Mantendo circo até o final, oposição apresenta seu “relatório paralelo”

Ele é conhecido como um dos deputados convocados pelo PSDB para promover na CPMI da Petrobras o que os próprios tucanos chamam de “circo”, ou seja, provocar confusão para cobrir a incompetência e a falta de disposição sincera de investigar os desvios da Petrobras – é sempre bom lembrar – descobertos pela Polícia Federal.

Na sessão derradeira da CPMI da Petrobras, não poderia ser diferente. Um dos atores principais do circo apresentou-se para ler o seu “relatório paralelo”, com o objetivo de a mesma celeuma que ganha espaço na mídia, mas não esclarece coisa alguma. De novo ele, o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) apresentou-se para o triste papel de provocar risos em um assunto sério para o Brasil e para o Congresso.

Seu “relatório paralelo”, assim como o desempenho da oposição em todas as reuniões da CPMI da Petrobras, é inócuo, feito à medida para fabricar manchetes, mas sem a ancoragem dos fatos. Ao contrário de ter como origem os depoimentos e documentos da operação Lava Jato entregues para leitura dos parlamentares da CPMI, o deputado optou pelos vazamentos selecionados que os grandes jornais vêm publicando, sempre com a mesma regra: expor o PT e proteger os partidos da oposição, em especial o PSDB. Se metade do que os jornais publicaram, por exemplo, sobre o diretor financeiro do PT, João Vaccari Neto, fosse verdade, ele estaria entre os primeiros detidos em prisão preventiva pela Polícia Federal. Mas Vaccari não foi sequer chamado para depor. Não há nenhuma prova concreta que o incrimine – apesar do empenho dos jornais que apoiam o PSDB.

Tendo como fonte recortes de jornais – mal lidos, evidenciando preguiça mental ou má-fé intelectual – o “relatório paralelo” lista uma série de pessoas, para ele, merecedoras de indiciamento por estarem, segundo ele, “implicados” em atos ilícitos envolvendo a Petrobras.

O texto é uma barbaridade, mais se parecendo com uma reportagem saída da revista Veja, que inspira crédito apenas entre os tucanos. Pinçando acusações que foram publicadas nos vazamentos – é bom lembrar, sem qualquer comprovação – Sampaio insere em um documento oficial os tais “vazamentos” atribuídos aos dois principais réus confessos da operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e  o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa.

O circo do qual o deputado do PSDB é um dos principais atores necessita de fatos espetaculares. Só essa razão explica o motivo do pedido de abertura de inquérito policial para investigar os senadores petistas Humberto Costa (PE) e Gleisi Hoffmann (PR) e o ministro das Comunicações Paulo Bernardo, entre outros, ao mesmo tempo em que deixou de fora todos os integrantes de seu partido que foram citados nas mesmas reportagens com os vazamentos, entre eles o candidato derrotado à Presidência da República, senador Aécio Neves, que acompanhou a leitura do “relatório paralelo”, apesar de estar entre os candidatos que receberam dinheiro das empresas investigadas pela Lava Jato.

Também não se encontra, no relatório, nenhuma reivindicação pela devolução dos R$ 10 milhões que teriam sido entregues ao ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, morto em março passado, que constaram dos mesmos vazamentos selecionados pela mídia amiga do PSDB.

O texto oposicionista foi apresentado à CPMI na tarde desta quarta-feira (17), na última sessão da comissão, convocada para a votação de seu relatório final. A proposta de Carlos Sampaio também pede o indiciamento da atual presidente da Petrobras, Graça Foster, por “falso testemunho” — por ter negado, em seu depoimento à CPMI, que soubesse de denúncias sobre pagamento de propina a funcionários da estatal pela empresa holandesa SBM Offshore — e  por “prevaricação”, por supostamente ter descumprido a obrigação de investigar denúncias de superfaturamento nas obras da refinaria de Abreu e Lima. A oposição também pede o afastamento de Foster e demais dirigentes da estatal. Também foi pedido o indiciamento do ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.

Em entrevista após a suspensão da reunião da CPMI, o relator Marco maia recomendou responsabilidade à oposição. Ele reconhece que a situação de Graça Foster na Petrobras é “insustentável”, mas lembra que à luz de todas as evidências coletadas pela CPMI, assim como das provas já produzidas pelas investigações da Polícia Federal, do Ministério Público, da Justiça Federal, da Controladoria Geral da União e do tribunal de Contas da União, não há qualquer indício de conduta irregular da presidente da estatal. “Está havendo um exagero por parte da oposição. É compreensível, no jogo político, mas é preciso responsabilidade”, afirmou Maia.

A sessão da CPMI foi interrompida por volta das 17 horas, com a abertura da Ordem do Dia do Senado, e deve ser retomada depois das 20 horas.

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