O julgamento da presidenta Dilma pelo plenário do Senado será iniciado na próxima semana, sob a presidência do ministro Lewandowski (no centro da foto), do STFEm artigo publicado na última sexta-feira (19) pleo site Brasil 247, o dirigente naccional do PT Wilmar Lacerda afirma sua convicção na derrota do golpe parlamentar travestido de impeachment. Lacerda, que é suplente do senador Cristóvam Buarque, lembra que ao decidir sobre a manutenção do mandato legítimo da presidenta Dilma, o Senado também estará decidindo se vai condenar uma inocente. “Trata-se, na realidade, de absolver a democracia, de respeitar a vontade popular, que rejeita os golpistas e quer se manifestar”, pondera o dirigente.
Para Lacerda, o Senado estaria se autoderrotando de aceitasse o golpe.
Lei a íntegra do artigo:
O Brasil vencerá – por Wilmar Lacerda
Muitos acham que o golpe já é vitorioso. Seduzidos pela mídia conservadora que apoia maciçamente o atentado à democracia, consideram que sua consumação é só uma questão formal, uma questão de tempo.
Discordo. Tenho a convicção, ao contrário, de que o golpe será derrotado.
Na realidade, do ponto de vista moral, ético, o golpe já está derrotado. No mundo inteiro sabem perfeitamente que esse impeachment sem crime de responsabilidade é um golpe dado por um grupo de políticos acusados de corrupção que deseja sacrificar uma presidenta reconhecidamente honesta para tentar se salvar das investigações. É o “mundo ao contrário”, como definiu bem o Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro. Uma total inversão de valores éticos.
A “assembleia–geral de bandidos, presidida por um bandido”, como denominou o escritor português Miguel Sousa Tavares a sessão da Câmara dos Deputados que iniciou o atentado à democracia, desnudou ao mundo as entranhas malcheirosas de um golpe feito com claro desvio de poder, num ato de vingança política de Eduardo Cunha.
Ninguém, em todo o planeta, reconhece legitimidade nesse processo golpista. Na realidade, o golpe envergonha o Brasil perante o mundo. Transformaram-nos, de novo, numa republiqueta de bananas, objeto de chacotas e sem nenhuma credibilidade internacional. O golpe apequenou o Brasil.
Nas Olimpíadas do Rio, que só conseguimos graças ao prestígio mundial que o Brasil tinha com Lula, a cerimônia de abertura contou com a presença de apenas 18 chefes de Estado, sendo que muitos deles vieram por dever de ofício, pois são membros do Comitê Olímpico Internacional. Nas Olimpíadas de Londres, vieram mais de 90. Nenhum chefe de Estado foi cumprimentar o Usurpador, que ficou lá escondido, encolhido, com medo das vaias dos populares e do desprezo da comunidade internacional.
O pior, contudo, é que o governo golpista faz um esforço monumental para tornar sua situação mais difícil.
Agora mesmo, o chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, denunciou que José Serra e FHC tentaram comprar o voto uruguaio de modo a impedir a passagem da presidência pro tempore do Mercosul para a Venezuela. O chanceler do Uruguai fez essa denúncia oficialmente numa reunião da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara dos Deputados daquele país. É assunto sério. Um grave escândalo internacional.
Parece que os golpistas desconhecem limites éticos em suas ações, domésticas e internacionais. Isso suscita uma questão: se eles tentaram comprar o voto de um país, o que estariam fazendo por aqui? Parte do gigantesco déficit fiscal previsto não estaria destinada à compra de consciências? A irresponsabilidade fiscal do golpe não estaria combinada com uma grosseira irresponsabilidade política?
Em 1997, ocorreu o grande escândalo da compra de votos para a emenda constitucional da reeleição que beneficiou FHC. Esse escândalo, como todos na época, foi abafado. Mas, e agora, como estão sendo negociados os votos dos senadores? Com o mesmo método que Serra tentou usar no Uruguai? Pode o destino da presidenta honesta ser decidido em esquemas fisiológicos e corruptos? Podem 54, 5 milhões votos serem cassados por quem não tem nenhum respeito pela democracia e nenhum compromisso com a ética?
Aqueles que votarem a favor do golpe serão condenados, em sentença irrecorrível, pela História. Terão o rótulo eterno de golpistas. Sofrerão a vergonha eterna dos que atentam contra a democracia. Mas não apenas isso. Pesará sobre eles a sombria dúvida: votaram em troca do quê?
O Brasil vive um dos mais dramáticos e perigosos momentos de sua história. Um momento que requer coragem e clareza de propósitos de todos nós. Um momento que não tolera enganos, traições e falta de compromisso com o país e sua democracia.
Na realidade, esse momento delicado do Brasil é, em grande parte, reflexo da grave crise mundial, que vem afetando todos os países do planeta, mesmo os mais desenvolvidos e sólidos. Com efeito, desde 2008, quando a crise foi deflagrada pela especulação financeira sem controle, que as maiores economias do globo buscam saídas para superar a estagnação e o desemprego que tanto afetam as suas populações. Num cenário político no qual predominam a instabilidade, crises de legitimidade dos sistemas de representação política e fortes questionamentos sobre as políticas de austeridade, os resultados, até agora, foram decepcionantes.
Assim, a situação do Brasil dista muito de ser única ou excepcional. Contudo, aqui se configurou excepcionalidade extremamente perigosa. Nossos golpistas vêm buscando uma saída para a crise pela via suicida do sacrifício daquilo que temos de mais precioso: a democracia.
O golpe quer desconstruir nossa democracia política, com o sacrifício do voto popular. E o golpe quer também desconstruir nossa incipiente democracia social, com o sacrifício dos mais pobres e dos direitos assegurados na Constituição de 1988.
Esse golpe duplo contra a democracia é ilusório beco sem saída. Não há salvação fora da democracia. A nossa presidenta costuma dizer que a democracia é o lado certo da História. Mas a democracia não é apenas o lado certo da História. A democracia é a única saída.
Por isso, eventual vitória do golpe seria uma vitória de Pirro. Nenhum golpe é vitorioso, principalmente quando consumado. Sua vitória seria a derrota do Senado. Seria a derrota da Justiça e das instituições. Seria, na realidade, a derrota do povo brasileiro. Seria a derrota do Brasil.
A presidenta Dilma, que, ao contrário de seus algozes, é honesta e compromissada com seu povo, oferece generosamente ao país a possibilidade real de superar a crise da única maneira viável e sólida: entregar seu destino ao voto popular. Somente o povo, em plebiscito, deve decidir soberanamente qual o rumo que o Brasil deverá tomar.
Por que os golpistas têm tanto medo do voto? Porque sabem que seu projeto de retirar direitos dos trabalhadores, dos aposentados, dos afrodescendentes, dos jovens, dos estudantes, das mulheres, jamais passaria pelo crivo das urnas. Eles sabem também que ninguém aprovaria a venda do pré-sal e do nosso patrimônio em eleições limpas. Nas ruas do país, ignoradas pelos golpistas, já fervilha a indignação contra os que atentam contra a democracia e seus direitos.
No entanto, estou confiante que nossas senadoras e nossos senadores saberão votar de acordo com os interesses maiores do país e do seu povo.
Afinal, não se trata apenas de ter a decência de absolver uma presidenta que todos sabem ser honesta. Não se trata somente de repelir a grosseira injustiça de condenar uma inocente.
Trata-se de evitar que o Senado se autoderrote. Trata-se, na realidade, de absolver a democracia. Trata-se de respeitar a vontade popular, que rejeita os golpistas e quer se manifestar.
Tenho certeza que a democracia vencerá. Tenho certeza que o Brasil vencerá. Tenho a convicção de que o golpe já foi derrotado! A História o demonstrará!
Wilmar Lacerda é dirigente nacional do PT e suplente de senador pelo Distrito Federal