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O malfadado namoro entre Donald Trump e Jair Bolsonaro

Até quando continuaremos sendo envergonhados pela postura ideologizada ingênua e embaraçosa assumida pelo presidente do nosso país?
O malfadado namoro entre Donald Trump e Jair Bolsonaro

Foto: Alan Santos/PR

Seria cômico se não fosse trágico. Este aforismo talvez seja a melhor definição para a novela de quinta categoria que o presidente Jair Bolsonaro vem representando com o seu colega norte-americano Donald Trump, desde o início do ano. O último capítulo, encenado nesta semana, teve os Estados Unidos como protagonista. O país restaurou a cobrança das tarifas sobre as importações de aço e de alumínio do Brasil e da Argentina, trazendo prejuízos para as indústrias das duas nações sul americanas.

Desde que ocupou o gabinete presidencial no Palácio do Planalto, Bolsonaro não tem economizado nas juras de amor ao bilionário presidente americano. Para conquistar a afeição daquele que considera sua cara-metade, o chefe do Executivo brasileiro fez todas as concessões possíveis e recebeu apenas desprezo, como retribuição por tantos “agrados”. Inclusive, o chefe do Executivo da maior nação do planeta sequer cumpriu a única promessa que assumiu.

O apoio ao desejo brasileiro de ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), prometido por Trump em março, durante visita de Bolsonaro a Washington, virou fumaça em agosto. Datada do dia 28 daquele mês, carta do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao secretário-geral da OCDE informou que os EUA concordariam apenas com o ingresso da Argentina e da Romênia na instituição. No calendário americano, a entrada do Brasil talvez tenha ficado para as calendas gregas.

Em vão, o presidente brasileiro presenteou Donald Trump com a camisa 10 da nossa seleção canarinho. Também ficou sem contrapartida a decisão do governo Bolsonaro em retirar o nosso país voluntariamente do sistema de preferências para economias em desenvolvimento da Organização Mundial do Comércio (OMC). Outro agrado foi abrir uma cota de importação anual de 750 mil toneladas de trigo americano com tarifa zero.

Mais uma concessão de Bolsonaro foi ampliar de 600 milhões para 750 milhões de litros a cota anual de importação de etanol com tarifa reduzida, decisão que beneficia diretamente os EUA, país maior exportador mundial do combustível. Enquanto oferece mais essa vantagem para os norte-americanos, o governo federal prejudica os produtores nordestinos. A contrapartida que o Brasil esperava, e foi frustrada, era a liberação do mercado de açúcar norte-americano.

O Brasil não foi generoso apenas na área comercial. Contrariando a tradição de isenção e autonomia da diplomacia do nosso país, o governo Bolsonaro levou o Itamaraty a se alinhar às posições norte-americanas. Foi assim, por exemplo, quando o Brasil se uniu a EUA e Israel no voto contra a resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que condena o embargo econômico a Cuba. Outro gesto nesse sentido foi quando vergonhosamente o presidente brasileiro sinalizou que transferiria a nossa embaixada em Israel para Jerusalém.

O presidente Donald Trump também conseguiu que seu autodeclarado fã brasileiro, Bolsonaro, assinasse acordo que permite aos americanos utilizar a nossa base espacial de Alcântara, instalada no Maranhão, para lançar seus foguetes e satélites. Além disso, os americanos que viajarem para o Brasil não precisam mais requerer visto de entrada em nosso país. Até então, a isenção de visto somente era oferecida a países que concedessem o mesmo benefício para os nossos cidadãos.

O balanço do propalado “namoro” entre Bolsonaro e Trump só está rendendo prejuízos para o Brasil. Enquanto o presidente brasileiro age com subserviência e adota medidas sucessivas em prejuízo da economia e diplomacia do país, o norte-americano segue amealhando conquistas para os EUA. Até quando continuaremos sendo envergonhados pela postura ideologizada ingênua e embaraçosa assumida pelo presidente do nosso país?

Artigo originalmente publicado pela revista Carta Capital

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