Ricardo Stuckert

Governo Lula anuncia nova hidrovia do Velho Chico, com um total de 1.371 quilômetros navegáveis, ligando Minas a Pernambuco
O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) do governo Lula anunciou recentemente a Nova Hidrovia do São Francisco com um total de 1.371 milhas navegáveis que permitirão a retomada da navegação comercial de Pirapora, em Minas Gerais (MG), até Petrolina, em Pernambuco (PE).
De acordo com o MPor, esse tipo de operação não ocorre no Velho Chico desde 2012, em função do assoreamento de trechos desse rio essencial para a integração nacional.
O Rio São Francisco é fundamental para a integração e o desenvolvimento do Brasil, já que os 2,8 mil quilômetros de extensão do Velho Chico banham 505 municípios brasileiros e abastecem 11,4 milhões de pessoas. Nesse caminho ascendente do Sudeste ao Nordeste, há um grande potencial para o transporte de cargas em escala de forma mais eficiente, econômica e sustentável.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, garante que existe um grande interesse para a execução do projeto.”Grandes grupos já manifestaram interesse em fazer essa operação hidroviária. Vamos trabalhar muito nos próximos meses para garantir a execução do projeto, que é fundamental para o fortalecimento da logística brasileira e para o desenvolvimento do país, principalmente da Região Nordeste”.
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Potencial hidroviário
Segundo Otto Luiz Burlier, diretor do Departamento de Navegação e Fomento da Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação do MPor, a hidrovia do São Francisco é a forma mais sustentável de transporte de cargas e um ganho para a logística da região. “A Nova Hidrovia do São Francisco tem potencial para gerar mais movimentação de cargas entre os estados do Nordeste de forma muito mais barata e menos poluente do que por meio de uma rodovia”.
O Ministério de Portos e Aeroportos tem investido fortemente na agenda de concessões hidroviárias por causa do potencial do Brasil para esse modal e pela urgência de garantir transportes de cargas mais sustentáveis e que contribuam para mitigar as mudanças climáticas.
Um trem de embarque hidroviário pode substituir até 1,2 milhão de trens rodoviários, economizando significativamente na emissão de CO₂ e sem desgaste das rodovias. Além disso, a energia consumida pelas embarcações é bem menor, tornando essa solução uma das mais econômicas e sustentáveis do mercado.
“A matriz logística brasileira é muito desigual, cerca de 70% das cargas movimentadas no país são por meio rodoviário. Precisamos aproveitar o potencial do Brasil. Temos cerca de 60 mil milhas navegáveis e apenas 20 mil são, de fato, aproveitados comercialmente”, defendeu Otto.
Retomada da navegação por etapas
Para iniciar o projeto, o MPor vai passar a gestão da hidrovia, atualmente sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), para a Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), autoridade portuária vinculada ao ministério.
Com a descentralização, que deverá ocorrer ainda em junho, o Codeba iniciará os estudos técnicos e específicos para a retomada da navegação. Em parceria com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a Codeba também realizará estudos para a concessão da Nova Hidrovia do São Francisco.
Devido à sua magnitude, o projeto foi dividido em três etapas. Todas elas preveem integração intermodal, por rodovias e ferrovias, o que contribuirá para aumentar a eficiência logística, promover a sustentabilidade e reduzir custos.
A primeira etapa com 577 quilômetros de extensão, sendo 525 navegáveis, ligará pelas águas de Juazeiro (BA) e Petrolina a Sobradinho (BA) e terminará em Ibotirama (BA). As cargas serão escoadas por rodovias até o Porto de Aratu-Candeias, na Baía de Todos os Santos (BA).
A previsão é que cinco milhões de toneladas de cargas passem pelo trecho logo no primeiro ano. Para se ter ideia, o Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina, movimentou, por cabotagem, em 2024, pouco mais de 5 milhões de toneladas.
A segunda etapa terá 156 quilômetros entre Ibotirama e Bom Jesus da Lapa e Cariacá, na Bahia. Já a terceira etapa aumentou a hidrovia em 648 quilômetros e ligará Bom Jesus da Lapa e Cariacá a Pirapora, finalizando a integração Sudeste-Nordeste.
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Conexões da Nova Hidrovia
De acordo com o projeto há conexão, através da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), a maior do país, e com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), até os Portos de Ilhéus (BA), Porto Sul e Aratu-Candeias.
Pelo Velho Chico, saindo de Petrolina (PE), navegando em barcaças gesso agrícola – utilizado como fertilizante e condicionador de solo – gesso, gipsita, drywal e calcário em direção a Pirapora (MG), de onde seguirá para abastecer outros estados da região Sudeste. Esses produtos também terão como destino as divisões entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, área conhecida como MATOPIBA, de forte produção agrícola.
O açúcar e o óleo sairão de Juazeiro até Pirapora, para abastecer o Sudeste, e o MATOPIBA. O sal, extraído no Rio Grande do Norte, seguirá para Remanso (BA), onde encontrará o São Francisco, e descerá para Pirapora, rumo ao Sudeste. Já o café fará o caminho inverso: sairá de Pirapora em direção a Juazeiro e Petrolina, para abastecer o Nordeste.
Milho, soja, algodão, adubo e insumos agrícolas sairão via terrestre dos municípios baianos de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães rumo a Ibotirama. Seguirá, pela hidrovia, até Juazeiro, e depois poderá ser escolhido para o Porto de Aratu, em Salvador, por rodovia ou ferrovia.
Também estão previstas a construção de 17 Instalações Portuárias Públicas de Pequeno Porte, como IP4, que garantirão o transporte de cargas e passageiros nos estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas.
Do total, seis estão em fase de projeto e 11 em planejamento. Os editais para o IP4 de Petrolina e Juazeiro estão previstos para setembro, com início das obras em janeiro de 2026.