Mercado interno brasileiro é a saída para a crise econômica, afirma Lula

Por mais que a bolsa de valores nesta quarta-feira (4) não tenha repetido a valorização recorde do ano obtida no dia anterior, quando subiu 4,76%, alguns sinais de recuperação da economia parecem surgir ao longo do horizonte. O Brasil, visto de fora está barato e, excetuando-se os movimentos especulativos no mercado financeiro, pequenas sinalizações podem indicar uma reversão de tendência.

Mas muitas indagações ainda são feitas: a economia já encolheu tudo o que deveria encolher? O impacto externo ainda afeta o desempenho interno da economia brasileira? Qual é a influência da alta do dólar para a inflação? Por que a inflação teima em ficar próxima de 10%? O preço do barril do petróleo, em torno de 50 dólares, ajuda ou prejudica a Petrobras? Por que os investimentos estão paralisados? A taxa de desemprego continuará subindo?

 

É verdade que essas questões foram minimizadas pelo desempenho do mercado financeiro desta terça-feira (03), mas as dúvidas persistem quando se traduz o que os números e as pesquisas dizem.

Nesta quarta-feira (4), por exemplo, tivemos um número para comemorar. A balança comercial no acumulado de janeiro a outubro foi superavitária em US$ 12,244 bilhões graças ao aumento de 25% das quantidades exportadas de minério de ferro, soja e milho (que estão na safra). A corrente de comércio, soma de tudo o país exportou e importou, alcançou US$ 30,1 bilhões, ou 12,9% menor do que a verificada em outubro de 2014.

 

Essa foi a notícia favorável, que mostra recuperação dos exportadores, principalmente por conta do recuo (desvalorização) do real perante o dólar. Os produtos brasileiros estão mais baratos lá fora. Logo, estão competitivos, provocando efeito inverso para os produtos importados, daí a retração dos valores da importação.

 

O dado intrigante e negativo, por óbvio, veio da produção industrial relativa ao mês de setembro. Divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pesquisa mostrou que a produção industrial recuou 1,3% em relação a agosto. Foi o quarto resultado negativo apurado seguidamente, com queda acumulada de 4,8%. Comparada à produção industrial de setembro de 2014, a queda corresponde a 10,9%, 19ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação.

 

Ora, se a produção industrial recuou, o que justificaria o dado divulgado, também nesta quarta-feira, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrando que o faturamento da indústria (de transformação) cresceu em setembro 1,2% sobre agosto. Por mais que o indicador faturamento esteja 8,4% menor que o de setembro de 2014, e menor 6,8% no acumulado do ano em relação ao mesmo período do ano passado, esse desempenho pode ser justificado pelos ganhos obtidos com as exportações e com as atividades das empresas de petróleo e combustíveis. Esse setor da atividade econômica tem um estoque de crédito (empréstimos) equivalentes a R$ 463 bilhões e, segundo o Banco Central, houve um crescimento de 1,3%. A capacidade instalada da indústria, por sua vez, está em 77,7% e o dado da balança comercial, que aponta um ritmo menor da importação de bens de capital, sinaliza que as empresas estariam investindo menos do que poderiam na modernização de seus parques fabris.

 

Uma alternativa para superar tais adversidades está, segundo o ex-presidente Lula, no mercado interno formado por 204 milhões de brasileiras e brasileiros. Na semana passada, em Brasília, Lula defendeu uma grande política de crédito para o País e deu como exemplo a iniciativa do Banco do Brasil, que está começando a financiar a chamada cadeia produtiva.

 

Funciona da seguinte forma: o banco escolhe uma empresa mãe que tem, digamos, 500 fornecedores. Essa empresa mãe empresta dinheiro às de pequeno porte a juros mais baratos, assim a roda da economia continua girando. “É um jeito de tocar a economia e já temos aí uns R$ 800 milhões emprestados, onde a empresa mãe é como uma avalista da pequena. Outra alternativa é oferecer linha de crédito específica a microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas. Mais uma alternativa, é criar crédito consignado para os trabalhadores da indústria privada”, recomendou.

 

Lula defende que o crédito para o consumo possa dar uma guinada na economia e isso demanda um estudo profundo do mercado interno brasileiro, porque há famílias que ainda não têm máquinas de lavar, lavadoras de roupas, geladeiras novas e até mesmo seu próprio automóvel e outros eletrodomésticos.

 

A medida provisória de manutenção do emprego, que vai garantir os postos de trabalho nas indústrias, garante uma recuperação da confiança das pessoas, das famílias e das empresas. Isso é um ponto favorável, por mais que a taxa de desocupação esteja em 8,7% no trimestre encerrado em agosto. O fato positivo é que a população ocupada está estável e equivale a 92,1 milhões de pessoas.

 

Assim, sobre esse contingente que a política de crédito pode agir imediatamente. Dados do Banco Central em operações de crédito acima de R$ 1 mil apontam que a região Sudeste é a que tem o maior saldo, R$ 1,698 trilhão, com alta de 1,1% em setembro sobre agosto. As empresas têm 60% desse crédito. Nas demais regiões, onde predomina o crédito para pessoas físicas, houve expansão de 0,6% na região Sul (saldo de R$ 548 bilhões); 0,7% no Nordeste (R$ 398 bilhões), 0,7% no Centro-Oeste (R$ 325 bilhões) e 0,7% no Norte (R$ 117 bilhões).

 

A partir desses números, nota-se como a região Norte tem pouco acesso ao crédito. Logo, a muitos bens de consumo, duráveis e não duráveis. A taxa média de juros, por mais que seja necessária uma agressiva política de crédito, como recomenda Lula, está muito salgada: 46,2% ao ano, quase 10 pontos percentuais acima do que se cobrava há um ano. Para as famílias, ao invés de cair, os juros subiram para 62,3% ao ano – impraticável, literalmente – e vale notar que os índices de inadimplência são os mais baixos dos últimos tempos.

 

A pergunta que fica é a seguinte: os bancos lucram bilhões em momento de crise econômica e em nada contribuem para que o setor produtivo retome seu caminho e as pessoas voltem a consumir. Com juros menores, os lucros astronômicos do banco continuariam evidentes e estariam garantidos pela retomada do crescimento da atividade econômica.

Enquanto essa guinada é ensaiada, o governo faz a lição de casa. De segunda-feira (2) até sexta-feira (6) uma missão brasileira está apresentando aos potenciais investidores dos Estados Unidos e da Europa as oportunidades do Programa de Investimento em Logística (PLI), cuja etapa 2015-2018, lançada pela presidenta Dilma em junho, prevê investimentos de R$ 198,4 bilhões.

 

Na segunda-feira (2), mais de sessenta convidados – concessionários, operadores, representantes de fundos de investimentos – receberam informações não apenas do PIL, mas, também, sobre o Programa de Investimento em Energia Elétrica (PIEE).

 

Nesta quarta-feira (4), em Frankfurt (Alemanha), setenta pessoas, entre investidores e representantes do Banco de Fomento Alemão (KfW), acompanharam as apresentações. Amanhã, quinta-feira (5), a missão estará em Londres (Inglaterra) e na sexta-feira (6), na Espanha. Dos investimentos projetados, R$ 66,1 bilhões são em rodovias; R$ 86,9 bilhões em ferrovias; R$ 37,4 bilhões em portos e R$ 8,5 bilhões em aeroportos.

 

No setor portuário, aliás, o governo realizará o primeiro leilão de arrendamento na próxima segunda-feira, dia 9, quando serão ofertadas quatro áreas do primeiro lote, três em São Paulo, no Porto de Santos, e uma no Porto de Vila do Conde, no Pará. As vencedoras poderão explorar os terminais pelo prazo de 25 anos e deverão realizar investimentos de R$ 640 milhões, dos quais R$ 297 milhões no terminal de cargas de grãos, R$ 200 milhões no terminal de celulose (Paquetá) e R$ 144 milhões no terminal Macuco, também de celulose.

 

E por falar em celulose, nesta semana a presidenta Dilma participou do lançamento da pedra fundamental do Projeto Horizonte 2, da empresa Fibria, que já está em andamento e consumirá investimentos de R$ 7,7 bilhões na unidade de Três Lagoas (MS). 40 mil empregos diretos e indiretos estão sendo criados. Com essa unidade que processará 3 milhões de toneladas por ano, a a Fibria vai ficar na privilegiada posição de líder mundial na produção de celulose a partir do eucalipto.

 

Se os portos se articulam para aprimorar os terminais de celulose, já prevendo o crescimento das futuras exportações do produto, outros terminais, de grãos, recebem investimentos com a mesma intenção, para dar conta do crescimento da produção agrícola. As projeções do Ministério da Agricultura para 2024/25 são de uma safra de 259,7 milhões, um acréscimo de 29,4% sobre a safra atual, estimada em 200,7 milhões de toneladas.

 

O suporte para esse desafio na produção está dado pelo governo Dilma, porque são R$ 187,7 bilhões disponíveis nos recursos para o financiamento da safra, 20% a mais do que na safra anterior. Para custeio e comercialização são R$ 149,5 bilhões; custeio e equalização R$ 96,5 bilhões – aumento de R$ 6,5 bilhões em relação à safra passada –, investimentos de R$ 38,2 bilhões. Para o médio produtor, há disponível R$ 18,9 bilhões, valor 17% acima da safra passada. Com esses dados, só acreditam na piora da economia quem aposta contra o Brasil e se vale do contágio do quanto pior melhor, ou sofre da doença do pessimismo agudo. O Brasil tem potencial e o governo da presidenta Dilma tem convicção que a recuperação da economia virá, quanto mais cedo possível.

 

Marcello Antunes

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