O presidente Jair Bolsonaro volta a mostrar sua verdadeira face diante da comunidade internacional na condução da pandemia do novo coronavírus no Brasil, expondo a imagem do país de maneira vexatória e irresponsável. Desde o início da manhã desta terça-feira, 10 de novembro, jornais influentes nos Estados Unidos e na Europa, além das principais agências internacionais de notícias, divulgaram a reação do líder da extrema-direita comemorando a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender os testes da Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em conjunto com o Instituto Butantan, contra o Covid-19. O Brasil tem 162,6 mil mortes pelo novo coronavírus e mais de 5,6 milhões de casos de pessoas infectadas.
A Associated Press destacou em reportagem que a decisão da Anvisa parece “ter sido motivada não pela ciência, mas pela hostilidade política do líder ao país e ao estado [de São Paulo] envolvido na produção da vacina candidata”. O Coronavac está sendo testado em sete estados brasileiros, além do Distrito Federal. O despacho da AP ressalta que a decisão da Anvisa é “outro golpe de Bolsonaro” contra a vacina. O britânico Financial Times reporta que o Brasil enfrenta reação política após a suspensão do teste da vacina Covid desenvolvida na China. E que Pequim está empenhada em usar o setor farmacêutico para divulgação diplomática pós-pandemia
A agência Reuters destacou no título do material distribuído em todo o planeta que Bolsonaro comemorou “a suspensão do teste da vacina Sinovac como uma ‘vitória’”. A Anvisa anunciou que manterá a suspensão e não deu qualquer indicação de quanto tempo pode durar. Os organizadores dos testes criticaram a decisão da Anvisa, dizendo que não haviam sido notificados com antecedência e que não havia motivos para interromper o julgamento. Embora um voluntário do ensaio tenha morrido, isso não teve nada a ver com a vacina, disse Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde do estado de São Paulo.
O jornal americano New York Times questionou a decisão do país: “Brasil interrompe teste de vacina chinesa. Mas a culpa foi da ciência ou da política?”. O diário estadunidense – um dos mais influentes do mundo – informa que “o governo brasileiro ofereceu poucas explicações sobre o motivo pelo qual parou abruptamente os testes de uma promissora injeção de coronavírus que milhares de pessoas já receberam”. O jornal traz Tao Lina, especialista em vacinas em Xangai, apontando que a suspensão brasileira não foi baseada na ciência, mas na política.
De acordo com a reportagem assinada pelo chefe da sucursal do NYTimes no Brasil, Ernesto Londoño, em outubro Bolsonaro já havia reagido com “raiva” ao saber que o Ministério da Saúde pretendia comprar 46 milhões de doses da vacina. “Eu ordenei que fosse cancelado”, disse ele. “Parece que nenhum país do mundo está interessado nessa vacina chinesa”. O jornal lembra que especialistas em vacinas consideram os dados dos testes iniciais do Sinovac promissores. “Os resultados dos testes de Fase 1 da empresa não mostraram efeitos adversos, e os testes de Fase 2 mostraram 90% de proteção contra o SARS-CoV-2, o vírus que causa o Covid-19”, destaca o jornal.
O inglês The Guardian destaca que Bolsonaro provocou indignação ao se gabar da suspensão dos ensaios clínicos da vacina chinesa contra o coronavírus após a morte de um voluntário. “Outra vitória de Jair Bolsonaro”, escreveu em comentário postado pela conta oficial do líder de extrema direita do Brasil na noite de segunda-feira no Facebook. Ele fez o comentário depois que a agência reguladora de saúde do país, a Anvisa, anunciou ter interrompido os testes do Coronavac.
A reportagem de Peter Beaumont e Tom Phillips é contundente. “Embora os ensaios de vacinas sejam frequentemente interrompidos para investigar suspeitas de efeitos colaterais, incluindo o ensaio de fase 3 da vacina da Universidade de Oxford University e AstraZeneca, a linguagem usada pelas autoridades brasileiras foi invulgarmente forte, embora não tenham fornecido detalhes adicionais, exceto que o evento adverso ocorreu no final de outubro”, apontam no texto.