Convidado ao Senado para explicar a volta do Brasil ao Mapa da Fome da ONU, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sequer tratou do assunto. Ele preferiu usar a audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), realizada nesta terça-feira (31) para defender a política de arrocho fiscal e seu resultado na suposta “recuperação da economia”.
O ministro desconversou, porém, quando foi cobrado pelos senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), propositores da audiência, sobre os indicadores que apontam a degradação das condições de vida da maioria da população, o aumento do desemprego e a vertiginosa queda dos investimentos.
Cresce a pobreza
Para Lindbergh e Gleisi, Meirelles “esqueceu” de tratar do tema da audiência porque fome e pobreza sequer passam pela cabeça da atual equipe econômica. “Os senhores deveriam ser obrigados a andar pelas ruas deste País, para ver a realidade”, cobrou Lindbergh Farias, líder do PT no Senado, lembrando que este ano mais de 3,5 milhões de brasileiros votaram à linha da pobreza. “Mas essas pessoas não entram nas estatísticas de seu governo”.
O senador criticou a opção dos responsáveis pela política econômica por deixar sem reajuste os valores pagos aos beneficiários do Bolsa Família, ao mesmo tempo em que cumulam os mais ricos com isenções e anistias tributárias, conforme propostas que não param de chegar ao Congresso.
Governando para quem?
Gleisi Hoffman inquiriu Meirelles sobre o crescimento da renda dos mais ricos e a queda na renda dos mais pobres, a partir do quarto trimestre de 2016. “Como se explica isso? Os senhores estão governando para quem?”. Ela ressaltou que durante o governo Lula a economia foi bem para todos porque o ex-presidente colocou o povo como prioridade. “Lula governou com a cabeça do povo”.
“Conheça o Brasil, Ministro, visite o Brasil real. Não fique só nos carpetes do sistema financeiro”. Para Gleisi, um governo que só ouve o grande capital realmente vai acreditar que a economia vai muito bem, afinal, vai estar lidando com gente muito rica, que não sofre com os cortes das políticas públicas determinadas pelo ajuste fiscal.
Reforma da Previdência
Lindbergh considera estranho que Henrique Meirelles não tenha sido chamado a depor da CPI que investiga a JBF, empresa de Joesley Batista flagrada em um megaesquema de propinas que envolve Temer e o senador tucano Aécio Neves. O ministro da Fazenda foi presidente do Conselho de Administração da JBS.
Além disso, ressaltou o senador petista, a mesma JBS é a vice-campeã de sonegação das contribuições previdenciárias. “O senhor foi presidente do Conselho de Administração da empresa que deve R$ 2,3 bilhões à Previdência e tem coragem de defender uma reforma que vai extinguir o pagamento de um salário mínimo de Benefício de Prestação Continuada a quem tem deficiência física?”, questionou Lindbergh.
Mapa da Fome
O Mapa da Fome é um estudo realizado desde 1990 pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Os países incluídos no mapa são aqueles em que 5% ou mais da população não ingere a quantidade mínima de calorias. O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014 e retornou agora, em 2017, na esteira da recessão e do sistemático corte de políticas sociais promovido pelo governo Temer.