Em entrevista à Agência Brasil, o secretario da ONU sobre Diversidade Biológica, Bráulio Dias, fez elogios à política de preservação brasileira e crescimento sustentável. Ao destacar a forte redução do desmatamento no País, Dias afirmou que Brasil é visto como o número 1 em termos de biodiversidade. “O Brasil é um dos poucos países que tem, em lei, exigência de compensação ambiental para investir em áreas protegidas quando houver impacto de algum empreendimento”, disse.
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Leia a íntegra da entrevista:
Brasil lidera esforço mundial de conservação do meio ambiente, diz ONU
À frente do secretariado executivo da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB), há um ano, o brasileiro Bráulio Dias reuniu elementos suficientes para assegurar que o Brasil é o país que mais avançou no esforço pela conservação ambiental. Nos últimos meses, Dias tem se dedicado a promover a preservação da biodiversidade no planeta, tentando estimular autoridades de todos os continentes a adotar um novo modelo de desenvolvimento que incorpore a sustentabilidade.
O biólogo ainda não tem um cálculo preciso sobre o quanto se gasta atualmente com a conservação ambiental. Os países se comprometeram a levantar os investimentos feitos por vários setores e instâncias de governo, mas não há prazo para conclusão. Dias aposta que o orçamento ideal para garantir a sobrevivência dos ecossistemas e estancar desmatamento e perda de espécies exóticas ainda está distante de ser cumprido.
Atualmente, o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) gasta US$ 2 bilhões anualmente em ações de conservação ambiental e deve concluir, até o final do ano, a nova rodada de negociação com doadores para o próximo período de 4 anos. As nações desenvolvidas também se comprometeram a dobrar seus orçamentos para a área até 2015, considerando tanto investimentos internos como acordos bilaterais e doações.
O secretário executivo da CDB afirma que muitas ações dependem menos de recursos financeiros e de mais vontade política e garante que, se os países adotarem metas de desenvolvimento baseadas em padrões sustentáveis, a conta poderia ser significativamente reduzida.
Para Bráulio Dias, a batalha pela conservação ambiental não pode se concentrar mais apenas nas mãos dos órgãos ambientais, mas tem que incluir todos os setores econômicos e a sociedade. Apesar de reconhecer o crescimento do nível de consciência da população sobre o problema, o biólogo afirma que essa responsabilidade ainda é mais teórica do que prática e as pessoas ainda não se veem como parte do problema.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Bráulio Dias à Agência Brasil:
Agência Brasil – Qual o principal gargalo no esforço para que as nações se comprometam politicamente e economicamente com a conservação ambiental?
Bráulio Dias – Um é a questão financeira para apoiar a implementação da conservação ambiental no mundo e outro é o engajamento dos diversos setores. O avanço da conservação da biodiversidade não depende apenas da área ambiental de cada país. A gente precisa envolver o setor agrícola, de energia, pesca, floresta, transporte, minas e energia e todos os outros que utilizam a biodiversidade. Cada um tem de fazer sua parte.
ABr – No esforço pela preservação ambiental, como está o Brasil?
Dias – O Brasil é visto como o número 1 em termos de biodiversidade mundial e todo o mundo fica de olho, esperando a liderança brasileira. O país tem mostrado capacidade de avançar nesta agenda ambiental: conseguiu reduzir desmatamento. O Brasil é um dos poucos países que tem, em lei, exigência de compensação ambiental para investir em áreas protegidas quando houver impacto de algum empreendimento.
ABr – Que negociações ambientais estão sendo realizadas hoje?
Dias – Na área de biodiversidade, conseguimos, em Nagoia, aprovar 20 metas globais. Muitas delas quantitativas. Na última Conferência das Partes, que ocorreu na Índia, em 2012, conseguimos aprovar uma série de indicadores de biodiversidade. O objetivo é que toda meta tenha, pelo menos, um indicador. Temos acordo dos países sobre vários indicadores, mas algumas metas ainda precisam de mais discussão e mais testes até que haja a aceitação de todos.
ABr – Quais são os custos para a conservação da biodiversidade?
Dias – O custo para a conservação da biodiversidade depende do contexto. Apenas para a conservação de ecossistemas, estima-se que seriam necessários recursos da ordem de US$ 500 bilhões até 2020. O orçamento para reduzir desmatamento, recuperar áreas degradadas, controlar espécies exóticas invasoras também seria significativo. Algumas metas não exigiriam tanto recurso financeiro, mas vontade política. Um exemplo é a reforma de instrumentos econômicos para retirar incentivos perversos e ampliar incentivos positivos.
ABr – Qual a importância do comprometimento financeiro dos países em busca de um fundo de recursos?
Dias – Esse foi o principal tema tratado na última Conferência das Partes que ocorreu em outubro do ano passado, na Índia. Os países concordaram em dobrar o aporte financeiro ate 2015 e isso é uma sinalização positiva. Pode não ser o suficiente para financiar tudo o que precisa, mas é um indicador positivo da disposição dos países de investir na biodiversidade.
ABr – Quais são as recomendações que podem ser adotadas no dia a dia pelo cidadão comum?
Dias – A sociedade está envolvida e precisa ser mais envolvida. Desde a Rio92 [Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento], o Ministério do Meio Ambiente e outros parceiros têm feito pesquisas públicas sobre o que o brasileiro pensa sobre meio ambiente. As pesquisas mostram que a população brasileira está mais consciente sobre questões relacionadas ao meio ambiente, incluindo a biodiversidade. É visível a maior conscientização. A União para o Biocomercio Ético tem feito o Barômetro para a Biodiversidade que mostra que o Brasil é campeão em termos de conscientização, comparada à realidade de vários outros países. O problema é a distância entre o que as pessoas falam e a prática. Por exemplo, as pessoas estão preocupadas com o desmatamento e isso ficou claro durante a discussão sobre o Código Florestal, que provocou uma grande mobilização. Mas, quando você pergunta para as pessoas como elas estão incorporando isso no seu dia a dia, no seu consumo e nas atividades na empresa, no bairro e na escola, aí o nível de engajamento é muito baixo.
Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Foto: Agência Brasil