Marta volta a criticar transporte público de SP

A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT – SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Sr. Presidente.

Caros Senadores, Senadoras e vocês que estão nos escutando, infelizmente, hoje o tema é o recorrente, o transporte em São Paulo, o desastre da greve que nós estamos vendo acontecer e o descaso absoluto dos governos que lá estão, do PSDB, há tanto tempo no comando da cidade e que tão pouco fizeram pela questão do transporte, seja para aumentar o número de quilômetros, seja para manter o que já existe.

A consequência é que hoje, com o sistema de ônibus sobrecarregado, os veículos também não estão andando, parte da cidade já ficou parada, parte das pessoas não está indo trabalhar. E pior: revoltados com a situação, passageiros fecharam a Radial Leste, que é um das principais vias da zona leste, entre Itaquera e Arthur Alvim; a Estação da Linha 3 não abriu; os pneus de alguns ônibus foram furados para impedir o tráfego na via; a polícia usa bombas de efeito moral nos manifestantes, e há pessoas ficando detidas. Em outro protesto, na frente da Estação Jabaquara, que é da Linha Azul, que amanheceu fechada, passageiros juntam uma pilha de papelão e jornais e colocam fogo no material. Sem metrô, com ônibus lotados, algumas empresas se mobilizaram e, para garantir que parte dos funcionários chegue ao trabalho, arrumam ônibus privados para levar.

Bem, é um desastre. Mas é um desastre anunciado. É uma tragédia que isso ocorra na cidade.

Os manifestantes não deveriam se manifestar do jeito que estão se manifestando, que é depredando, quebrando tudo, mas a gente até pode entender o que estão fazendo.

É recorrente, Senador Moka, eu falo aqui todo mês sobre a questão do transporte. As linhas cheias de passageiros, mais do que podem carregar.

Mas agora está acontecendo algo mais sério, porque, devido a não manutenção do transporte coletivo no metrô, está havendo panes. Foram cem panes recentemente. E a cidade é muito grande e, para ir do centro da cidade à periferia, demora-se duas horas e meia, três horas. Isso, em um transporte público, em um ônibus. De metrô, você vai mais rápido. Mas, se não se pode pegar metrô, não há alternativa de ônibus, porque eles não cabem mais nas avenidas.

Então, não dá nem para pensar como deixaram chegar a essa situação. Agora, não é uma situação de um mês ou dois meses; são anos, anos, ali, sem o governo do Estado de São Paulo dar um bom encaminhamento para a questão dos transportes de massa.

O transporte de massa é o metrô. Qualquer grande metrópole sabe disso.

Quando eu fui prefeita da cidade – primeiro, prefeitura não tem obrigação de pôr recurso no metrô; a prefeitura tem obrigação de cuidar primeiro de ônibus, aí ela põe no metrô –, quando eu entrei, o dinheiro era pouquíssimo, e a obrigação foi para o ônibus, que a gente melhorou bastante.

O metrô é obrigação do Estado de São Paulo. O Governo Federal pode ajudar, se tiver condições; a prefeitura também. E é do interesse de todos ajudar, e acho que têm que ajudar mesmo. Agora, ajudar muito mais do que o prefeito que está lá está ajudando, que tem R$8 bilhões no banco, e esse dinheiro já poderia ter sido usado para dar mais rapidez, com a construção de mais metrô, inclusive para sobrar mais dinheiro talvez para fazer a manutenção do que está lá. O Governo Federal também pode ajudar mais. Agora, eu falo de uma cidade que é a quarta do mundo, é a cidade mais importante do Brasil, e está vivendo uma situação muito séria hoje.

Só para vocês terem uma ideia, começamos no final da década de 60 com a cidade do México, que hoje tem 200 km, e São Paulo tem 80 km. Então, dá para entender o que estou falando. Uma que começou junto tem 200 km, e a outra tem 80 km.

O padrão da cidade do México é de 10 km de metrô para cada milhão. Se observarmos o padrão europeu, cidades como Paris e Londres possuem menos de 500 mil para cada 10 km de linha. Então a gente vê que, no México, também não é tão maravilho quanto é em Paris ou em Londres, onde você passa de 1 milhão para 500 mil por 10 km. Mas, em São Paulo, estamos longe, anos luz disso. E a baixa oferta do serviço metroviário resulta no que acompanhamos diariamente no cotidiano da cidade pelos meios de comunicação: superlotação desumana; filas imensas; panes técnicas frequentes; desde 2007: cem panes. É o que eu digo, não é uma coisa repentina que aconteceu; é falta de vontade de investir mesmo, de dar como prioridade, porque não viajam no metrô, não têm que andar duas horas e meia para chegar ao trabalho e nem fazem planejamento para as pessoas trabalharem onde moram, trabalharem na zona leste, que abriga cinco milhões de pessoas que têm que ir para o centro trabalhar.

Para se ter uma ideia do descaso, em 2011, dos R$4,5 bilhões previstos para expansão do metrô, o Governo do Estado de São Paulo executou somente R$1,2 bilhão, era para por R$4,5 bilhão, pôs R$1,2 billhão. Já na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, houve redução de investimento na compra de trem, de R$684 milhões, em 2010, para R$260 milhões, em 2011. Quer dizer, em um ano, foram cortados 56% do dinheiro que era para comprar trem. Os investimentos na linha vermelha encolheram 20%, e em todo o sistema, a redução foi 19,6%.

Então, dá para entender que a população realmente está se sentindo muito, muito chateada, muito indignada, porque, mesmo sem saber os números do investimento que tinha que ser feito, a população percebe que não foi feito; quanto não foi feito, a população não sabe, está sabendo agora, porque estamos dando os números. Mas que a coisa não tem investimento, não melhora e que há a cada dia mais gente dentro do metrô.

Outro dia ouvi uma coisa, Senador Moka, uma pessoa de oposição culpando o Governo Lula, porque dizia assim: “Veja você, agora, com tanto carro circulando, acontece isso, as pistas ficam cheias, o trânsito fica caótico”. Olha, carro não tem nada a ver com metrô, agora, se o metrô fosse bom, as pessoas deixavam o carro em casa, tenho certeza. Porque, em todo país civilizado, é isso. Você vai pegar um ônibus em Washington, está lá escrito: 11.02. Aí a primeira vez que você vê aquilo, você fala: mas o que será isso? É o horário que o ônibus vai passar. Você vai pegar um trem bala de Tóquio para Kyoto está lá 10.09. Aí você fica pensando: o que será? Zero e nove indicam os segundos em que ele vai chegar. E ele chega. E isso é possível fazer, tendo como prioridade o transporte, coisa que, na minha cidade, no meu Estado, há muito tempo não existe.

Diante deste cenário, o Sindicato dos Metroviários deflagrou movimento de greve da categoria hoje, por isso, está tudo parado, que se fez sentir, sobretudo, nesta manhã em que pararam os operadores de trem, os funcionários de manutenção e os funcionários das estações e do corpo de segurança.

Apesar do acordo obtido na segunda audiência realizada há pouco no Tribunal da 2ª Região, que ainda será submetida à apreciação da categoria daqui a pouco, esta situação de precariedade só aumenta a preocupação dos mais de 4 milhões de paulistanos que utilizam diariamente o metrô. Porque ele está em greve, e essas pessoas fazem o quê? Como é que se movimentam?

É consenso entre os especialistas do setor que o metrô é o sistema melhor, que se ajusta às demandas de uma metrópole, só que nós estamos vivendo um clima hoje… Pode-se que eles estão fazendo greve porque querem se aproveitar de uma situação, coisa e tal. Não sei. Acho que pode ser. Sempre pode ser a forma de um trabalhador ter mais força para pedir um aumento ou qualquer coisa do gênero, mas não é. Pode ser também que eles saibam a situação em que estão trabalhando e que, se houver uma pane pela manhã, de novo, o responsável vai ser um deles. E estão trabalhando em perigo – e isso também é uma realidade.

Então, todos esses fatores estão sujeitando toda a região metropolitana de São Paulo a um constante agravamento nas condições de mobilidade urbana, transforma a cidade em um caos. Esse cenário está extremamente complicado. São 249 km hoje de lentidão por volta das 10h da manhã. Você já imaginou o que são 249 km de lentidão? É uma coisa parada e que não dá para se mexer.

É esta a realidade: nós temos a greve, nós temos pessoas depredando e temos o Governador que não dá nenhuma solução e estão lá há muito tempo sem dar nenhuma solução, Senador Moka.

Obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Waldemir Moka. Bloco/PMDB – MS) – Agradecendo a Senadora Marta Suplicy, a Presidência quer registrar e agradecer a presença dos alunos do ensino fundamental do Colégio Degraus, da cidade de Goiânia, do Estado de Goiás.

Sejam bem-vindos.

O SR. ACIR GURGACZ (Bloco/PDT – RO) – Pela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Waldemir Moka. Bloco/PMDB – MS) – Pela ordem, Senador Acyr Gurgacz.

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