“Vão separar o que é lucrativo do que não é lucrativo e vender o que dá lucro. Essa história de que o marco levará à universalização do saneamento básico é apenas discurso para convencer a sociedade a aceitar sua aprovação. Na prática, o projeto aponta para separar as áreas que são rentáveis, abrindo a possibilidade de empresas privadas adquirirem o ‘filé’ deixando o ‘osso’ com o Estado.”
Essa é a avaliação de Rogério Carvalho (PT-SE), líder do partido no Senado Federal, sobre a aprovação do marco regulatório do saneamento básico pelo Congresso Nacional, nesta quarta (24), por 65 votos a 13. Os seis senadores do Partido dos Trabalhadores se posicionaram contra. O texto seguiu para sanção presidencial.
A proposta, que estimula a participação da iniciativa privada no setor, promete universalizar os serviços de fornecimento de água e coleta e tratamento de esgoto no país. E prevê investimentos da ordem de R$ 700 bilhões.
“O setor precisa de investimento privado, de profissionalizar a gestão, de tornar os processos mais racionais. Mas um marco regulatório precisaria se atentar que está lidando com serviço publico. Portanto, a prioridade é o bem-estar da população”, afirma.
Carvalho defende que empresas que assumirem os serviços em determinada região só possam começar a distribuir dividendos a seus acionistas depois que praticamente universalizarem a cobertura de água e esgoto.
“Porém, o que foi aprovado é que se em 2033 as empresas não atingirem a meta, tem prazo até 2040. Se em 2040 não atingirem, só aí ficam suspensos os dividendos. Daí, a empresa vai explorar o que puder e entregar de volta ao Estado em 2040. Não deu, entrega, devolve”, afirma.
Ele compara o debate atual sobre água e esgoto com a privatização do sistema elétrico durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique.
“As concessionárias de energia foram entregues à iniciativa privada. Mas isso não levou energia para todos, não universalizou o serviço. O que só foi resolvido com um programa por parte do Estado, o ‘Luz para Todos’, que tirou milhões de famílias da escuridão, atuando, inclusive, com empresas privadas”, avalia.
O líder do PT no Senado, que é médico com doutorado em Saúde Coletiva pela Unicamp, relata que há cinco cidades em seu Estado, Sergipe, que são lucrativas nesse setor e outras 70 que não e, portanto, são subsidiadas em um financiamento cruzado. Para ele, há outros municípios que podem vir a se tornaram lucrativos, mas também há aquelas que nunca terão água e esgoto sem ajuda externa.