Matéria “Filhos da nova classe média” publicada, nesta quarta-feira (24), pelo jornal O Globo destaca a expansão da renda e do poder de consumo que marcaram a ascensão de quase 40 milhões de brasileiros à classe C na última década, período em que o Brasil esteve governado pelo Partido dos Trabalhadores. Outra marca registrada foi o aumento da escolaridade, ressaltada como a principal mudança entre os membros mais jovens destas famílias.
Ainda de acordo com a publicação, os filhos da chamada nova classe média são mais informados, conectados à internet e têm opiniões menos conservadoras do que seus pais sobre o papel da mulher e a homossexualidade.
O estudo “Geração C”, do Instituto Data Popular aborda o perfil de 23 milhões de jovens de
Leia a matéria na íntegra:
Filhos da nova classe média
Jovens têm maior escolaridade, conexão à internet e são menos conservadores que os pais
A geração emergente
Se a expansão da renda e do poder de consumo marcaram a ascensão de quase 40 milhões de brasileiros à classe C na última década, o aumento da escolaridade parece ser a principal mudança entre os membros mais jovens destas famílias. Mas não a única. Os filhos da chamada nova classe média são mais informados, conectados à internet e têm opiniões menos conservadoras do que seus pais sobre o papel da mulher e o homossexualismo, revela o estudo “Geração C”, que acaba de ser concluído pelo Instituto Data Popular. Trata-se de um perfil dos cerca de 23 milhões de jovens de
– Esse jovem vai ser um adulto muito diferente do pai. A educação é o grande diferencial, óbvio. Mas eles já estudaram mais do que os pais e isso traz uma série de desdobramentos, como aumento da renda da família, empregos melhores, mais informação. A primeira geração de universitários da família é menos conservadora, não vê mais a mulher como dona de casa, não vai querer do governo Bolsa Família, e sim desoneração de impostos para computadores. Eles vão mudar a cara do Brasil – diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. Segundo ele, o ápice da mudança será em 2022, quando essa geração estará no auge de sua atividade produtiva.
Tomando por base dados da Pesquisa Nacional por Amostra do Domicílios (Pnad) do IBGE e entrevistas com mais de duas mil famílias, o estudo conclui que os filhos da classe C passam quase 50% mais tempo na escola do que seus pais, enquanto na classe A, esse aumento é de 20%. E de cada R$ 100 que recebem, R$ 70 são destinados às despesas da família. Nas classes mais altas, a contribuição é de 20%.
– Ele ajuda mais por causa da necessidade da família. Mas o que mais chama atenção nessa pesquisa é ver que os jovens são os novos formadores de opinião. É para ele que o pai pergunta sobre o que vai ser comprado, para onde a família vai viajar. E eles têm uma força eleitoral muito grande – afirma Meirelles.
Aumenta o acesso à universidade
Uma tese de doutorado defendida mês passado na UFMG revela que, nos últimos dez anos, aumentou o acesso de filhos de pais analfabetos ou com pouca escolaridade ao ensino superior. Cruzando números da Pnad 2009 e do Censo 2010, o sociólogo Arnaldo Mont”Alvão, autor da pesquisa, mostra que filhos de pais com ensino fundamental completo têm duas vezes mais chances de chegar à faculdade do que aqueles com pais analfabetos. Se os pais tiverem ensino médio, a chance aumenta para quatro vezes; e alunos cujos pais têm curso superior têm 16 vezes mais chances de chegar à faculdade do que os filhos de pessoas sem qualquer educação formal.
Já foi pior. Na última década, a vantagem dos filhos de pais com ensino fundamental caiu 3%, com ensino médio encolheu 6%, e com ensino superior, 12%.
– A diminuição da influência da escolaridade dos pais sobre a progressão dos filhos ao ensino superior significa que uma proporção maior de estudantes cujos pais não tiveram muitas oportunidades educacionais conseguiu atingir este nível educacional nos últimos anos – diz Mont”Alvão.
Os fatores que ajudam os jovens das classes populares a alcançarem níveis de escolaridade elevado são temas de outra pesquisa, que ainda está sendo realizada por Manoel de Almeida Neto, professor da PUC-MG.
– A segurança econômica propiciada pelo aumento da renda das famílias melhora a probabilidade desse aluno chegar ao curso superior. Ele deixa de trabalhar para investir na educação, o que exige da família uma série de sacrifícios. Mas, com uma renda apropriada, isso passa a ser visto como possibilidade efetiva e não mais algo que “não é para você” – explica Neto.
Que o diga Samara Silva, de 20 anos, aluna do curso de Comunicação Social da PUC-RJ. Filha do zelador Alan Lopes da Silva, 49 anos, e da diarista Georgina Moreth da Silva, 51, ela sempre estudou em escola pública, mas os pais pagaram um pré-vestibular, que a ajudou a entrar na faculdade, onde depois conseguiu bolsa integral.
– Nunca me imaginei vivendo esse sonho. Reconheço o esforço dos meus pais. O que estou tendo, eles não puderam ter – diz Samara.
No ano em que a jovem fez cursinho, os gastos da família foram reduzidos ao extremo.
– Deixamos de visitar os parentes, comprar roupas e coisas para casa. E hoje ainda gastamos muito dinheiro com transporte e alimentação dela – diz Alan, já pronto para repetir tudo de novo com a filha mais nova, Amanda, de 18 anos.
Segundo Manoel Neto, além da renda há outros fatores que ajudam os estudantes pobres a atingirem níveis de escolaridade superior. Para ele, o ProUni, programa do governo federal que concede bolsas de 50% a 100% para universitários com renda familiar per capita de
– A isenção na taxa de vestibular parece pouco, mas será importante porque fará com que ele pelo menos tente. A redução do número de filhos na famílias também ajuda, pois permite que elas invistam mais neles.
É o que acontece na casa da família Almeida, em Caxias, na Baixada Fluminense. A renda mensal de R$ 2.500 que o pai, André Castro de Almeida, de 38 anos, recebe como caminhoneiro é dividida entre as despesas da casa, a faculdade da esposa Tatiana Santos Almeida, de 32 anos, que custa R$ 673, e a escola da filha Giovanna, de 3 anos, que leva outros R$ 320.
– Já trabalhei em escolas públicas e elas não dão uma boa base para crianças. Para garantir uma boa educação para minha filha, precisamos fazer muitos sacrifícios: cortamos telefone e internet, moramos longe da família – diz Tatiana.
Nice de Paula
O Globo