O juiz Sérgio Moro decidiu nesta terça-feira (30) se declarar impedido de continuar julgando ação que tem como réu o jornalista e blogueiro Eduardo Guimarães. O motivo: tanto ele quanto o jornalista possuem, um contra o outro, ações judiciais em tramitação nas cortes brasileiras.
O reconhecimento de Moro, no entanto, chega tardiamente. As ações que ele e Guimarães movem um contra o outro são de 2015. São elas o motivo alegado por Moro para impedi-lo de julgar qualquer caso contra o jornalista.
Antes de admitir-se suspeito, no entanto, em março deste ano, o juiz de primeira instância do Paraná não se furtou a tomar duas decisões que foram amplamente criticadas por juristas, jornalistas e entidades de defesa da democracia de todo país: ele determinou a condução coercitiva do blogueiro de sua casa até a polícia, às 6h. A Polícia Federal cumpriu o mandado, despertando da cama e conduzindo o profissional para a superintendência do órgão em São Paulo, onde ele deu depoimento.
O juiz ordenou ainda “a apreensão de quaisquer documentos, mídias, HDs, laptops, pen drives, arquivos eletrônicos de qualquer espécie, arquivos eletrônicos pertencentes aos sistemas e endereços eletrônicos utilizados pelos investigados, agendas manuscritas ou eletrônicas, aparelhos celulares, bem como outras provas encontradas relacionadas aos crimes de violação de sigilo funcional e obstrução à investigação policial”. Tudo isso porque Guimarães havia noticiado – para a irritação de Moro – que tivera acesso a documentos que mostravam quebras de sigilos bancário e fiscal de pessoas próximas a Lula.
Após os protestos vindos de todo o país, Moro voltou atrás em sua decisão, reconhecendo tratar-se Guimarães de um jornalista, e seu sigilo da fonte, inviolável.
Sérgio Moro também já autorizou uma condução coercitiva de Lula, de maneira reconhecidamente ilegal, na medida em que o ex-presidente jamais se recusara a atender a qualquer chamado da Justiça. Sérgio Moro já vazou ilegalmente um grampo realizado também de forma ilegal sob a então presidenta Dilma Rousseff, em conversa com o ex-presidente Lula. Lula e Moro também são pólos contrários em processos judiciais. Finalmente, Lula também já protocolou um pedido de suspeição para que Moro não possa mais julgar casos envolvendo o ex-presidente.
Mas, neste caso, Moro se recusou a reconhecer sua suspeição. Ele quer seguir julgando Lula até o fim.