Um quarto de toda a renda no Brasil está nas mãos de apenas 1% da população. “No Brasil, as desigualdades de renda e patrimônio são imensas e duradouras. Só aqui e no Qatar, o país mais rico do mundo por habitante, graças a suas reservas de gás, 1% do topo da população se apropria de mais de 1/4 da renda total”, aponta a pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Maria Hermínia Tavares de Almeida.
Em artigo publicado nesta quinta-feira (19) no jornal Folha de S. Paulo, a pesquisadora alerta que sem políticas de redistribuição de renda dos mais afortunados para os mais despossuídos, o Brasil precisaria “crescer a taxas muito elevadas durante muito tempo para que a pobreza fosse vencida”.
Maria Hermínia Tavares de Almeida cita o estudo “Uma história de desigualdade – a concentração de renda entre os ricos no Brasil, 1926-2013”, do sociólogo Pedro Ferreira de Souza, segundo o qual cerca de 1,4 milhão de brasileiros concentram a mesma renda que outros 50% da população, ou seja, 102 milhões de pessoas.
Olho do furacão
Se a desigualdade é uma herança de 519 anos e Brasil, é importante lembrar que ela registrou quedas recordes durante os 13 anos de governos petistas, mas o fosso entre ricos e pobres voltou a se aprofundar nos últimos anos, lembra o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
“Enquanto os mais ricos concentram cada vez mais riqueza no Brasil, os mais pobres seguem sofrendo com a presença de governos precários como o de Temer e de Bolsonaro. No olho do furação da crise, o povo está sem emprego e renda. Com a Reforma da Previdência, a desigualdade social no país irá se agravar ainda mais”, alerta o senado Humberto Costa.
Precarização
A retomada da curva ascendente das diferenças entre ricos e pobres no Brasil é comprovada também por uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE): no primeiro trimestre de 2019, a desigualdade de renda entre os brasileiros atingiu o maior patamar já registrado desde que começou a ser medida.
“A FGV é clara ao afirmar que esse boom negativo só ocorreu devido à precarização do mercado de trabalho e da falta de reajuste real para o salário mínimo”, lembra Humberto.
As caras da desigualdade
A pesquisadora Maria Hermínia Tavares de Almeida lembra que a desigualdade de renda vai muito além da diferença da quantidade de dinheiro ao alcance de cada brasileiro e brasileira.
“A concentração de renda cria seus próprios mecanismos de perpetuação. Ela também se associa e com frequência reforça outras expressões de desigualdade: no padrão dos serviços sociais recebidos por uns e outros, nos equipamentos urbanos disponíveis, no acesso à Justiça, no tratamento que merecem dos agentes públicos, no respeito aos direitos individuais —tudo confluindo para uma convivência social embrutecida e violenta”, afirma ela em seu artigo.