No último domingo (28), a Vigésima Plenária Nacional do FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) aprovou a Carta de Brasília. O documento reforça o posicionamento da organização contra os ataques sistemáticos à liberdade de expressão no país e em favor das lutas populares. A plenária encerrou o Terceiro Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC), que ocorreu entre 26 e 28 de maio na capital federal. Para saber mais sobre a carta e também sobre o encontro, a Pulsar Brasil conversou com Bia Barbosa, coordenadora do Intervozes e secretária-geral do FNDC.
Bia Barbosa faz um balanço positivo sobre o Terceiro Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC), que reuniu mais de 250 ativistas e militantes. Ela avalia que o encontro foi um espaço de formação, mas também de articulação do movimento pela democratização da comunicação. Além disso, a coordenadora do Intervozes lembra que a lista de retrocessos vividos no Brasil também engloba o campo da comunicação por exemplo com o desmonte da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), a criminalização das rádios comunitárias e as ameaças à privacidade e liberdade de expressão na internet.
Já sobre a Carta de Brasília, Bia Barbosa conta que o documento reafirma o compromisso dos movimentos de comunicação com as lutas atuais e em defesa da democracia. Para o FNDC, não há sociedade democrática sem mídia democrática. A carta traz ainda uma série de denúncias sobre os ataques à liberdade de expressão e defende as eleições “Diretas Já!” para a presidência e o “Fora, Temer”.
De acordo com a secretária-geral do FNDC, a carta propõe ainda ações para fortalecer a mídia alternativa, popular e comunitária, ações de formação e de combate ao racismo. O documento reafirma a importância dos movimentos de comunicação se somarem aos outros movimentos de resistência que estão nas ruas contras as reformas e os retrocessos.
Carta de Brasília
Os e as participantes do 3° Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação – 3ENDC, reunidos em Brasília de 26 a 28 de maio, reafirmam o princípio da liberdade de expressão e de imprensa e o direito à comunicação como direitos fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente democrática. E reconhecem que para que esses direitos fundamentais sejam exercidos em sua plenitude, é necessário um ambiente de respeito à pluralidade e à diversidade.
Historicamente, o Brasil segue sendo um dos países com maior concentração nas comunicações do mundo. Mas, com o golpe político, jurídico e midiático em curso no país e a instalação de um governo que usurpou o poder após o impedimento da Presidenta Dilma Rousseff em 2016, à ausência de pluralidade e diversidade no debate público, se somaram novos e crescentes ataques à liberdade de expressão e de manifestação.
Os ataques têm acontecido não somente com agressões físicas nos protestos, mas também com a demissão de jornalistas e radialistas comprometidos com a ética e a verdade dos fatos. Com a manipulação e seletividade informativa. Com a condenação e detenção de blogueiros e comunicadores comunitários e populares. Com o desmonte do sistema público de radiodifusão. Com a remoção de conteúdos na Internet e a adoção de práticas de vigilância em massa nas redes. Com a restrição à liberdade de expressão nas universidades e escolas. Com a censura à expressão artística e cultural. Com o desrespeito à ética jornalística.
Com o apoio dos grandes meios de comunicação – além do Congresso, do capital financeiro nacional e internacional e do Judiciário, o governo golpista tem imposto um brutal ataque aos direitos da população, com impactos na vida das pessoas que continuarão pelas próximas décadas. A toque de caixa, as reformas trabalhista e da previdência estão sendo votadas no Legislativo. E mudanças significativas no campo da radiodifusão, das telecomunicações e da internet têm sido aprovadas sem que a população em geral sequer seja informada.
Diante de tamanho retrocesso, os movimentos social e sindical, unidos e organizados, tem dado sua resposta nas ruas. Na mesma medida que a repressão do Estado aumenta, também têm crescido as manifestações. Uma nova greve geral se organiza para marcar o repúdio de amplos setores da sociedade ao golpe, aos golpistas, seus vassalos e apoiadores.
Assim, também, o movimento pela democratização da comunicação tem resistido. A Campanha Calar Jamais, lançada pelo FNDC em outubro passado, tem recebido, coletado e sistematicamente denunciado violações à liberdade de expressão no Brasil. No Congresso, o FNDC luta, em parceria com outras redes e articulações da sociedade civil, contra os ataques à internet livre e o desmonte das telecomunicações e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) – denunciando, inclusive, deputados e senadores que controlam ilegalmente emissoras de rádio e televisão.
Como defensores de direitos humanos, combatemos as violações à dignidade humana praticada pelos meios de comunicação, em especial o racismo e a violência de gênero nas programações. Acreditamos que o combate ao racismo estruturante e a percepção crítica sobre a branquitude na sociedade brasileira, como impedimento à democratização da comunicação, devem ser pontos focais na promoção de uma comunicação democrática emancipadora.
Reunidos em Brasília com mais de 250 ativistas e militantes, reafirmamos, assim, nosso compromisso com a democracia, com a diversidade e a pluralidade, com a liberdade de expressão e de imprensa, com a luta pela democratização e o direito à comunicação.
Reafirmamos também nossa disposição permanente em construir ações de denúncia, de resistência e de mobilização; de produção de conteúdos contra-hegemônicos; de fortalecimento da comunicação alternativa, pública e comunitária; e de seguir nossa luta histórica por um novo marco regulatório dos meios de comunicação no Brasil que garanta o exercício de todos esses direitos.
A luta por uma comunicação democrática deve estar no centro da disputa pela transformação social, sendo estratégico, para o FNDC, ampliar o diálogo e a articulação com movimentos gerais, como as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. O tema do direito à comunicação não pode se restringir às prioridades dos que atuam neste campo, mas precisa ser pautado sistematicamente nos debates sobre o futuro do país. Não haverá projeto de esquerda vitorioso sem um programa consistente para uma mídia democrática.
Por fim, ao lado de todos e todas aquelas que estão nas ruas para dizer “nenhum direito a menos”, marcharemos contra o arbítrio, o autoritarismo e as desigualdades. Reafirmamos, mais do que nunca, nossa defesa incondicional da democracia, das liberdades, da justiça social e da participação popular, que só serão possíveis se a soberania popular for restabelecida no Brasil.