O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou na terça-feira (1°) que a produção industrial do país caiu mais 0,7% em setembro, assim como havia caído o mesmo tanto no mês anterior. O setor, hoje, produz 2,4% menos do que no início de 2020, antes da pandemia. Se comparar com maio de 2011, quando Dilma Rousseff governava o país, a redução da atividade é de 18,7%.
O setor alimentício é o que mais tem sentido a desaceleração: 2,9% de queda em setembro e 6,1% se considerar os últimos dois meses. Também a metalurgia produziu menos 7,9% na comparação com o mês anterior. Os números confirmam as previsões do economista Bruno Moretti, da Liderança do PT no Senado.
“Essa nova queda mostra a baixa sustentabilidade do crescimento da economia, que deve desacelerar no segundo semestre do ano. O nível da produção industrial ainda está abaixo do período pré-pandemia. O crescimento no primeiro semestre teve entre seus fatores explicativos o aumento da demanda em função das medidas pontuais do governo, como a liberação do FGTS e a antecipação do décimo terceiro. Contudo, a indústria vai perdendo fôlego à medida que tais ações cessam seus efeitos”.
Os tais efeitos de uma economia que não anda para frente foram sentidos pelos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Na ata da última reunião, realizada no último dia 26, eles concluem que a alta de juros, que segue em 13,75% ao ano, está sendo sentida na economia. A taxa Selic alta – uma tendência desde o início do ano passado – significa encarecimento do crédito e redução do consumo. A taxa usada como freio para segurar a inflação serve de referência para as demais taxas de juros da economia.
A inflação, que está no centro desse problema, deve fechar o ano em 5,61%, de acordo com as projeções oficiais, ou seja, acima da meta de 3,5% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Assim, os membros do Copom mantêm os juros altos, acreditando que uma redução, agora, poderia dificultar ainda mais o controle inflacionário. Faz sentido. Na série de 12 meses encerrada em setembro, o IPCA, que mede a inflação, teve um acumulado de 7,17%.
A piora na indústria, somada à inflação e juros em alta, traz um cenário difícil para o final do ano, como alertou, também, Bruno Moretti, ao apontar que o crescimento econômico, em parte de 2022, não era sustentável.
“Espera-se uma desaceleração da economia neste segundo semestre e, principalmente, em 2023, ante os efeitos defasados do aumento da Selic”, avalia. Bruno Moretti chama a atenção, ainda, para o grau de endividamento das famílias e das empresas, agravado pela inflação dos últimos 12 meses.
“O endividamento recorde das empresas manifesta o fracasso do governo Bolsonaro. Em parte, o endividamento das empresas reflete o elevado percentual de famílias endividadas e com dificuldades para pagar suas contas. Oito a cada 10 famílias estão endividadas, o que afeta, em última instância, as empresas. O governo Bolsonaro não apresentou programa consistente para resolver esta situação, tampouco foi capaz de induzir um crescimento sustentável da economia com recuperação estrutural dos rendimentos reais”, analisa o economista.
E para 2023?
São muitos os desafios para a virada do ano, especialmente para desarmar a chamada bomba fiscal, representada pelos precatórios e outros compromissos adiados pelo atual ocupante do Planalto, assim como pela conta do pacote de medidas eleitoreiras de Bolsonaro. Uma conta que vai cair no colo do próximo chefe da Nação, o presidente Lula.
O economista José Alexandre Scheinckman, da Universidade de Columbia (EUA), afirmou em entrevista nesta terça ao jornal O Globo que Lula “vai encontrar situação fiscal desastrosa” e terá que renegociar o Orçamento 2023 para acomodar despesas já planejadas, como a manutenção do auxílio de R$ 600,00 às famílias mais pobres.
Nas contas do relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), essas despesas anunciadas devem somar R$ 70 bilhões, que precisam ser “achados” na peça orçamentária. Integrantes da Campanha Lula trabalham com o valor de R$ 50 bilhões. A partir dessa semana, a equipe econômica do governo de transição inicia conversas sobre o Orçamento 2023 com o relator da matéria. O ex-governador do Piauí e senador eleito pelo estado, Wellington Dias (PT), foi encarregado por Lula de negociar o Orçamento de 2023 com o Congresso.
“Inicio a missão dada a mim ontem [31], em reunião com Lula, Alckmin e Gleisi Hoffman, para garantir a execução orçamentária de 2022 e a elaboração do orçamento de 2023, levando em conta o projeto vitorioso nas urnas. O presidente Lula nos orientou para que o nosso trabalho garanta as condições de uma transição e governabilidade com planejamento”, escreveu nas redes sociais o futuro senador.