Legenda: Regina: a cultura do babaçu
pode gerar muitas riquezas, mas é preciso preservar as palmeirasCyntia Campos/ PT no Senado
A importância da cultura tradicional do babaçu no Nordeste, especialmente para o Piauí, foi lembrada pela senadora Regina Sousa (PT-PI) no dia em que seu estado comemora o Dia do Piauí, data do início dos combates locais contra a ocupação portuguesa no processo de Independência do Brasil.
A economia do babaçu tem um papel histórico na geração de renda para as populações locais. O ofício da quebradeira de coco é uma ocupação tradicional e ela mesma, Regina Sousa, exerceu a atividade na infância. “É um trabalho difícil, árduo, feito principalmente pelas mulheres donas de casa, que tiram daí a sua subsistência”, relembrou a senadora, em pronunciamento ao plenário, nesta quarta-feira (19).
Atualmente, novas formas de beneficiamento e novos usos do coco babaçu têm apontado perspectivas mais otimistas, mas ainda há muito o que se avançar. No Piauí, Pará, Tocantins e Maranhão mais de 300 mil mulheres ainda sobrevivem do babaçu. “Embora o aproveitamento do babaçu tenha evoluído, a sua extração ainda é muito rudimentar, ainda é do mesmo jeito de quando eu quebrava: com um machado e um cacete de madeira, com o qual a gente tira a amêndoa do coco”, narrou Regina.
A riqueza potencial do babaçu
No aproveitamento do babaçu, a grande novidade foi a descoberta do valor nutritivo da massa do coco, chamada de mesocarpo (polpa), a partir de um trabalho da Pastoral da Criança coordenado por Zilda Arns. “Milhões de crianças nordestinas e de outros lugares foram salvas da desnutrição com a chamada multimistura” que leva a polpa do coco babaçu, relatou a senadora.
Hoje, o coco babaçu está presente na merenda escolar da região, distribuído pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “Espero que o governo Temer não acabe com isso, porque é importante para as crianças e para o produtor local”, ressaltou Regina. A obrigação de compra dos alimentos para a merenda escolar nas localidades que vão ser beneficiadas, como está nas regras do PNAE, faz a economia girar.
A descoberta feita pela Pastoral da Criança também contribuiu para elevar o valor do produto, que era vendido pelas quebradeiras de coco a preços irrisórios. O preço da massa extraída do coco hoje chega R$ 25 o quilo e o produto também pode ser utilizado para fazer chocolate, bolos e sorvetes. Além disso, a Universidade Federal do Piauí vem realizando uma experiência de produzir um azeite extravirgem extraído do coco babaçu. O produto já está no mercado local, ainda em pequena escala, mas fazendo muito sucesso.
Proteção para as palmeiras
“São muitas possibilidades oferecidas pelo babaçu ao nosso desenvolvimento econômico”, afirmou a senadora. O potencial de riqueza que a cultura do babaçu, porém, exige que regras bem definidas de proteção ambiental e que assegurem a proteção das palmeiras de babaçu. “As palmeiras estão sofrendo uma devastação enorme”, alertou Regina. A derrubada é consequência, principalmente, do avanço dos grandes canaviais.
A senadora Regina ressalta que uma das dificuldades na proteção do babaçu e outras palmeiras é que as áreas dominadas por elas não constituem um bioma, são áreas intermediárias. “Mas é preciso haver uma proteção para as palmeira”. Ela explicou que tanto o buriti quanto a carnaúba—outra palmeira típica do Piauí — preservam a umidade do solo. “Se você devasta, essa terra vai ficando seca, vai perdendo a sua umidade, vai perdendo os seus nutrientes”.
Babaçu livre
Outra luta fundamental é assegurar às mulheres quebradeiras de coco — as pioneiras de uma atividade econômica que agora se revela tão promissora — o acesso às palmeiras de onde retiram a matéria prima de seu ofício.
Muitas propriedades rurais do Piauí e Maranhão impedem que elas entrem para retirar o coco, que apodrece nas palmeiras, já que essas fazendas se dedicam a outras atividades. As quebradeiras querem que a legislação assegure esse acesso, por meio do que já está sendo chamada de Lei do Babaçu Livre.