Dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam: 39% dos lares brasileiros são mantidos única e exclusivamente por mulheres. Outros 30% precisam da colaboração feminina na divisão das despesas. Isso não significa, porém, que os salários sejam iguais para homens e mulheres. “Ainda nos afrontam dados como os que mostram os homens ganhando em média 42% a mais do que as mulheres”, lamentou nesta quarta-feira a senadora Marta Suplicy (PT-SP), em discurso no plenário.
“Isso mostra a complexidade da nossa luta. Ocorre que o avanço depende não só das mudanças legais e institucionais, mas também de transformações sociais e culturais. E hoje, devido ao grau de globalização que vivemos, não adianta que essa transformação ocorra num país só; essa força é única”, explicou a senadora, que, há dois meses, participou de uma série de conferências na ONU, durante a 66ª sessão de sua Assembleia Geral. “Acompanhei com especial interesse as conferências da Comissão de Direitos Humanos da ONU sobre o fortalecimento do papel da mulher e sobre políticas contra a violência e a discriminação por gênero”., recordou.
Antes, há 15 anos, Marta já havia participado da Conferência Mundial sobre a Mulher na ONU, em Pequim. Segundo a senadora, porém, as alterações propostas estão ocorrendo num ritmo muito mais lento que o esperado.
Desigualdade piorou
Marta lamentou que o recente levantamento do Fórum Econômico Mundial tenha apontado piora no ranking de desigualdade de sexo. Ela ressalvou que isso aconteceu “ muito em função de uma melhora de outros países, ou seja, nós fomos para baixo, mas porque outros foram mais rápidos que nós”.
E observou: “ Daí a importância de termos uma Presidenta que é tão atenta à questão da mulher, que se preocupou tanto em ter um Ministério com mulheres, que se preocupou tanto em indicar mulheres, como agora indicou uma mulher novamente para o Supremo Tribunal Federal e que tanto tem essa preocupação em todos os níveis, até dentro do avião presidencial”.
Sobre os avanços brasileiros, Marta também destacou a criação dos Conselhos dos Direitos da Mulher, das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, de programas específicos de Saúde e de prevenção e atendimento às vítimas de Violência Sexual e Doméstica. “Mas, sem dúvida, ao longo de todo esse período, uma das maiores conquistas foi a Lei Maria da Penha, além da cota de 30% para candidatas, e de políticas sociais que veem a mulher como foco principal da sua ação, como Bolsa Família e a Rede Cegonha. Movimentos sociais como a Marcha das Margaridas, que também fortaleceram o papel da mulher no campo”, disse.
Prosseguiu a senadora : “O Relatório da ONU de Progresso das Mulheres e o Relatório do Banco Mundial sobre Igualdade de Gêneros mostram que 139 nações no mundo têm leis que garantem a igualdade de gêneros, sendo 117 com leis específicas proibindo discriminação salarial”
E concluiu: “Não podemos descansar. Apesar da evolução observada, muito ainda precisa ser feito. As mulheres, hoje, são responsáveis diretas por 66% do trabalho no mundo, 55% da produção de alimentos, mas apenas recebem 10% da renda e possuem 1% da riqueza mundial”.