América do Sul, América Latina, União Europeia, China, Estados Unidos, África. A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros à Argentina e ao Uruguai vai muito além de marcar o retorno oficial do Brasil ao cenário internacional, de onde estava isolado por obra do desgoverno Bolsonaro. Representa também a retomada da busca permanente por novos mercados, novas parcerias, novas frentes para trocas comerciais, culturais e sociais, sejam bilaterais ou entre blocos econômicos.
Como bem resumiu o novo líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES): “Como já fez em seus governos anteriores, Lula retoma um alinhamento sul-americano de forte repercussão global e impacto na governança internacional, considerando nossa participação no comércio mundial e nossos valores democráticos e civilizatórios”.
Em seus vários discursos e encontros com a imprensa, Lula deu o tom deste Brasil ressuscitado ao destacar, como estratégia de crescimento, as linhas de financiamento do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que empresas brasileiras possam realizar obras de infra-estrutura em países da região, como o gasoduto para explorar a reserva de gás xisto da Argentina e uma ponte ligando o Uruguai ao Brasil.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), elogiou: “Com Lula, o BNDES voltará a ser um banco de fomento. Com isso, todos ganham! O papel do BNDES é promover investimentos e com isso ajudar a gerar emprego e renda para os brasileiros e fortalecer o país”, afirmou.
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) aproveitou para desmentir uma mentira recorrente disseminada por apoiadores da gestão anterior. “A máquina de fake news bolsonarista não para. Eles seguem espalhando mentiras sobre os empréstimos do BNDES. Mas você sabia que o banco só financia empresas nacionais? Difundam a verdade”, convidou, em postagem de cards do governo federal explicando que o banco financia empresas brasileiras contratadas para construir no exterior com mão-de-obra brasileira e insumos nacionais, gerando emprego no país e impulsionando a indústria do Brasil, sempre com garantias criteriosas e seguro para os raros casos de inadimplência dos valores parcelados.
Outra frente de trabalho de Lula foi na área do meio ambiente, como destacou o senador Paulo Rocha (PA), líder do PT no Senado. “Lula empreendeu esforços para o apoio de Alberto Fernández para a candidatura de Belém como sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), a ser realizada em 2025”, comemorou, mencionando a declaração conjunta em que a capital paraense recebe o apoio dos países da região para sediar a próxima reunião mundial sobre o clima.
Celac e integração
O ponto de partida para o arranque do novo país, e evento mais significativo dos três dias de agenda intensa, foi o retorno do Brasil à Celac, a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos. Durante a VII Cúpula de Chefes e Chefes de Estado e de Governo da entidade, realizada terça-feira (24) em Buenos Aires, Lula foi saudado como o irmão mais velho que volta à família depois de um longo período.
O presidente argentino, Alberto Fernández, foi preciso: “Uma Celac sem o Brasil é muito mais vazia”. Para Lula, o objetivo é expandir a influência da região no mundo. “Vim para a Argentina não só para participar da Celac, mas também para dizer que o Brasil está de volta. Vamos juntos recriar e fortalecer o Mercosul, a Unasul. Sozinhos somos fracos. Juntos, podemos crescer e desenvolver a região”, afirmou. “Darcy Ribeiro foi dos primeiros a falar da nossa unidade na diversidade e a apontar a contribuição civilizatória que a nossa região tem a dar para o mundo. É com esse sentimento que o Brasil regressa à Celac, com a sensação de quem se reencontra consigo mesmo”, completou.
E o trabalho começou ali mesmo. Além de acordos firmados com a Argentina e Uruguai — onde recebeu inclusive uma homenagem pela atuação em defesa do meio ambiente e discursou para uma praça lotada de apoiadores —, Lula manteve encontros reservados com autoridades de vários países e organismos internacionais como o diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), Qu Dongyu; o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel; o presidente de Cuba, Díaz-Canel; e a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Mottley, entre outros.
União Europeia
Já no Brasil, Lula continuou nesta quinta-feira (26) retomando os laços do Brasil com o mundo. Por telefone, conversou com o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre um dos temas destacados por Lula no encontro com os vizinhos: o acordo do Mercosul com a União Europeia, que sofreu retrocessos após o desastre bolsonarista no cuidado com o meio ambiente e a Floresta Amazônica.
Para o presidente brasileiro, o acordo deve ser prioridade para o Mercosul, que agora ganha novo peso com o apoio do Brasil e sua participação efetiva nas negociações — o que não acontece há pelo menos quatro anos. Lula defendeu que uma conversa com a China também deve ser feita pelo bloco, e não por países de forma isolada. Ele está focado em convencer o presidente do Uruguai, Luiz Lacalle Pou, a desistir de um acordo bilateral em negociação com a China, o que poderia inviabilizar o Mercosul.
Na próxima semana, o acordo Mercosul-União Europeia será tratado também com o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, que fará uma visita oficial ao Brasil. E ainda no início de fevereiro, Lula viaja para os Estados Unidos para uma série de reuniões, com destaque para um encontro com o presidente Joe Biden na Casa Branca.
E é só o começo, já que o olhar do governo brasileiro também voltará a enxergar os países de África como parceiros. Lula avisou: “O Brasil está de volta”.