A senadora Marta Suplicy (PT-SP) atribuiu a pequena representatividade feminina na política brasileira à falta de espaço nos partidos políticos. Ela participou de mesa-redonda na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta segunda-feira (21/11), debatendo, ao lado de outras lideranças femininas, o fortalecimento das mulheres para o equilíbrio socioeconômico das nações. Mesmo com essa dificuldade de entrar e se tornar uma líder dentro dos partidos, a senadora enxerga uma contradição no tratamento nas urnas. “O brasileiro de modo geral não tem mais esse preconceito acirrado em relação a mulher, ele vota tranquilamente em mulher, isso está confirmada em todos os estados. O que falta são os partidos acreditarem nas mulheres”, analisou.
“A mulher não quer entrar na política porque dificilmente vai ter o mesmo apoio nas campanhas que os partidos dão aos homens”, disse Marta. Ela ressaltou ainda a dificuldade que a rotina política impõe aos seus agentes. “É muito difícil manter as coisas boas que gostamos, como criar os filhos, cuidar do lar, ter o companheiro, e estar na política. Essa é a mudança que este século vai ter.”
A ministra da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, Iriny Lopes, que também participou do debate, concordou com a parlamentar. A eleição da presidenta Dilma Rousseff não foi, em sua visão, uma “mola propulsora” para a participação feminina na política, já que o número de deputadas não cresceu, permanecendo em 46 em um universo de 513 parlamentares na Câmara Federal.
Iriny ainda afirmou que qualquer avanço nesse sentido depende de uma mudança na cultura tanto das mulheres quanto dos homens. “Só a escolaridade avançada não muda muita coisa, ela não altera a cultura, ideologia, o modo de pensar dominante”, observou.
Lei não é gripe
Iriny Lopes ainda lembrou que a violência contra a mulher ainda é recorrente nos lares brasileiros. “O Brasil tem de parar de tratar lei como gripe, que ou pega ou não pega”, ironizou. “A Lei Maria da Penha está aí para ser cumprida.” A lei cria mecanismos de proteção das vítimas de violência doméstica, impedindo a aproximação do agressor à mulher e aos filhos, por exemplo, além de acelerar punições. “Chega de passar a mão na cabeça de quem bate em mulher; isso não pode ser normal.”
Para Marta, a mudança de cultura deve começar nas pequenas atitudes. “O maior desafio é perceber que não tem nada de errado se a mulher ganhar mais do que homem em um casamento. Não tem nada errado se a mulher for morar em outro local (em função do trabalho) e o marido acompanhar essa mulher”, disse.
Além da senadora e da ministra, participaram da mesa-redonda a defensora pública e coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres do Ceará, Mônica Barroso, e a procuradora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo Luiza Nagib Eluf.
Rede Brasil Atual
Foto: Elisabete Alves