MP do ensino médio esconde interesses bilionários

MP do ensino médio esconde interesses bilionários

Charge: LatuffMarcello Antunes

9 de novembro de 2016 | 13h35

Dinheiro. Muito dinheiro está por trás da Medida Provisória (MP 746/2016), que muda a estrutura do ensino médio brasileiro. No texto da proposta, aliados do governo Temer centram o debate em torno de matérias que seriam ou não excluídas da grade curricular, como filosofia e artes. Mas o aluno e sua formação, na verdade, é o que menos importa. Os interesses omissos estão concentrados no ganho financeiro que a educação proporciona – e a MP dá o pontapé inicial à privatização do ensino, dos anos iniciais até a universidade.

“É isso que está em jogo”, alerta Marta Vanelli, secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Enquanto discute-se o currículo, a carga horária, os interessados no ganho do capital privado se portam como ave de rapina.

Uma das propostas da MP é criar um “voucher”, que seria dado ao aluno para ser usado na hora que se matricula numa escola privada do ensino médio. É quase o cheque educação, um projeto sem sentido de ninguém menos do que o presidente da comissão especial da MP, deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF), ardoroso defensor da escola sem partido.

O senador Pedro Chaves (PSC-MS), quando foi escolhido relator da matéria, recebeu vivas por ser conhecedor da área. É verdade. A política é recente na sua vida. Ele atua desde a década de 1970 com Educação, quando começou a montar seu “império educacional”. Em outubro de 2006, por exemplo, vendeu a Anhanguera Educacional Participações S/A por R$ 200 milhões e hoje vive de renda de outros negócios.

Em 2013, por mais de R$ 103 milhões, a notícia do dia 5 de julho foi a compra pela Abril Educação dos colégios Motivo, Park Carapuceiro e Centro Recifense de Educação. Um dia antes (4), por R$ 130 milhões, a Abril comprou o Colégio Sigma, de Brasília. Nesse ano, a Abril Educação faturou R$ 1,039 bilhão. No ano seguinte, com uma carteira de milhares de alunos, o faturamento subiu mais de 40%, porque reduziu os salários dos professores e funcionários e aumentou as mensalidades. Como outros negócios do grupo Abril tiveram um rombo, o grupo vendeu suas escolas por R$ 1,3 bilhão para a Tarpon.

Secretária geral do CNTE, Marta Vanelli critica MP 746Mas quem é a Tarpon? É uma gestora de ativos, que começou com R$ 2,5 milhões e hoje administra mais de R$ 10 bilhões, tendo entre seus fundadores Eduardo Mufarrej e Pedro de Andrade Faria, cuja mantra é “nascemos com o desejo de ser especial. Nas águas há milhares de lambaris, mas sempre quisemos voltar para casa com um peixe grande”. É interessante notar que entre os conselheiros figuram nomes como Guilherme Affonso Ferreira, Luis Alves e Luis Stuhlberger.

O site The Intercept Brasil fez um levantamento que desvenda os bilionários que foram convidados por Temer para reformar numa medida provisória a educação, de acordo com sua ideologia financeira. O texto pode ser lido aqui.

E o peixe grande, pesado, gordo e rentável, no caso, é a MP que privatiza a educação e o ensino médio. E outras maldades estão no forno, conforme revela a secretária-geral do CNTE Marta Vaneli.  “O governo Temer prepara uma portaria ministerial para incluir a educação como negócio na Organização Mundial do Comércio, a OMC. Isso é gravíssimo”, afirma, porque vai escancarar a educação para ser explorada pelos grupos internacionais.

A senadora Regina Sousa (PT-PI) diz que essa é a principal característica da gestão Temer, porque tudo que acontece lá é direcionado para os ricos. “Os ricos estão felizes com esse governo. Essa MP desde o começo foi elaborada por grupos de interesse. O governo pode criar o Fies do ensino médio e os empresários estão de olho. A pergunta que faço é: será que eles vão tirar filosofia e história de suas escolas privadas?”, questiona.

 

Ouça entrevista com Marta Vaneli, secretária-geral da CNTE:

 

Ouça entrevista com a senadora Regina Sousa (PT-PI):

 

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