Na mídia: Mantega afirma que investimento vai “pegar fogo”

Em entrevista ao Valor Econômico, ministro traça cenário positivo para a economia brasileira.

Na mídia: Mantega afirma que investimento vai “pegar fogo”

 

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Segundo Mantega, já para 2013 expansão
de 6% a 7% do investimento

O processo de recuperação do investimento está em curso e vai “pegar fogo” a partir do ano que vem, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista publicada nesta quinta-feira (6) pelo jornal Valor Econômico. O crescimento será resultado das concessões de infraestrutura, acredita Mantega, que prevê, já para 2013 expansão de 6% a 7% do investimento. Apesar de os investimentos puxarem o crescimento, o consumo continua a cumprir um papel no processo. “No caso das famílias, ele deve aumentar entre 3,5% e 4% este ano, um ritmo mais lento do que o de anos anteriores, quando o consumo das famílias rodou acima de 5%, mas segundo Mantega trata-se de uma ‘acomodação’, e não do fim do crescimento”, afirma o jornal.

Confira os principais trechos da entrevista do ministro Mantega ao Valor:

Valor: A nova taxa de câmbio, mais desvalorizada, já é o reflexo de um mundo pós-crise e de uma economia americana mais dinâmica?

Mantega: Não diria que já é o pós-crise. Acho que estamos no final da crise. Os EUA estão melhorando, mas ainda têm melhoras e retrocessos. Não é uma recuperação sólida. Surgirá uma nova economia americana. Os EUA sofreram grandes mudanças. A nova energia barata lá aumenta muito a produtividade, mas eles ainda não resolveram os problemas do “subprime”. A Europa escolheu um caminho complicado, que é a unificação fiscal e do sistema monetário. Isso é adequado e correto, mas eles estão mergulhados na recessão. Os países emergentes foram atingidos. China, Índia e Brasil desaceleraram. O comércio mundial está fraco. As perspectivas são de melhora, mas por enquanto estamos nas promessas. Essa situação retardou os efeitos das medidas que tomamos, aqui no Brasil, nos últimos anos, para reestruturação da economia, para maior dinamismo e maior produtividade. O comércio exterior está parado e é fundamental para todo mundo. No ano passado, cresceu uma mixaria, 1% a 2%.

O que significa, para o Brasil, uma economia americana mais forte e exportadora, e uma China mais fraca e voltada para o mercado doméstico?

 Estados Unidos mais forte seria com um crescimento de 2,5% a 3%, mas não para este ano. Os EUA têm dinamismo pela nova energia mais barata (gás de xisto) e avanços tecnológicos. Eles avançaram bastante na produtividade e querem exportar mais. Isso é um problema. Quando a economia americana se recuperar, vai chacoalhar, por exemplo, a indústria química mundial.

Isso requer mais câmbio?

Câmbio é importante. Nesse momento, há uma desvalorização generalizada, principalmente nos países emergentes produtores de commodities, por causa do presidente do Fed, Ben Bernanke, que anunciou que deverá reduzir os estímulos e comprar menos ativos financeiros. Os mercados se movimentam para se preparar para a redução dos estímulos americanos. Acredito que haverá volatilidade nesses mercados, mas acho que os Estados Unidos só aumentarão os juros nos próximos anos.

O sr. acha que as mudanças lá serão lentas, graduais?

Serão lentas, até porque eles não estão com essa bola toda. Os americanos não têm o crescimento sólido e o desemprego não chegou aos 6,5% que o Fed havia estipulado para começar a retirada dos estímulos. Mas os mercados gostam de antecipar esses movimentos, porque, com essa volatilidade, ganham dinheiro.

O sr. acredita que o câmbio na faixa de R$ 2,10 é algo mais permanente?

Acho que teremos volatilidade, idas e vindas ao sabor das notícias. Se a recuperação não se consolidar, o Fed manterá os estímulos. Por enquanto os sinais são erráticos.

O fluxo de recursos financeiros para o Brasil está negativo desde fevereiro (US$ 5,9 bilhões) e o saldo da balança está em queda. Isso acaba afetando o câmbio.

O nosso fluxo não me preocupa, porque o investimento estrangeiro direto será forte, tem o fluxo financeiro, vamos ter IPOs, tomada de crédito de brasileiros lá fora. Não haverá problema para fechar as contas externas brasileiras, apesar de ter havido queda no nosso saldo comercial. Essa queda, aliás, se deve praticamente à conta petróleo. Sem o petróleo, estaríamos com superávit de mais de US$ 5 bilhões no quadrimestre.

Voltando à política cambial, intervir nas situações de volatilidade é suficiente para dar certa estabilidade ao setor real?

Apesar da volatilidade, nós estamos hoje com um câmbio mais flexível, mais flutuante do que em outras épocas, com menos intervenções. Isso significa que o mercado está levando a um câmbio adequado. Você vai tirando a mão e vai vendo que ele se comporta com menos volatilidade. Não nos últimos dez dias, que foram atípicos. Mas olhando o conjunto da obra, estamos com menos intervenção. O Banco Central não está comprando divisas há muito tempo e mesmo os “swaps”, as intervenções no mercado futuro, estavam praticamente zeradas até a semana passada. Estamos gradualmente tirando a incidência dos IOF. Tiramos da renda variável e, agora, da renda fixa.

Esse novo patamar já tornaria a indústria competitiva?

Não sei pra que lado vai o real, e não quero interpretar o câmbio. O ideal é que ele reflita os fundamentos. Nós tivemos diminuição do saldo comercial e a tendência da conta corrente este ano é de um déficit maior do que o do ano passado, entre 2,8% a 3% do PIB em 12 meses. Já em 2014, a oferta de petróleo será grande e a conta petróleo, a vilã do momento, estará estabilizada, podendo haver um retrocesso no déficit em conta corrente, que deve ficar por volta de 2,5% do PIB. Ele também aumentou este ano, porque a remessa de lucros e dividendos deu uma puxada na conta de serviços, assim como os gastos com viagens internacionais.

O aumento do investimento por dois trimestres já significa uma retomada firme?

A retomada dos investimentos foi confirmada nos dados de abril, que mostram vigor. E não é só na área de caminhões. Nos dados divulgados pelo IBGE na terça-feira, da Pesquisa Industrial Mensal, o que chama a atenção é exatamente o investimento que está difuso. Aqui você pode ver [o ministro mostra as tabelas]: bens de capital cresceu 3,2%; bens de capital para fins industriais cresceu 14,6%; bens de capital agrícola, 12,5%; bens de capital para peças agrícolas, 48%; e bens de capital para energia elétrica, 17%. E mais importante: bens de capital para a construção cresceu 30%. Isso significa uma retomada da construção. A formação bruta de capital fixo, você sabe, são duas coisas: construção e máquinas e equipamentos.

O sr. acha, portanto, que já é um movimento consolidado e disseminado?

Eu acredito que vai se consolidar. Quatro meses é um terço do ano. Já dá para dizer que há uma expansão do investimento e os dados do BNDES, que é um grande financiador do investimento, confirmam isso. E o melhor da história é que daqui a pouco vem as concessões. Esse movimento será consolidado pelas novas concessões. Calculamos um adicional de R$ 40 bilhões no investimento do ano que vem só com as esses projetos. Vejo um movimento sólido de investimento no Brasil, que vai se estender até o fim do ano e vai pegar fogo, porque o ano que vem as concessões licitadas este ano estarão todas exercendo o investimento.

O discurso do governo é de que o crescimento puxado pelo consumo se esgotou e, agora, terá que ser liderado pelo investimento. Só que o investimento representa 18,45 % do PIB, enquanto o consumo responde por 65% do produto. Dá para dizer que antes era o consumo e agora será o investimento?

Eu nunca falei que se esgotou o consumo. O consumo continuará crescendo no Brasil, mesmo porque ele é uma decorrência da massa salarial, do nível de emprego que continua crescendo, do salário real dos trabalhadores, que continua crescendo. Nós constituímos um mercado interno poderoso no Brasil e isso representa 60% do PIB. O consumo continuará crescendo, provavelmente a uma taxa mais baixa do que no passado. As vendas do varejo crescem 6% ao ano. Não é de se jogar fora. Mas agora vão aumentar mais devagar. Primeiro, porque há menos oferta de crédito para o consumo. Segundo, porque as famílias tiveram um “boom” de consumo. As famílias brasileiras há seis ou oito anos atrás tinham um padrão de muito pouco crédito. O nível de endividamento era de apenas 15%. Houve uma ocupação desse espaço e nesse período o crédito cresceu fortemente. Daqui para frente, como nós já nos aproximamos de países mais avançados, não é possível continuar nessa trajetória. O consumo das famílias deverá ter expansão de 3,5% e 4%. Por outro lado, há uma mudança estrutural. O que mais cresce é o financiamento habitacional. As famílias estão consumindo mais moradia e isso se reflete nos investimentos. O financiamento habitacional representa hoje 55% do total. Em 2007, o financiamento a bens duráveis representava 70% do crédito total. Essa é uma mudança estrutural benéfica.

Os bancos privados estão com retração do crédito? Há instituições que cortaram substancialmente os financiamentos para veículos.

Teve banco privado com problemas com o financiamento de veículos e travou [novas concessões]. Nós estamos com uma retração geral do crédito, e isso explica também porque o financiamento de bens duráveis é menor. Os bancos privados resolveram segurar o consumo. Isso significa que o dia que eles resolverem liberar, você aumenta o consumo. Por isso estou dizendo: tem um componente estrutural e um conjuntural nessa redução do crescimento do consumo. Não há nenhum esgotamento. O que há é uma acomodação para um patamar de crescimento mais baixo.

Mas os estímulos do governo, que antes foram dirigidos ao aumento do consumo, agora se voltam para a expansão dos investimentos?

Tem gente que acha que nós não estimulamos o investimento. Isso é um equívoco. O investimento cresceu mais do que o PIB nos últimos dez anos. De 2003 a 2012, o investimento cresceu, em média, 5,7% e o PIB, 3,6%. Nas desonerações, 70% vão para os investimentos e para a produção. O restante é consumo.

Qual a sua expectativa para a expansão do investimento este ano?

Ele poderá crescer entre 6% e 7%. Ele está surpreendendo e vindo acima do que estava programado. As concessões de infraestrutura vão dar um grande impulso. Na verdade, temos atrasos de infraestrutura construídos nos últimos 30 a 40 anos. Isso é um problema, mas ao mesmo tempo é uma oportunidade, porque tem uma grande demanda a ser atendida.

No ano passado tivemos um câmbio desvalorizado, juros baixos e inflação alta. Que lição o sr. tirou disso?

No ano passado tínhamos que fazer um ajuste do câmbio, porque estávamos perdendo muita competitividade. O real se desvalorizou 17%, embora ainda esteja valorizado, se você pegar uma série histórica maior. Mas foi um ajuste. É claro que esse ajuste tem impacto na inflação. Além disso, tivemos um choque de oferta, uma seca nos Estados Unidos e mesmo aqui tivemos seca. Tudo isso causou uma pressão inflacionária que se propagou para este ano.

A desvalorização do ano passado foi feita meio que na marra, não?

Foi feita. Nós usamos os IOFs para isso, usamos também os swaps e tudo mais. De fato foi feita, porque a briga comercial estava dura. Nós estávamos sofrendo uma invasão de importações a preços artificialmente baixos por causa do câmbio.

O senhor diria que dada a pressão inflacionária que essa intervenção criou, a política deu errado?

Absolutamente. Se nós não tivéssemos feito isso, a indústria brasileira podia ter acabado, sofreria uma deterioração.

A recuperação da indústria é consistente?

Foi acima das expectativas do mercado e vem dando sinais de recuperação. As pessoas esperam um crescimento linear, mas o crescimento se dá em ziguezague. O importante é a trajetória ser ascendente e isso está acontecendo. Mostra que as medidas do governo estão surtindo efeito e assim mesmo é um efeito retardado.

O novo ciclo de aperto monetário, com aumento da taxa Selic, pode prejudicar essa retomada?

Acredito que não. O surto inflacionário, que já está passando, criou uma expectativa ruim. Então o Banco Central [ao elevar os juros] corta essa expectativa e diminui a possibilidade de uma propagação da inflação. Não vai prejudicar, porque os investimentos não se movem pela taxa básica de juros.

Mas ela afeta o consumo…

Afeta o consumo, mas não o investimento que se move com as taxas do BNDES, que estão muito boas. O custo financeiro do investimento é muito baixo, o custo tributário está sendo reduzido e contivemos o custo da energia elétrica. A desoneração da folha entrou praticamente esse ano para uma boa parte dos setores, tudo isso será perceptível e vai estimular a atividade econômica.

Há muita especulação sobre como é o processo decisório na questão dos juros no governo Dilma Rousseff. Qual o grau de autonomia do Copom?

Essa uma decisão do Copom. Não é da presidenta nem do ministro da Fazenda. Quem quiser acreditar (que é diferente), que acredite. O governo Dilma começou em 2011 com um aumento na taxa de juros. Você acha que nós gostamos de aumentar a taxa de juros? Não gostamos. Mas o Banco Central achou que tinha que aumentar e aumentou. Levou os juros para 12,5%. Depois voltou. É o processo natural. O BC decide quando e quanto tem que aumentar. Não tem nenhuma interferência nossa.

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