A oposição, ou parte dela, tornou-se um vácuo pleno de ódio.
Intimida, ameaça, grita, bate panelas, comete violências verbais, morais e mesmo físicas, mas é incapaz de apresentar propostas racionais e exequíveis para o Brasil.
O atentado contra o Instituto Lula, tragédia anunciada, é a demonstração cabal desse ódio promovido pela oposição e da extrema deterioração do clima político do país. Deterioração que ameaça transformar o Brasil numa grande Venezuela. Deterioração que ameaça seriamente o Estado Democrático de Direito e a recuperação da economia.
Os incendiários e os partidários do “quanto pior melhor” investem irresponsavelmente nesse ódio destrutivo e em “pautas bombas”, que tendem a inviabilizar a governabilidade, a estabilidade institucional e a própria democracia, com o intuito de se safar de processos ou de colher dividendos políticos pessoais e de curto prazo.
Se esquecem, no entanto, de um “pequeno detalhe”: o Brasil.
Com efeito, qualquer força política tem de ter propostas consistentes para o país. Não adianta afirmar, de forma tão obtusa quanto irresponsável, que não tem “nada a ver com o que está aí”. Todo o mundo tem de ter a responsabilidade e a competência de propor medidas e soluções, principalmente em momentos de crise. Todo o mundo tem de ter compromisso com o Brasil. Quem se recusa a debater, em nível elevado, propostas para o país e seu futuro não passa de achacador barato e irresponsável.
Mas aí é que está o grande problema de parte da nossa oposição: ela não tem propostas.
Ou, pelo menos, não tem propostas para além da volta do fracassado modelo do paleoliberalismo e da desregulamentação financeira, que ruiu, no início deste século, em quase toda a América Latina, e que resultou na pior crise mundial desde 1929.
Reclamam demagogicamente do ajuste, mas, se eleitos, teriam tomado medidas muito mais duras e socialmente regressivas. Teriam mordido, de modo implacável, a jugular do salário mínimo e implementado uma rígida pauta destinada a reduzir drasticamente os custos trabalhistas. Teriam feito o que sempre fizeram: arrochar, de forma dura, o trabalhador.
Falam da situação da Petrobras, afetada, como todas as gigantes do setor dos hidrocarbonetos, pela queda do preço internacional do óleo, mas propõem, como “solução”, o alijamento da nossa operadora das imensas riquezas do pré-sal, o que redundaria no enfraquecimento definitivo dessa grande empresa brasileira, no colapso da política de conteúdo nacional, que sustenta uma importantíssima cadeia de produção, e na redução dos royalties para a Educação e a Saúde.
Gritam contra a corrupção, mas, quando governaram, não fortaleceram as instituições de controle e promoveram a transparência administrativa, como fizeram os governos do PT. Ao contrário, instituíram um “engavetador-geral”, que varria tudo para baixo do tapete. Os delatores da Lava Jato afirmam que o esquema de corrupção incrustou-se na Petrobras nos anos 90, mas a oposição tenta colocar a culpa justamente na presidenta que tomou a iniciativa de demitir a diretoria que hoje se sabe era corrupta há muito tempo.
Se afirmam democratas e defensores dos progressos sociais, mas querem a redução da maioridade penal e a pena de morte, e se insurgem contra as políticas de combate ao racismo e de defesa de minorias, o Bolsa Família e o Mais Médicos. Também não querem saber de uma Reforma Política que coíba as relações espúrias entre o poder econômico e o poder político.
Afirmam, de modo alarmista e mentiroso, que o Brasil “quebrou”, mas se esquecem que foram eles que de fato faliram o Brasil, no triste período do fracassado neoliberalismo. Quebraram o Brasil três vezes, o que nos forçou a ir de pires na mão ao FMI. Quando deixaram o governo, nossa dívida pública líquida chegava a mais de 60% do PIB e nossas reservas internacionais líquidas, reduzidas a cerca de US$ 16 bilhões, mal davam para dois ou três meses de importação. O risco país alcançava 2.400 pontos. Aumentaram tanto a vulnerabilidade externa da nossa economia que, ante qualquer crise periférica e de curta duração, o Brasil quebrava. O Brasil quebrava e a população sofria. Agora, propõem enfrentar a crise com o mesmo modelo fracassado que tantos nos fragilizou.
Caso o Brasil estivesse na mesma situação de vulnerabilidade e fragilidade dos anos do tucanato, nos teríamos transformado numa grande Grécia já em 2009. Os governos do PT ao menos tiveram o mérito de reduzir substancialmente essa vulnerabilidade. Também tiveram o mérito de ter gerado 20 milhões de empregos, tirado o Brasil do Mapa da Fome, praticamente eliminado a pobreza extrema, retirado 40 milhões de brasileiros da pobreza e reduzido a nossa histórica desigualdade, entre várias outras conquistas históricas. Acima de tudo, esses governos tiveram o grande mérito de ter evitado, até recentemente, que a pior crise mundial desde 1929, muito mais profunda, extensa e duradoura que as crises periféricas enfrentadas pelos neoliberais, entrasse na casa dos brasileiros.
O que parte da oposição propõe como futuro é a volta ao passado.
Há crise? Então vamos vender patrimônio público, entregar o pré-sal, reduzir o tamanho do Estado, flexibilizar legislações ambientais e trabalhistas e abrir mais a economia à concorrência internacional. Há criminalidade e insegurança? Então vamos reduzir a maioridade penal, aumentar penas e matar mais jovens negros e pobres. Há problemas na representação política? Então vamos propor a volta da ditadura ou o que se vayan todos. Há desigualdade e pobreza? Que se dane, vamos deixar que a “meritocracia” resolva.
As receitas são velhas e o resultado é conhecido: fracasso.
O projeto implantado pelo PT a partir de 2003 foi o único que, na história recente do Brasil e mesmo com todos os erros, fortaleceu o país, promoveu o crescimento, consolidou a democracia em todos os seus aspectos e promoveu a eliminação da pobreza e da fome e a distribuição da renda. Esse é o fato.
O projeto paleoliberal, gerador de vulnerabilidades, do ponto de vista econômico, e socialmente regressivo, foi incapaz de responder a esses desafios. Outro fato.
O fim do superciclo das commodities vem impondo ao país o desafio estratégico de acelerar a transição para uma economia baseada numa indústria competitiva, fundada em educação de qualidade e capacidade de gerar inovação. Ao mesmo tempo, o baixo crescimento do comércio mundial demanda maior diversificação das parcerias econômicas e, sobretudo, aprofundamento do processo de ampliação do mercado de consumo interno, o que implica, em médio e longo prazo, manutenção e intensificação dos vetores da eliminação da pobreza e da distribuição da renda. Novos fatos.
Se a oposição, ou o setor mais responsável e progressista dela, tem propostas para fazer essa travessia, que as apresente, como fez o presidente do Senado. Que as discuta, de forma transparente, com a sociedade. Que debata o futuro do Brasil com base em fatos, não em sua frustração política. Bater panelas e propor impeachment de um governo legitimamente eleito que tem apenas 6 meses, não é plataforma de governo. Não é plataforma de nada. É somente manifestação vazia de ressentimento e de ódio.
Bertrand Russel, em famoso vídeo gravado em 1959, nos legou dois conselhos: um intelectual e um moral. O intelectual é ater-se aos fatos. O moral é não odiar. O amor é sábio e o ódio é tolo, afirmou o grande filosofo inglês.
Assim, quem não se atém aos fatos e odeia é duplamente tolo.
O Brasil merece e precisa um debate muito melhor que esse. Governo e oposição precisam fazer política. Sem ódio.