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Mentiras da ‘Capitã Cloroquina’ vêm à tona e CPI analisa reconvocação

Documentos provam que, diferente do que disse à CPI da Covid, Mayra Pinheiro enviou equipe a Manaus para aplicar tratamento precoce com remédio ineficaz em tendas montadas fora dos hospitais. Gestora também combinou depoimento com governistas. Senador Humberto Costa protocolou requerimento para nova convocação
Mentiras da ‘Capitã Cloroquina’ vêm à tona e CPI analisa reconvocação

Foto: Alessandro Dantas

A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro mentiu à CPI da Covid, em maio, quando afirmou que a pasta nunca recomendou o uso de medicamentos sem eficácia contra o coronavírus. A cúpula da comissão teve acesso a documentos que provam que a equipe chefiada por Pinheiro, conhecida como Capitã Cloroquina, realizou uma verdadeira operação de guerra em Manaus, em janeiro, para impor o uso do tratamento precoce na capital amazonense.

A missão do grupo de 11 médicos incluía até a instalação de tendas, enquanto nos hospitais pacientes agonizavam e morriam à espera de oxigênio. O site The Intercept também revelou um vídeo no qual ela pede auxílio para elaborar perguntas que pudesse enviar a senadores da base aliada, em um depoimento combinado em favor da defesa do uso dos medicamentos.

O senador Humberto Costa (PT-PE) protocolou requerimento para reconvocar Mayra Pinheiro à CPI. O senador considera graves as revelações e quer novas explicações sobre a ida da missão organizada por ela a Manaus, além dos detalhes de seu treinamento com perguntas combinadas com os senadores bolsonaristas.

Diante da resistência de médicos em prescrever os medicamentos em Manaus, em meio ao caos sanitário, foi sugerido que enfermeiras passassem a assinar os receituários com a indicação do uso das drogas. As informações constam de relatórios que foram enviados para Pinheiro e obtidos pela comissão a partir da quebra de sigilo dos e-mails da secretária.

Neles, são descritas visitas a Unidades Básicas de Saúde e relatado o número de UBS que adotaram o protocolo de recomendação dos kits – 13, no total – e outras sete que apresentavam resistência. Como solução, foi sugerida a criação de “tendas de tratamento precoce” para ampliar o alcance dos kits covid, transformando Manaus em um verdadeiro laboratório a céu aberto.

“Assim sendo, daríamos a opção dos doentes escolherem e não dos profissionais”, diz trecho do documento enviado pelo médico Gustavo Vinícius Pasquarelli Queiroz, integrante da comitiva montada por Pinheiro. 

“Visto que atualmente, os doentes têm que ter a ‘sorte’ de ser atendido por um médico prescritor do tratamento precoce”, analisa Queiroz, no e-mail. “Com as tendas, a decisão fica a cargo dos pacientes. Por fim, mesmo que os colegas locais aceitem o tratamento precoce, as UBS’s não disponibilizam as medicações. Algumas unidades não têm nem dipirona”, relatou.

Pinheiro, uma leiga em um jogo combinado

No vídeo divulgado pelo  Intercept, já analisado pela cúpula da CPI, Pinheiro pede ajuda ao biológo Regis Andriolo e ao secretário de Ciência e Tecnologia da Saúde, Hélio Angotti Neto. Na reunião, ela demonstra que não possui qualquer qualificação técnica, nem mesmo para defender o uso de cloroquina. Em certo trecho, ela se diz leiga no assunto. Em outro, desqualifica as próprias pesquisas escolhidas para basear o depoimento na CPI.

 

 

“Eu imprimi 2.400 páginas de evidência mas eu sei que, dentre essas, boa parte, se a gente for analisar, pode ter os mesmos conflitos que o senhor [Regis Andriolo, defensor da cloroquina e “treinador” de Pinheiro] acabou de falar aqui, questões de metodologia inadequada…”, diz Pinheiro, durante a live preparatória com Andriolo e Angotti Neto.

“Se o senhor puder fazer três ou quatro perguntinhas que os ‘deputados’ podem me fazer”, Pinheiro pede, em um trecho. “Tem um grupo que nos apoia, que reconhece o nosso trabalho. Esse grupo precisa fazer perguntas que nos ajudem no nosso discurso. Que perguntas posso dar a esses senadores fazerem a mim, que eles chutam para eu fazer o gol?”, pergunta.

Aziz de defende exoneração imediata

Para o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), Pinheiro não possui mais condições “morais” de estar à frente da Secretaria de Gestão da Saúde. “Mais incrível é o ministro Queiroga ainda manter a Mayra no ministério”, espantou-se Aziz, na manhã desta quinta-feira (22).

“É impressionante. Depois de um vídeo daquele, de uma servidora pública dizer que vai fazer um arranjo de perguntas entre senadores que pensam igual a ela. O ministro Queiroga tinha que tomar uma decisão imediatamente, ou ele tira a Mayra ou ele sai do cargo. Ele não pode, pelo cargo, abrir mão dos princípios que ele jurou na sua formação”, criticou o senador.

Pinheiro ofereceu kit covid aos portugueses

A obsessão de Mayra Pinheiro com drogas do tratamento precoce, a despeito de seu completo desconhecimento sobre o assunto, parece não conhecer limites. Outros documentos obtidos pela CPI da Covid apontam que a Capitã Cloroquina propôs ao governo de Portugal a adoção do kit covid.

“Diante das informações sobre o elevado número de casos e desfechos clínicos desfavoráveis da Covid-19 em território português e na qualidade de cidadã portuguesa e de secretária nacional do Ministério da Saúde, coloco-me à disposição para contribuir com compartilhamento da nossa experiência em atendimento precoce no enfrentamento à doença”, escreveu Pinheiro, referindo-se ao grande número e casos e óbitos em Portugal, em janeiro.

À época, a média de mortes estava em torno 242 óbitos diários. O governo português ignorou a oferta de Mayra Pinheiro e reduziu o número de mortes com medidas de restrição da circulação de pessoas.

(Com informações de G1)

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