10 de maio de 2017.
Começa um dia que ficará em nossa história, para o bem ou para o mal. Ou, provavelmente, para ambos.
Pode ser o dia em que, pela ação de um homem, se desperte a consciência deste país de que tanto quanto a lei é a forma de regular a relação entre indivíduos, o arbítrio, a prepotência, a parcialidade da Justiça são um veneno que paralisa e apodrece o convívio social.
Não, não são polícias, promotores e juízes com seus martelos impiedosos que devem governar um povo.
Um povo, para sê-lo, governa-se. Se é tutelado, é colônia, não importa que a corte seja de pessoas nascidas aqui, mas cujas cabeças estão em um outro mundo diferente daquele onde habita a imensa maioria das pessoas.
Seu estranho senso de Justiça é impiedoso com os mortais, mas flexibilíssimo consigo mesmos: todos têm direito “natural”, pela condição de “excelência” que ostentam, a gordos vencimentos, a auxílios isso e aquilo, férias em dobro, escritórios mal ocultos de advocacia, a Miami, que substitui Paris na razão direta da corrosão de sua capacidade de perceber que a história humana não é construída nas vitrines opulentas e nas avenidas charmosas, mas nos becos, vielas, nas ruas modestas e na terra batida dos desvalidos.
Nunca antes na história deste país voltou-se tanto no tempo.
O que a alguns se afigura como novo, o ativismo judicial, é a reencarnação do poder das oligarquias que, embora degole alguns dos seus para legitimar-se, tudo faz e tudo pensa para manter intato o Brasil da exclusão, a pátria mãe esquálida que os nutre com farto leite, não importando que milhões de outros filhos sequem na escassez e na carência.
Os dois homens que se defrontarão, hoje, em Curitiba são emanações destes contingentes opostos, opostos porque os poucos privilegiados, mesmo seguindo sempre assim, não estão dispostos a que o colo da Pátria acolha também os outros.
De um lado, as hienas, que se alimentam e surgem ao cheiro da podriça, que dela se alimentam, que com ela justificam sua ferocidade e fome.
Do outro, um retirante, curtido nas dificuldades, parido das massas, formado nos embates e, que aprendeu, naquele fatídico debate com Collor, em 1989, que ser humilde e esperar Justiça é algo que não se consegue com timidez e reverência.
E que não há, quando nos tocam a honra e a dignidade, quando nos ameaça o arbítrio e a injustiça, quando nos acuam o poder e os beleguins da aristocracia, não senão que rugir.
Lula, hoje, está desafiado a ser, outra vez, um leão.