A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT – SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Serei até mais breve, Senador Pedro Taques.
Eu gostaria de falar sobre as notícias. Primeiro, compartilhar um pouco com o que meus colegas, Senadores e Senadoras, falaram sobre a indignação com o que está ocorrendo na saúde. Foi extremamente chocante e muito importante a matéria que todos presenciamos ontem na televisão.
Mas, agora, eu queria falar um pouco da violência e do que temos presenciado na França, com esse assassinato de um rabino e três crianças judias na porta de uma escola, e o aumento da agressividade numa campanha política.
Nós temos acompanhado a disputa da eleição presidencial na França com atenção, e nós temos percebido os movimentos de radicalização principalmente em relação a posições extremistas contra imigrantes, chegando quase a uma xenofobia. Primeiro, impedindo jovens estudantes de renovarem sua permissão para estudar no país – a França que sempre foi o país que acolheu os estudantes do mundo todo, o país da luz no sentido também da cultura – e a restrição, cada vez maior, a trabalhadores de todo os tipos e, agora, a estudantes. E um discurso muito agressivo, Senador Pedro Taques, em relação aos imigrantes que lá trabalham.
A gente sabe que, numa campanha política, existe a radicalização. Agora, o que nós estamos vendo não é só fruto da campanha política, mas é algo que vem avançando no mundo todo, sobretudo na França, onde acompanhamos como piorou nos últimos tempos essa radicalização. Além do assassinato dessas crianças judias, vimos também muçulmanos serem assassinados pela mesma pessoa, segundo consta nas informações. E o que nós percebemos é a dificuldade de conviver com o diferente. A alteridade não permite a convivência de uma pessoa com a outra.
Embora estejamos vendo isso lá agora, isso me remeteu ao que estamos vendo aqui. Porque acredito que aqui há, Senador Pedro Taques, um acirramento muito grande que nós não tínhamos no nosso País. Nós somos um país onde sempre convivemos com opiniões diferentes, com religiões diferentes, com raças diferentes, e tudo em harmonia; relativa, às vezes, mas
Mas, agora, nós vemos, em anos recentes, o acirramento da violência verbal e da violência física. Nós vemos isso na televisão e vemos isso no cotidiano contra uma população gay. Nós temos o aumento de assassinatos no Brasil e o aumento também de violência no Brasil contra as pessoas GLBT, isso sem falar de crimes cada vez mais perversos, como aquele que ocorreu numa cidade do interior de São Paulo. Um pai andava abraçado com o filho e, porque acharam que o sujeito era gay, atacaram o pai, que ficou bem ferido. Essas são coisas horrorosas!
E eu comecei a observar esse acirramento na Europa – na França, como está nas páginas dos jornais de hoje –, mas também no Brasil.
E aqui eu deixo um apelo. Nós podemos discutir tudo. Nós temos oposições divergentes, nesta Casa mesmo, em muitos aspectos. Nós temos divergências com relação ao aborto, à homofobia, com relação ao que é ou não permitido, com relação a até onde ir se deve ir, mas a dignidade humana, o respeito a uma opinião diferente deve fazer parte do direito de todo cidadão, sem ser achincalhado por isso.
Eu não estive em algumas das reuniões de comissão aqui na Casa, mas me relataram que pessoas que vieram à reunião para assistir faltaram com o respeito para com pessoas convidadas, que faziam parte da Mesa da Comissão de Direitos Humanos. Isso não pode ser permitido nesta Casa! Esta Casa é um parlatório; é uma casa onde se expressam opiniões divergentes, e não uma casa onde há pessoas gritando, xingando por terem, simplesmente, opinião divergente de quem está ali falando.
Sobre esta questão, nós temos que fazer muito esforço para recuperar o equilíbrio, o bom senso, o respeito a quem é diferente de mim; o respeito a quem pensa diferente do que eu penso; ou a quem pensa diferente do que a minha igreja pensa; ou a quem pensa diferente do que meus amigos pensam.
Se hoje nós somos um País que tem uma certa tranquilidade, ela está assim ameaçada. E é bom que pensemos nisso, porque, na hora em que vemos na França o que está ocorrendo, nós temos que pensar que, aqui, nós não estamos tão distantes disso. Estão sendo trucidados, achincalhados e desrespeitados cidadãos que, muitas vezes, são visto como cidadãos de segunda categoria, que é toda a comunidade GLBT. E isso passa batido. Mas não pode passar batido. Não pode!
Para terminar, vou ler um poema que se diz ser de autoria do Maiakovski, mas não; é um poema do Eduardo Alves da Costa.
“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim, e não dizemos nada;
na segunda noite já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada;
até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta, e já não podemos dizer nada”.
É isso que eu temo possa ocorrer no nosso Brasil.