Três artigos que se entrelaçam nos comentários e nas aspirações sobre a cidade de São Paulo foram publicados nesta Folha na última terça-feira.
Vladimir Safatle, sempre instigante e que divide o espaço que ora ocupo, foi ao encontro do pensador Nizan Guanaes no caderno “Mercado” (“O debate municipal é global”, 3/4). Ambos apontaram a necessidade de focar nossa cidade de forma arrojada e moderna. Uma cidade para o século que começa. Na seção Tendências/Debates, teve o artigo de Gilberto Kassab, cheio de números e “realizações”. Prestou contas do transporte -viajando na direção contrária. Credo.
Safatle ponderou que São Paulo, há tempos, não tem prefeito que queira exercer a função para a qual foi eleito. A maior cidade do país virou passagem para diferentes aspirações acompanhadas do desinteresse pela vida da população.
A importância da globalização foi captada por Nizan, quando, inconformado como eu, comparou o que ocorre no Rio e em São Paulo. Já existe a ONU das cidades (CGLU), criada em 2004, para pensar soluções para os grandes conglomerados humanos. Ocupei a primeira presidência. Serra não deu a menor pelota para continuar o que poderia ser um fantástico veículo para São Paulo.
Nossa capital adentra o novo século sem apropriar-se dos instrumentos que permitiriam uma revolução com melhorias consideráveis. Penso na implantação da banda larga gratuita tão bombardeada na última campanha como impossível e hoje realidade em outras cidades. Na ousadia que foi o Bilhete Único e a construção de corredores e terminais -projetos que foram descontinuados.
Para dar certo em São Paulo, tem que pensar em soluções inovadoras, como foram os telecentros e os CEUs na periferia, abrindo janelas para os que nunca tiveram. Os que foram construídos na gestão Kassab tiveram seus terrenos comprados e licitações feitas na gestão anterior. O conceito original, de inclusão, foi para o espaço.
E o centro? Toda metrópole tem que ter um centro dinâmico, povoado e agitado culturalmente. O centro de São Paulo vivia total degradação. Empréstimo no BID permitiu a recuperação do Mercado Municipal, mas o projeto foi abandonado. Sobraram a cracolândia e os juros de um recurso não usado.
Recordo que o novo na cidade foi feito em quatro anos, após Maluf e Pitta, e num momento difícil economicamente para o Brasil, e não em oito anos com o país deslanchando.
Antes não tinha recurso e agora tem! São R$ 20 bilhões a mais que acentuam a diferença entre gestões criativas das medíocres.
São Paulo merece um governo que tenha capacidade de pensar coisas novas. Muito mais do que a mediocridade dos últimos oito anos!
MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta coluna.