas de fluxos forem ainda mais fortes, nós temos [a opção] de impostos de capital de curto prazo que podem [ser introduzidos]”, disse Mantega aos repórteres.”Nós adotaremos novas taxação de operações financeiras”, assegurou.
O anúncio do governo dos Estados Unidos de que vai aumentar a quantidade de dólar em circulação na economia mundial gerou preocupação no governo brasileiro, principalmente pelo fato de que a medida não tem prazo para terminar. “É uma maneira de atuar de maneira protecionista, porque a inundação de dólares desvaloriza a moeda local”, disse, e com essa redução da moeda, explicou, cria-se um estímulo artificial para aumentar as exportações americanas.

Protecionismo
Enquanto defende seu mercado desovando bilhões de dólares, sem fixar prazos para o fim dessa estratégia de proteção ao seu mercado e à sua economia, os negociadores e autoridades americanas atacam o Brasil por fazer o mesmo. Mantega classificou como “absurdas” as críticas feitas nestaquinta-feira (20/09) pelos Estados Unidos de que as medidas comerciais brasileiras são “protecionistas”.

O governo anunciou neste mês a elevação – de, em média, 12% para 25% – das tarifas pagas sobre duzentos produtos importados entrarem no Brasil. O aumento será aplicado no fim de setembro, e outra lista de produtos está sendo preparada para outubro. Embora os  aumentos na taxação tenham ficaram abaixo do teto de 35% estabelecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), os americanos reclamaram. “Os Estados Unidos estão tomando muito mais medidas protecionistas do que o Brasil”, reagiu Mantega.

Medida já adotada
O Brasil chocou os investidores em outubro de 2009 ao taxar algumas categorias de fluxos estrangeiros para ações locais e ativos de renda fixa. À época, o país afirmou que parte desse dinheiro era especulativo e que estava prejudicando a economia.
Mantega tem sido um dos maiores críticos aos programas de compra de ativos chamados de “quantitative easing” que bancos centrais do Ocidente têm usado para sustentar suas economias. Ainda em Londres, o ministro afirmou que o Brasil deve crescer 4,2% em 2013, enquanto países em desenvolvimento deverão ter uma expansão econômica menos intensa, ao redor de 3%.
Ele justificou sua expectativa bem mais otimista para o Brasil mostrando vários slides aos participantes detalhando os investimentos previstos nos pacotes de rodovias e ferrovias já anunciados e em aeroportos e portos, que deve sair em outubro. “Um crescimento de 4,2% no PIB do Brasil em 2013 é realista”, afirmou durante a conferência High-Growth Markets Summit 2012, promovida pela revista “The Economist”.

Carta dos EUA
As declarações do ministro ocorrem depois que os Estados Uniodos terem enviado uma carta de seu representante comercial, Ron Kirk, com severas críticas à política comercial brasileira. A carta foi considerada “inaceitável” pelo ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota.

Na carta, Kirk fala da “preocupação” do governo dos EUA com o aumento de tarifas de importação no Brasil e no Mercosul. Ele cobra a revisão do aumento de tarifas de cem produtos anunciado pelo Brasil na semana passada e o cancelamento da planejada elevação das tarifas para mais cem mercadorias, em outubro. Segundo Mantega, o Brasil é o segundo país que mais tomou medidas liberalizantes, depois da Rússia.

Ao mesmo tempo, o ministro disse acreditar que o protecionismo não é a melhor resposta para a crise mundial e disse que o problema dessa fase atual da crise é a falta de confiança nos países, problema que, segundo ele, não afeta o Brasil. “O Brasil será capaz de continuar a atrair investimento estrangeiro, sinal de confiança no país”, disse, citando que em 2011 os estrangeiros aplicaram US$ 67 bilhões em projetos no Brasil.
Com informações das agências de notícias

Veja a íntegra da apresentação do ministro Mantega

http://www.fazenda.gov.br/portugues/documentos/2012/Apresentacao_Guido_Mantega_Economist_Conferences.pdf

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