Segundo estudo do instituto, Alagoas, Espírito Santo e Paraíba concentram maior número de negros vítimas de homicídio
Publicado às vésperas do Dia da Consciência Negra, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que a taxa de homicídios de negros no Brasil é, hoje, mais que o dobro do que a mesma medida para “não negros”. Segundo a nota técnica “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”, a ocorrência de mortes violentas é responsável pela perda de 3,5 anos na expectativa de vida de homens negros, contra 2,57 anos para homens de qualquer outra cor ou raça.
“Proporcionalmente, esse diferencial é bem maior quando considerados apenas os homicídios. Enquanto o homem negro, ao nascer, perde 1,73 ano de vida, o homem não negro perde 0,81 devido a essa causa de mortalidade, que se constitui no principal componente do diferencial de perdas totais”, observa o estudo assinado por Daniel Cerqueira, do Ipea, e Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getúlio Vargas.
Entre as mulheres, a perda de expectativa de vida devido a todas as mortes violentas é bem menor: 0,65 para as negras e 0,74 para as não negras. O dado aqui se inverte por conta de uma maior vitimização de mulheres não negras por acidentes
O principal componente causador da perda de expectativa de vida são os homicídios, o que se dá de forma mais evidente na nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Já entre os não negros, a maior causa de letalidade são os acidentes de trânsito
A disparidade na maneira que a violência afeta negros e brancos fica ainda mais óbvia quando se olha para os dados por unidade da Federação. Em Alagoas, por exemplo, são 17,4 negros assassinados para cada não negro assassinado. O estado encabeça a lista dos campeões na perda de expectativa de vida de negros (6,2 anos) seguido pelo Espírito Santo (5,2 anos) e Paraíba (4,8 anos). “O negro é duplamente discriminado no Brasil, por sua situação socioeconômica e por sua cor de pele”, observa o estudo.
“Além das características socioeconômicas – como escolaridade, gênero, idade e estado civil –, a cor da pele da vítima, quando preta ou parda, faz aumentar a probabilidade da mesma ter sofrido homicídio em cerca de oito pontos percentuais”, diz a nota do Ipea.
Se os dados são observados por região, a perda de expectativa de vida é, em termos gerais, mais elevada nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Para os homens não negros, a perda é maior nas regiões Sul (3 anos) e Sudeste (2,8 anos).
Segundo o Ipea, a pior situação econômica de afrodescendentes, na sociedade brasileira, é um dos fatores que fazem aumentar a vitimização violenta da população negra. “Se, do ponto de vista da demanda por trabalho, o racismo bloqueia o acesso a oportunidades e interdita o crescimento profissional, efeitos igualmente maléficos podem ocorrer pelo lado da oferta de trabalho”, observa o estudo.
Portal Brasil