Matéria veiculada pela BBC Brasil aponta que o aumento do emprego formal foi crucial para formar uma nova classe média no País, que viu sua renda per capita aumentar em 50% na última década.
Os novos avanços desse grupo social – de renda familiar entre R$ 1 mil e R$ 5 mil por mês – agora passam por empregos mais estáveis, menos rotativos e mais produtivos, aponta estudo divulgado, na última segunda-feira (06), pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) do Governo Federal.
Entre 2001 e 2011, foram gerados 16 milhões de postos de trabalho. E a renda per capita da classe média cresceu 50%, de R$ 382 por mês para R$ 576 – puxada, sobretudo, pelo aumento do emprego formal e dos salários e, em menor medida, pelos programas de transferência de renda (como Bolsa Família) e pelo fato de as famílias terem menos crianças e, ao mesmo tempo, mais adultos trabalhando.
Entretanto, se o emprego formal nunca esteve em nível tão alto como agora, o mesmo pode ser dito da rotatividade dos trabalhadores.
O governo diz que 40% dos trabalhadores trocam de emprego em um ano, porcentagem que chega a 80% nos trabalhadores que ganham até dois salários mínimos (ou cerca de R$ 1,3 mil). E esses números, que já estão entre os mais altos do mundo, estão aumentando.
Vínculos frágeis
“Os vínculos de trabalho duram pouco, e os postos de trabalho são pouco estáveis”, disse nesta segunda o ministro interino de Assuntos Estratégicos, Marcelo Néri, ao apresentar o estudo, chamado Vozes da Nova Classe Média.
O problema disso, acrescentou o ministro, é que esse trabalhador “rotativo” adquire poucos conhecimentos durante seu trabalho e também recebe poucos investimentos de seu empregador.
“São relações fugazes, em que ninguém investe em ninguém (nem trabalhador, nem empregador). Isso gera custos e causa perda de conhecimentos específicos. É um problema crescente perante padrões internacionais”, declarou Néri.
Para os cofres públicos, um efeito colateral é o grande número de pedidos de seguro-desemprego, também em níveis recordes atualmente.
E o país como um todo também perde em produtividade, considerada um dos maiores empecilhos para a competitividade internacional brasileira.
Propostas
A Secretaria de Assuntos Estratégicos apresentou duas propostas para aumentar os vínculos dessas relações de trabalho.
A primeira é aumentar a oferta de cursos de aprimoramento profissional para quem já está empregado – em vez de focar apenas em quem está procurando emprego.
Néri propõe a adoção de cursos de 40 horas que sejam pagos na metade pelo empregador e na outra metade pelo empregado, para incentivar o elo entre ambos.
A proposta visa combater a alta rotatividade e também as deficiências educacionais da mão de obra brasileira: a escolaridade média dos trabalhadores aumentou 27% em dez anos, mas a educação ainda é baixa – passou de 6,7 anos em 2001 para 8,5 anos em 2011.
A segunda proposta consiste em reformular políticas já existentes de benefícios para trabalhadores de baixa remuneração (
Néri sugeriu unificar os benefícios em pagamentos mensais, que, segundo os cálculos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, poderiam aumentar em até 13% o salário de um trabalhador que recebe o mínimo e ajudariam a incentivar esse empregado a permanecer em seu posto.
As propostas ainda estão sendo debatidas e não foram formalmente apresentadas dentro do governo federal, segundo Néri. Mas o ministro sustenta que elas não trariam custos adicionais porque apenas redirecionariam recursos já existentes.
Sonhos
Para Ricardo Paes de Barros, subsecretário de ações estratégicas da SAE, o trabalhador de baixa renda do país tem feito a transição de uma “estratégia de sobrevivência” – em que o trabalho é transitório e serve apenas para garantir a subsistência – a uma “estratégia de vida”.
Nela, o trabalho passa a ser visto como uma opção de carreira, e o trabalhador começa a ter planos e sonhos de longo prazo.
“Se o sonho da década passada era o emprego de carteira assinada e o salário maior, o sonho para a próxima década é esse mesmo emprego formal e mais bem pago, porém mais estável e produtivo”, afirmou Paes de Barros.
BBC Brasil
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