Em entrevista ao jornal A Gazeta, o senador Jorge Viana (PT-AC) faz um balanço positivo das eleições e aponta os desafios pela frente. Destaca que o PT vai governar 28% do eleitorado brasileiro, inclusive com a vitória de seu candidato Marcus Alexandre a prefeito de Rio Branco. Mas ressalta: “gosto de dizer sempre: para mim, eleição, quem ganha e quem perde têm que tirar lição. É mais traumático aprender com a derrota, mas mesmo quem ganha tem que descer do palanque e tirar lições para poder ser merecedor de novas vitórias”.
Qual avaliação o senhor faz dessas eleições
Essa eleição foi atípica. Principalmente no plano nacional, alguns tentaram mostrar que o PT estava inviabilizado e que o Lula não era só um ex-presidente, mas um ex-líder político. Eu acho que o grande resultado é que o Lula saiu fortalecido e o PT, enquanto partido, apesar da crise envolvendo a história do mensalão, saiu fortalecido porque foi o partido que teve o maior número de votos (foram 17 milhões ao todo) e também é o partido que sai das eleições e vai administrar o maior número de eleitores do Brasil. Quase 28% dos eleitores do Brasil serão administrados por prefeitos petistas. Mas, gosto de dizer sempre: para mim, eleição, quem ganha e quem perde tem que tirar lição. É mais traumático aprender com a derrota, mas mesmo quem ganha tem que descer do palanque e tirar lições para poder ser merecedor de novas vitórias.
E no caso do Acre?
No caso do Acre, que tem 22 municípios, nós tivemos uma vitória histórica, com recorde de votos e com um processo de renovação com Marcus Alexandre. Para nós, que tínhamos perdido a eleição
Do ponto de vista do estado, nós perdemos prefeituras importantes e símbolos para nós. Ganhamos em outras muito importantes. No geral, o resultado no interior foi desfavorável para nós. Mas a política é assim. É preciso tirar boas lições. O caso de Rio Branco é um exemplo. Perdemos em 2010 e tivemos uma linda vitória agora. Estou certo que, com o trabalho do governador Tião Viana e com o desempenho e o sucesso do governo da presidenta Dilma, vamos recuperar esse terreno perdido.
Mas isso compromete 2014?
Primeiro, é cedo para discutirmos 2014. Agora é hora de organizar os lugares onde ganhamos. Até para definir os desafios. Temos de levar o trabalho do Angelim. Marcus Alexandre já tem cumprido uma boa agenda fora do palanque eleitoral. Ele desceu do palanque e esse é o primeiro gesto de um bom prefeito. E, repito, 2014 tem que ficar para 2014. O governador Tião Viana, que trabalhou tanto, certamente vai aproveitar o ano de 2013 para consolidar o seu trabalho nos 22 municípios. E nós, que perdemos algumas prefeituras importantes, que governávamos já há mais de dois mandatos, temos que tirar lições e rever um pouco a maneira que a gente tem trabalhado. Não basta apenas a gente discutir as ações, a gente tem que discutir a qualidade do envolvimento das pessoas na execução dessas ações. Ou seja, nós não podemos fazer ações para as pessoas. O desafio é fazer com as pessoas. E, obviamente, para elas também. A situação nossa para 2014 é muito positiva. Mas acho cedo ainda. O governador Tião Viana está superbem avaliado, mas é hora de trabalhar e aproveitar um ano que não tem eleição, que é o ano de 2013.
Qual expectativa agora com a gestão do Marcus Alexandre? O que você acha que deve ser a marca do trabalho dele
A situação das prefeituras no Brasil hoje é crítica. Falta de recursos e capacidade de investimentos baixa. Rio Branco é uma das exceções. Ela tem falta de recursos, mas está com a casa arrumada. Isso é bom e ruim. Mas para quem quer fazer um bom trabalho, isso é ótimo. Porque, com Angelim, a gente arrumou a prefeitura de Rio Branco. Ela tem capacidade de ter financiamento. Está adimplente para assinar convênios, para receber projetos em parcerias com o governo do estado e com o governo federal. E isso é raro, inclusive fora do Acre. Agora, a situação das cidades, em todo o país, é bastante preocupante. O Brasil está deixando de ser um país rural para ser um país urbano, com 84% da população brasileira nas cidades. E as cidades estão cada dia mais insustentáveis. A qualidade de vida não tem melhorado no geral. Rio Branco hoje, uma cidade com metade da população do Acre, tem desafios enormes para vencer.
A capital acreana é uma referência para o Brasil… E começa a se desenhar como cidade que leva em conta o planejamento urbanístico, referência de cidade com parques, que cuida bem dos espaços públicos, como praças, ao mesmo tempo em que prioriza aquilo que é essencial, como saúde e educação. Ainda assim, ela vive situações que são enormes desafios a serem vencidos, que são áreas de muita pobreza, de muita ausência de serviços públicos. E acho que o trabalho que o governador Tião Viana vem fazendo com o programa Ruas do Povo, com saneamento, é um grande aliado dos próximos anos para o crescimento e desenvolvimento de Rio Branco. Penso que o Marcus Alexandre é uma pessoa que tem estrela. Ele está no lugar certo, na hora certa. É um engenheiro e é uma pessoa preparada. Ele nos ajudou a promover as grandes mudanças no Acre e
O que o senhor considera, do ponto de vista social, um desafio para Rio Branco?
O maior desafio hoje de Rio Branco é cuidar dos mais pobres. Cuidar das nossas crianças e dos nossos idosos. Toda família hoje tem um idoso em casa, que é um presente de Deus, um presente da vida. Mas para algumas famílias passou a ser um problema. A questão dos idosos não está nos orçamentos das prefeituras, dos governos estaduais e nem do governo federal como deveria. Esse, para mim, é o maior desafio que temos. Diferente de outros países da Europa, que ficaram ricos e a população envelheceu, o Brasil está envelhecendo e a gente segue sendo um país pobre. E essa equação não fecha. Temos que ter uma dedicação com nossos idosos. Pensar nas pessoas, cuidar de pessoas, cuidar dos idosos e dar oportunidade para a juventude. É isso que Rio Branco precisa.
Quando se fala em cidade sustentável, um dos grandes temas hoje em debate é a questão da mobilidade urbana. Como trabalhar essa questão?
Essa é uma área que gosto muito, a mobilidade urbana. Temos hoje, talvez, o maior desafio dos prefeitos brasileiros, que é saber como lidar com a mobilidade urbana. E Rio Branco não é diferente das outras cidades. Fizemos enormes avenidas, mas a renda da população cresceu, o padrão de vida melhorou e todo mundo ganhou o direito de ter um transporte próprio, já que os transportes públicos são muito deficitários. Para mim, é preciso uma mudança radical na mobilidade urbana. Esse é o maior desafio colocado, na minha percepção, ao prefeito Marcus Alexandre. Se convidado, espero dar minha contribuição para superarmos esse desafio. Rio Branco funciona hoje com um desenho que fiz ainda como prefeito, há 20 anos. Está na hora de mudar esse desenho. Seja no sentido do trânsito nas ruas, seja na funcionalidade. O transporte das pessoas tem que ser público, coletivo e de qualidade. É um desafio para a gente começar a trabalhar agora
Como fazer isso?
Primeiro, eu acho que tem solução. E ela não é somente mais obra e mais dinheiro. É com inteligência. Entendendo a cidade como algo orgânico e vivo. Tem os centros e bairros, o que é novo – Marcus Alexandre citou isso e nós precisamos aprofundar. É preciso conhecer a vida da cidade. O desafio nosso é construir a Rio Branco sustentável. Fazer um plano que não termina com Marcus Alexandre, mas que possa ser colocado ao longo do tempo. A gente precisa construir a base dessa Rio Branco sustentável, que implique necessariamente em melhoria da qualidade de vida para todos.
Todos nós temos que descer do palanque. A cidade precisa ser reunificada depois dessa eleição, que já passou. É hora de trabalhar e pensar o conjunto. Temos que trabalhar para todo mundo, inclusive para quem não votou na gente. E deposito minha confiança de que isso vai acontecer porque o Marcus Alexandre tem dito – e eu reafirmo aqui: vou governar da mesma maneira que eu fiz a campanha, com as pessoas, perto delas. Indo nos lugares aonde tem a maior necessidade. Então, só resta para mim, desejar boa sorte a Marcus Alexandre e dizer que, se convidado, vou ajudar de corpo e alma nessa parte do planejamento estratégico, da gestão, da definição de prioridades. É uma área que eu espero poder dar minha contribuição. Porque eu tenho muito amor por Rio Branco.