Rui Falcão aposta na política de reserva de vagas para pessoas com menos de 29 anos para dar nova vida ao PTApesar dos constantes ataques sofridos pelo partido, o presidente do PT, Rui Falcão, mantém-se esperançoso. Ou “um otimista realista”, como diz o dirigente, que está no cargo há quatro anos.“Não é a primeira vez que somos alvo. O PT ajudou a construir a democracia no Brasil e tem muitos compromissos com o futuro do país”.
Questionado sobre o envelhecimento dos quadros petistas, Rui aposta na política de reserva de vagas para pessoas com menos de 29 anos para dar nova vida ao PT. “Estamos fazendo um grande esforço de renovação”.
Formado em Direito e com anos de experiência como jornalista, ele repete o discurso de Dilma ao se referir aos “panelaços” contra o governo e alega que são parte da democracia. Critica o discurso da oposição e retruca: “A melhor panela é a cheia, que o trabalhador passou a ter depois que ganhamos a eleição, em 2002”.
Esse clima de insatisfação, que se reflete nas pesquisas de opinião, pode ser revertido?
Com certeza. São momentos de dificuldades passageiras. Tivemos uma sucessão de fatos negativos do ponto de vista da opinião pública no início do ano: aumento dos combustíveis, inflação sazonal de alimentos, a propaganda cotidiana de que ia haver racionamento de energia, e isso não houve, a falta de água em São Paulo e em outros lugares, aumento da taxa de juros. Em conjunto, tudo isso provocou mau humor na sociedade na figura daquela que é encarada como a responsável por tudo, a presidente da República, e do partido dela, o PT, além das denúncias sucessivas direcionadas a um único partido.
Acho que isso é passageiro. Na medida em que a economia vá retomando, que o crescimento se restabeleça, na medida em que as denúncias vão sendo esclarecidas, que nossa ação militante vai dialogando mais com as pessoas, nós tendemos a recuperar tanto a popularidade da presidenta como a popularidade do PT. E é para isso que nós estamos trabalhando.
Há uma cobrança de simpatizantes para que o PT seja mais contundente na resposta às manifestações e aos “panelaços”.
Nosso programa de televisão foi no sentido de responder aos ataques recebidos. A trajetória do PT, a trajetória de mudanças, a fala do Lula, a minha fala, o exemplo que estamos dando para os outros partidos com essa questão do financiamento empresarial. Mas não podemos entrar numa guerra para ver quem bate panela mais alto.
Temos muito apoio nas redes sociais. Há liberdade para as pessoas se manifestarem no país a cada pronunciamento. Quando a presidenta diz que as manifestações são democráticas, é o protesto de alguém que não está satisfeito conosco. O que não podemos admitir é violência, quebradeira. Acho ruim pessoas se manifestarem com panelas em vez de argumentos, mas é um direito. A melhor panela é a cheia, que o trabalhador passou a ter depois que ganhamos a eleição, em 2002.
Fala-se com certeza quase absoluta que Lula sai candidato à Presidência em 2018. Isso é fato?
Não existe essa decisão. Existe uma vontade muito grande de toda a militância. E grande parte dos ataques que se dirigem a nós hoje, contra Dilma e também contra ele, é uma tentativa de impedir a candidatura dele em 2018, que nem está resolvida ainda. Mas há um temor de que sua liderança se apresente em 2018 e signifique a continuidade das grandes transformações que estamos fazendo desde 2002.
Não seria importante o Brasil sair dessa polarização entre tucanos e petistas?
Acho que, se o voto distrital se impuser, aí sim vai se criar um sistema bipartidário. É uma das razões pelas quais nós preferimos o voto proporcional e as listas partidárias, que dão margem para se apresentarem outras variantes.
O mais importante é que, no debate entre PT e PSDB, o PSDB possa aclarar melhor suas ideias e não simplesmente fazer campanha do contra, que, em alguns momentos, rescende ao udenismo.
O senhor acredita que o PT pode dar a volta por cima na opinião pública?
Nós já superamos outros momentos difíceis, como em 2005. Fomos alvo de muitos ataques, como em 1989, quando chegaram a vestir uma camiseta do PT no Abílio Diniz, que tinha sido sequestrado; teve o episódio em que um policial atirou nos sem-terra e acusaram dois deputados do PT como autores da agressão; essa matéria ridícula da revista ‘Época’ agora, tentando envolver o Lula. Não é a primeira vez que somos alvo de ataques.
Muitas pessoas falam em um processo de decadência do PT, mas o senhor se mantém otimista.
Eu sou um otimista realista. Sou tão otimista que não quis me candidatar a deputado, para me dedicar totalmente a isso que estou fazendo. A gente não faz política só no parlamento.
Além do fim do financiamento empresarial aos diretórios do PT, alguma outra medida de impacto vai ser anunciada no congresso do partido, em junho?
Queremos produzir um texto grande, apresentando a forma como estamos pensando o Brasil dos próximos anos. Isso não está feito ainda, precisa ser elaborado a várias mãos. Mas pode ser uma coisa de impacto.
O PT tem lugar no Brasil dos próximos anos?
Com certeza. Assim como o PT ajudou a construir a democracia no Brasil, tem muitos compromissos com o futuro do nosso país. Estamos colocando muita fé no congresso do partido.
Episódios como o mensalão e a Operação Lava Jato não desgastam a imagem do partido?
Provocaram certo desgaste, sim. No episódio do mensalão, a Ação Penal 470, houve julgamento político, com condenações excessivas, inclusive envolvendo pessoas que não são do PT. Uma foi condenada a 14 anos, pena superior a penas de homicidas. Houve politização no processo, tanto que não expulsamos companheiros.
No caso da Petrobras, defendemos que os fatos que lá ocorreram sejam investigados até as últimas consequências. Tanto é que o relator da CPI da Petrobras é deputado do PT. Mas o que não queremos é vazamentos seletivos, como tem ocorrido desde o início da apuração.
Queremos que a Justiça seja igual para todos, que os culpados ou indiciados tenham direito a ampla defesa, que não haja excessos para forçar delações e que elas não sejam tomadas como provas, e sim como indícios. E, ao final do processo, com ampla defesa, os condenados sofram os rigores da lei.
O senhor afirmou no programa de televisão do PT, semana passada, que militantes condenados serão expulsos do partido.
A minha fala foi a seguinte: aqueles que cometerem maus feitos ou ilegalidades não continuarão nas nossas fileiras. Temos um processo na comissão de ética e nela as pessoas têm direito de defesa, a não ser em casos previstos no estatuto em que se faz a expulsão sumária.
Por exemplo: o prefeito (Mauro Henrique Chagas, PT) no interior do Rio de Janeiro, flagrado pegando propina, foi expulso sumariamente. Ali, não há o que alegar. Nos outros casos, a pessoa é inquirida, apresenta sua defesa e nós temos três tipos de punição: advertência, suspensão e expulsão.
Há críticas de que o sr. demorou a agir em relação ao João Vaccari (ex-tesoureiro do PT). Continua acreditando na inocência dele?
Continuo acreditando na inocência dele e na de todos aqueles que são indiciados e inquiridos, porque há um princípio elementar do Direito, um princípio universal, que afirma que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário.
Como é possível compatibilizar financiamento público com os valores colossais que vemos nas campanhas?
Somos a favor de fixar tetos para as campanhas eleitorais, baratear custos. Uma das maneiras de baratear campanha é o financiamento público, o regramento dos partidos, a lista partidária para ter voto programático. Além disso, mais horário para o debate político, e não só para o programa eleitoral, como também o direito de antena que existe em vários países da Europa e a democratização dos meios de comunicação, que é uma maneira de contribuir para o esclarecimento do povo. As medidas de reforma política poderiam mudar a descrença da população nos processos de representação.
O PT não fica um pouco à margem com essa situação complexa de ter a Presidência da República e os ministérios, mas a articulação política e o Congresso estarem nas mãos do PMDB?
Temos há alguns anos o chamado governo de coalizão. O presidente é eleito e aqueles que te ajudam a elegê-lo obstaculizam as mudanças depois. É um modelo que precisa ser mudado, e a maneira é garantindo maioria àquele cujo programa é vitorioso nas urnas.
Como você vive num governo de coalizão, essa aliança passa por vários modelos. O mais recente é delegar ao presidente da República as tarefas de articulação política, que não são feitas exclusivamente por ele e que está restrito também a um programa de governo que ele não pode mudar. O fato de ter dois presidentes do mesmo partido é resultado da eleição, desse modelo que temos e queremos mudar. Há conflito aparente entre o presidente do Senado e o da Câmara. Você vê o presidente do Senado declarar que o projeto de terceirização, como saiu da Câmara, não passará no Senado. São divergências desse modelo que é preciso administrar com cuidado, e o PT tem interlocução direta com a presidenta, os ministros e o vice-presidente da República.