O nosso potencial de crescimento e de retomar a ofensiva política é imenso: estamos acumulando forças e mobilizando centenas de milhares de pessoas.
Nas manifestações populares contra a ditadura militar, a partir das eleições de 1974, uma faixa com um verso da canção proibida Apesar de Você, do genial Chico Buarque, era erguida corajosamente: “amanhã vai ser outro dia”.
Começou como uma resistência de poucos à ditadura. Em poucos anos, o movimento cresceu. Adquiriu contornos de que a vitória contra os militares não somente era possível, como estava ao alcance da ação política da oposição.
Dois sintomas da vitória eram evidentes. Por um lado, o bloco da ditadura começou a rachar. Por outro, nós, os antagonistas, paulatinamente fomos nos unindo em uma tática comum.
Ontem não é igual a hoje. Inclusive porque, no passado, a alteração da correlação de forças durou alguns anos, enquanto hoje a dinâmica tem se revelado mais veloz. Especialmente a partir da divulgação da delação de Joesley Batista, no fatídico dia 17 de maio.
Nunca mais o governo Temer, que já amargava níveis descendentes de popularidade, seria o mesmo de antes. A partir dali, ficou definitivamente claro que o bloco do golpe do impeachment de Dilma rachou.
Por um lado, a parte alinhada ao governo Temer (PMDB e PSDB, principalmente) busca conquistar uma sobrevivência moribunda até 2018 por cima de pau e pedra. Por outro lado, a Rede Globo e parcelas influentes do judiciário partiram para um combate sem trégua a Temer, sequiosos por derrubá-lo e elegerem um novo presidente indiretamente, em verdadeiro golpe dentro do golpe.
O resultado deste antagonismo, por enquanto, é um momentâneo equilíbrio estático que não se sabe até quando dura – Temer balança, mas não cai.
Enquanto isso, a economia continua à deriva. Nem mesmo analistas econômicos do campo neoliberal acreditam mais na política econômica, a exemplo de Marcos Lisboa que há pouco apoiava o governo.
O grau zero de expectativas econômicas do governo e o equilíbrio estático político e institucional produzem uma situação de perigosa anomia. O Brasil não aguenta um governo cujo único objetivo é a aposta na sobrevivência até 2018.
Enquanto o bloco do golpe se divide e o único horizonte do governo Temer é a própria sobrevivência moribunda, as forças de oposição começam a crescer e ensaiam a possibilidade de uma ofensiva política. Amanhã há de ser outro dia.
Diante de tanta notícia ruim, é por demais alvissareiro o fato de as forças democráticas, populares e de esquerda do País terem conseguido concertar uma tática combativa ampla e comum, de conteúdo prático e, já se pode dizer, unitária. Isto é fundamental e certamente será decisivo.
Quais as linhas de força da tática? Todo mundo já sabe de cor: Fora Temer, contra as reformas trabalhista e da previdência e Diretas Já. Mas é preciso ir além. Sintetizando as consignas imediatas, emerge a ideia de conteúdo estratégico: a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte.
A deposição de Dilma e a crise das instituições da República expuseram a crua realidade que o pacto político da Constituição de 1988 se estilhaçou. O Brasil precisa instaurar um novo ciclo, democrático e popular, implementando as ansiadas – e sempre historicamente adiadas pelas forças do golpismo – reformas de base.
O nosso potencial de crescimento e de retomar a ofensiva política é imenso. Até arrisco o palpite que os primeiros frutos – em que pesem as dificuldades de um clima geral fomentado de aversão à política – começam a aparecer.
O melhor exemplo vem da campanha das #diretasjá. Quem participou dos comícios do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador certamente percebe que a campanha começa a desabrochar. Milhares de jovens, mulheres, negros e artistas acorrem aos comícios, que vêm se constituindo em atos alegres, politizados e muito bonitos.
Estamos acumulando forças e mobilizando centenas de milhares de pessoas. Mas com o aguçar da crise, nada impede que em novos comícios acorram milhões de cidadãs e cidadãos brasileiros. Este é o nosso propósito.
No mesmo compasso da campanha das diretas, sucede a luta contra as reformas neoliberais trabalhista e da previdência. As bancadas dos partidos de oposição são aguerridas; no entanto, a vitória virá de fora para dentro do parlamento. A sociedade já se posicionou contra as reformas, e os parlamentares da base política do governo percebem, quando no contato com os eleitores Brasil afora.
Muito vem sendo feito. As centrais sindicais convocaram a maior greve geral da história, em 28 de abril; trouxeram 100 mil trabalhadores a Brasília, em 24 de abril; e, por último, convocam uma nova greve geral para o próximo dia 30 de junho.
O Brasil vive um daqueles raros momentos históricos em que a tática permite a aproximação objetiva de metas estratégicas. Nos dias 1, 2 e 3 de junho, ocorreu o 6º congresso do PT. Ele fez bem ao partido e aprovamos por unanimidade a pauta que já mobiliza a sociedade.
Na ocasião, o congresso escolheu uma nova direção e presidente do partido. Tive a honra de concorrer, com base na confiança de diversos companheiros e tendências, recebendo uma votação expressiva – que credencia e consolida nosso bloco de forças no PT. No processo, foi eleita presidenta a companheira Gleisi Hoffmann, grande parceira de lutas no Senado. Não encarei o processo eleitoral como disputa, mas fraterno embate de ideias e programas. Sei que a companheira Gleisi tem tudo para dar um salto de qualidade no partido.