O Brasil enfrenta seu pior momento como líder global na agenda do meio ambiente. O país é visto com desconfiança por boa parte da comunidade internacional. A estreia do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira, dia 24, ocorre depois dele protagonizar desagradáveis embates com chefes de Estado e fazer duras críticas às organizações não-governamentais e representantes dos povos indígenas.
É a primeira vez que um chefe de Estado do Brasil é recebido na ONU sob fortes suspeitas e em clima de tensão com outras nações. A ação do presidente brasileiro é alvo de questionamentos da mídia global, que o apelidou de “mini-Trump” e o acusa de liderar um governo chamado de omisso diante do aumento das queimadas e do desmatamento na floresta amazônica.
Não há precedentes para a rejeição da mídia ao papel do presidente do Brasil. No domingo, o jornal New York Times abordou a possibilidade de Bolsonaro ser processado pelo Tribunal Internacional de Haia como “ecocida” – o crime de destruição em larga escala do meio ambiente.
O prejuízo à imagem do país é grave e as dúvidas e suspeitas sobre a atuação do líder brasileiro são desconfortáveis. Nem sempre foi assim. Em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou ao mundo sob forte expectativa e curiosidade de outros colegas estrangeiros. Fo aplaudido ao pedir uma “cruzada” dos países ricos contra a fome, citando Ghandi e usando como exemplo o programa Fome Zero.
“Nesses nove meses como presidente do Brasil, tenho dialogado com líderes de todos os continentes”, disse Lula, diante de representantes dos 193 países que integram a ONU, em discurso proferido em 23 de setembro de 2003. “Percebo nos meus interlocutores forte preocupação com a defesa e o fortalecimento do multilateralismo”. Um contraste com Bolsonaro, que chamou o presidente francês Emmanuel Macron de mentiroso e desdenhou da perda do pai da ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet.
Em relação à estreia de Dilma Rousseff na ONU, em 21 de setembro de 2011, a participação de Bolsonaro torna-se ainda mais constrangedora. Dilma falou como a primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral, tratando dos efeitos da crise econômica de 2008 sobre a humanidade e dos 205 milhões de desempregados em todo o planeta. Foi aplaudida após concluir um discurso de 24 minutos em que tratou do papel da mulher e da importância dos valores da democracia, da justiça, dos direitos humanos e da liberdade.
“Nós, mulheres, sabemos, mais que ninguém, que o desemprego não é apenas uma estatística. Golpeia as famílias, nossos filhos e nossos maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor”, disse a presidenta. Bolsonaro é lembrado pela imprensa estrangeira por suas declarações contra a mulher, pelos elogios à ditadura militar e o voto no processo de impeachment de Dilma em que saúda o torturador Carlos Alberto Brilhante Ulstra.
Confira a íntegra dos discursos dos ex-presidentes Lula e Dilma