A confusão provocada pela espionagem americana a cidadãos, autoridades e, principalmente, negócios brasileiros continua rendendo protestos e matérias na mídia brasileira. A Revista IstoÉ deste final de semana trouxe amplo material explicando como os americanos se instalaram na ilha de Ascensão para montar uma base de interceptação de dados e conversas telefônicas. E uma reportagem do Fantástico, da Rede Globo mostrou a Petrobras, a maior empresa brasileira, também foi espionada pelo governo americano, de acordo com documentos obtidos pelo ex-analista da Agência de Segurança Nacional americana Edward Snowden.
As novas revelações tornaram ainda mais tensas as relações entre os governos brasileiro e norte-americano. Agora, há mais coisas a explicar. Mais até do que o “everything” prometido pelo presidente Barack Obama à presidenta Dilma Rousseff durante a reunião do G-20
Dilma Rousseff demonstrou sua “indignação” com os casos de espionagem e deixou claro seu ceticismo com as promessas americanas para a resolução do problema. Mesmo assim, aguarda um contato de Obama, prometido para a próxima quarta-feira (11). Obama, segundo a presidenta, teria assumido a responsabilidade direta e pessoal pela apuração do caso. “Eles vão me informar primeiro o tamanho do rombo”, disse a presidente, que exige que os Estados Unidos revelem todos os dados que foram acessados do Brasil.
Sem expectativas
Na entrevista coletiva concedida em São Petesburgo, na Rússia, ao final do encontro da cúpula dos líderes do G20, Dilma cobrou ainda resposta
Presidenta Dilma cobrou de Obama tudo sobre |
imediata sobre o caso. “Não quero esclarecimentos técnicos e não quero desculpas”, afirmou. A presidenta também rechaçou o argumento dos EUA de que a segurança nacional e o combate ao terrorismo seriam razões para sua política de inteligência. Segundo ela, o Brasil não possui conflitos étnicos nem abriga grupos terroristas, e esses fatos “jogavam por terra qualquer justificativa que tais atos (de espionagem) tinham a ver com segurança nacional”.
Na próxima quarta-feira, Dilma Rousseff e o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, conversarão por telefone com Obama e sua conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice. Dilma pediu que não sejam criadas expectativas sobre essa conversa. “Não pretendo transformar quarta-feira no Dia D, mas em um dia de avaliação”, afirmou.
Monitoramento
Reportagem veiculada no último domingo pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada “filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil”. Nela, aparecem o nome da presidenta do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos de mensagens ou ligações.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Petrobras
O nome da Petrobras aparece em vários slides, à medida em que o treinamento vai avançando na explicação de como é feito o monitoramento de dados das empresas e instituições-alvo.
Para cada alvo é criada uma pasta, que reúne todas as comunicações interceptadas e os endereços de IP, a identificação de computadores ligados à rede privada, que deveria estar imune a esses ataques.
Não há informações sobre a extensão da espionagem, e nem se ela conseguiu acessar o conteúdo guardado nos computadores da empresa. O que se sabe é que a Petrobras foi alvo da agência, mas não há pista nos documentos sobre que tipo de informações a NSA buscava. De todo modo, a Petrobras tem conhecimento estratégico associado a negócios que envolvem bilhões de reais.
E também não se sabe a dimensão da espionagem. Por exemplo, a Petrobras prepara o maior leilão para exploração de poços de petróleo da historia: o Leilão do Campo de Libra, na Bacia de Santos, parte do pré-sal. Os espiões tiveram acesso a esses dados? Esta é uma pergunta que o governo brasileiro terá de fazer aos Estados Unidos.
O petróleo do pré-sal está em alto mar, onde a profundidade chega a dois mil metros – abaixo de uma camada de sal rochoso, quatro quilômetros dentro da terra. Para chegar a esse óleo é preciso muita tecnologia. E na exploração em águas profundas a Petrobras é líder mundial.
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency – NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país.
Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas,
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
Com informações das Agências de notícias
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