Vítima de uma trama urdida pelos adversários do estado de Goiás, negociante desatento que não se preocupou em verificar quem era o emissor dos cheques que pagaram pela venda de seu imóvel e um administrador sem mácula. Essa é a definição do governador tucano Marconi Perillo feita por ele mesmo aos integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações do contraventor Carlos Augusto Ramos – o Carlinhos Cachoeira.
Segundo ele, as informações que o envolvem com o grupo criminoso são contraditórias. “Não conheço algo parecido no Brasil desde que retomamos a democracia”, queixou-se. E afirmou que não comparecia à CPMI por respeito ao povo goiano, ao Congresso Nacional e à CPMI. Para boa parte dos parlamentares que integram a Comissão, o governador não foi capaz de esclarecer dados ainda obscuros, como a venda da casa onde o contraventor foi preso no dia 29 de fevereiro e a relação entre Cachoeira e alguns assessores e autoridades do governo goiano.
Perillo negou proximidade ou ligação comercial com Cachoeira a quem diz que conhecia “superficialmente” porque ele era um dos empresários mais importantes do estado, apesar de ter parabenizado o contraventor no dia de seu aniversário.
Perillo abriu seu depoimento às 10h30 falando dos bons resultados de sua gestão. “Venho a essa CPMI com a cabeça firme e erguida”, garantiu, dizendo-se vítima de “fatos distorcidos e informações descabidas”. Por mais de uma hora, o governador negou amizade com o contraventor – admitiu apenas uma ligação telefônica para o contraventor, para cumprimentá-lo pelo aniversário, embora a Polícia Federal tenha localizado 237 ligações telefônicas onde o nome do tucano é citado. “Não posso ser responsabilizado por diálogos de terceiros”, repetiu por diversas vezes, garantindo que em muitos dos diálogos interceptados, ele é xingado e que alguns dos pedidos feitos utilizando seu nome jamais foram concretizados. “As citações ao meu nome foram irresponsáveis”, assegurou.
Três encontros
O tucano também disse que esteve três vezes com o empresário-contraventor: uma vez no Palácio das Esmeraldas – sede do governo goiano e duas em jantares promovidos pelo presidente do Detran-GO, Edivaldo Cardoso e pelo senador Demóstenes Torres (PSDB-GO).
Sobre Demóstenes, que está ameaçado de cassação por causa de suas relações com o contraventor, disse não saber de sua amizade com Cachoeira. “Não era de conhecimento meu. Só fiquei sabendo muito depois que havia uma relação de amizade entre os dois”, disse o governador.
Mas insistiu que seu governo jamais protegeu ou acobertou as ações ilegais do contraventor. “Lavramos 845 termos de apreensão e apreendemos 2.575 máquinas caça-níqueis”, relatou, tentando, com os dados, demonstrar que seu governo não compactua com a contravenção ou o jogo ilegal. “Os dados demonstram que a Polícia do meu estado agiu não só contra a contravenção, mas no combate ao crime”, destacou.
Venda da casa e arrependimento
Sobre a venda da casa de sua propriedade, que gerou quatro versões completamente diferentes tanto sobre quem seria o comprador sobre como o negócio havia sido fechado, o governador disse que se arrependia amargamente de ter negociado o imóvel. “Se eu soubesse que a venda dessa casa geraria tanta confusão e desconforto, jamais teria deixado de morar nela”, garantiu.
E afirmou que não há qualquer contradição no negócio. Disse que anunciou a intenção de vender o imóvel nos jornais e também ofereceu a casa para alguns amigos e que vendeu para o ex-vereador Wladimir Garcez. A compra, segundo ele, foi feita em três cheques, depositados na conta bancária dele e o negócio, declarado em seu imposto de renda. O governador disse não saber que Garcez tinha pedido dinheiro emprestado.
“Eu recebi os pagamentos e só agora, após o depoimento do ex-vereador Wladimir, soube que ele tinha usado empréstimos de terceiros com os seus patrões. Eu já havia recebido o pagamento”, reiterou, assegurando que não percebeu que os cheques entregues a ele foram assinados por um sobrinho de Cachoeira, Leonardo Ramos.
Perillo se mostrou indignado pelo fato de haver questionamentos sobre a venda de um bem que era dele. “Não vendi qualquer bem do Estado, mas um imóvel de minha propriedade particular”. Ele fez questão de frisar que a versão é “única e verdadeira” ao mostrar aos integrantes da CPI os documentos referentes à escritura da casa, cópias do cheques, e extratos de sua conta dos meses de março, abril e maio.
Giselle Chassot