Saída do PT está descartada – Correio Braziliense (íntegra)
Um dos fundadores do PT e primeiro senador do partido, Eduardo Suplicy assumiu, durante muito tempo, o papel de pedra no sapato da legenda, especialmente em função da acidez das críticas que disparou em frente às câmeras contra colegas de partido que, de alguma forma, se desviaram dos padrões de ética que defende. Fritado pela cúpula petista, que passou a calcular as vantagens de oferecer a legendas aliadas a candidatura à vaga de senador por São Paulo em 2014, Suplicy mudou de tática. Cobrou do partido a realização de prévias para decidir quem encararia a disputa pelo cargo e exibiu as credenciais de petista histórico, devidamente acompanhadas dos milhões de votos que angariou a cada vez que concorreu ao Senado. Após o flerte de Marina Silva — que acaba de anunciar um novo partido e sonha com a filiação de Suplicy — e de o próprio PT reconsiderar a ideia de não deixá-lo concorrer à reeleição em 2014, o senador por São Paulo foi enfático. Ele disse que só abriria mão da candidatura em duas situações: decisão da legenda por meio de prévias ou se Lula resolver se candidatar ao Senado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Ao mesmo tempo em que o PT fala em ceder a vaga de candidato ao Senado por São Paulo em 2014 — que seria sua —, o senhor foi um dos convidados especiais no lançamento do partido da Marina Silva. O senhor está deixando o PT?
Houve um convite para eu participar da reunião. A Marina me ligou, disse que eu seria bem-vindo para trazer ideias. Ela falou isso consciente de que eu não tenho a intenção de sair do PT. Ademais, eu sou a favor da fidelidade partidária. Tendo sido eleito senador pelo PT em 2006, devo completar o meu mandato no partido.
Com o histórico que o senhor tem no partido, não fica um incômodo de ter de abrir mão de disputar o Senado nas próximas eleições?
Eu disse ao Rui Falcão que pretendo concorrer ao Senado mais uma vez em 2014, mas reconheci que existem muitos nomes de valor dentro do partido que podem aspirar à vaga. Sendo assim, que se façam prévias. Se está em discussão abrir mão da vaga para partidos aliados, que façamos uma prévia ampla, levando em consideração nomes como Gilberto Kassab, do PSD, Gabriel Chalita, do PMDB, e Netinho de Paula, do PCdoB. A minha proposta é que haja debates e, depois, a realização de prévias, nos moldes do que tem ocorrido em cada vez mais países democráticos. É a minha sugestão.
Já houve prévias no PT para cargos no Legislativo?
Em 2006, houve debates nas 22 regiões de São Paulo entre a Marta Suplicy e o Aloizio Mercadante para ver quem sairia candidato ao governo. Em todas as reuniões, eu falava que, se por algum acaso alguém quisesse participar comigo de debates para prévias na candidatura ao Senado, então eu me disporia. Ninguém se apresentou, e eu fui candidato de consenso.
O que mudou de lá para cá na relação entre o senhor e o partido?
Olha, o Rui Falcão afirmou, em novembro passado, que, possivelmente em 2014, o PT abriria mão da candidatura ao Senado em favor de um dos partidos coligados. Hoje (quinta-feira), ele falou diferente. Eu disse para ele que quero comparecer à reunião do Diretório Nacional, marcada para o início de março, para propor esse sistema de escolha do candidato ao Senado. Mas aí ele disse que, se eu quiser ser candidato ao Senado, serei.
O partido mudou de ideia? O que o senhor acha que contribuiu para essa nova postura?
Eu fui fundador do PT, estava lá em 10 de fevereiro de 1980. Fui da primeira bancada de deputados estaduais, o primeiro senador eleito pelo PT e, por quatro anos, o único senador do partido. Em 1990, era vereador em São Paulo e presidente da Câmara Municipal. O PT me disse que seria bom sair como candidato ao Senado. Concorri com o senador André Franco Montoro, com o jornalista Ferreira Neto, com o Guilherme Afif Domingos e outros. Tive 4,2 milhões de votos, 30% dos votos válidos. Em 1998, meu principal adversário foi o jogador Oscar Schmidt, campeão mundial de basquete. Consegui 6,7 milhões de votos, 43% dos válidos. Em 2006, tive como principal adversário o Afif, e somei 8,8 milhões de votos, 48% dos válidos. Além disso, quem foi eleito o melhor senador do ano em 2012 (pela publicação especializada Congresso em Foco)? Eu. Isso aconteceu depois da declaração do Rui Falcão. Sempre estive na lista dos 10 melhores. Como abrir mão de um senador que foi escolhido o melhor pelos jornalistas que participam da pesquisa?
O senhor chegou a cogitar sair do PT?
Por todo o conhecimento que tenho do que pensa a base do PT e o povo paulista, nunca acreditei que o PT pudesse abrir mão da possibilidade de eu ser o candidato por uma via que não fosse democrática, por meio de prévias. Em uma circunstância como essa, o partido concordaria com a minha proposta. Tem apenas uma situação em que eu abriria mão da candidatura ao Senado, que seria o Luiz Inácio Lula da Silva resolver ser candidato.