ARTIGO

O que está em jogo com a venda da Embraer

Abrir mão do controle da Embraer vai significar também um grave ataque aos planos estratégicos na área da Defesa, que não sobrevive ou tem envergadura sem o desenvolvimento das aeronaves civis
O que está em jogo com a venda da Embraer

Foto: Divulgação

O sucesso no mercado de aviação mundial nos últimos anos da Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, despertou a cobiça dos norte-americanos. Hoje, a Embraer é líder mundial na fabricação de aviões (com até 150 assentos) usados na aviação regional. Por isso, a Boeing quer comprar a empresa para assumir a liderança na fabricação desses jatos.

Se confirmadas as tratativas para absorção da Embraer pela gigante de aviação norte-americana, o Brasil vai perder uma organização que detém tecnologia de aviões comerciais, executivos e militares. Além disso, vamos entregar toda nossa cadeia produtiva aeroespacial e acúmulo tecnológico e científico. No momento em que o desemprego paira sobre a cabeça dos brasileiros e a indústria nacional se definha hoje com 11% do PIB (há 10 anos eram 22%), vamos entregar o que temos de mais nobre do parque industrial brasileiro?

É bem verdade que um dos focos da Boeing é o setor de engenharia da Embraer, conhecida pelo corpo técnico jovem e altamente qualificado. Já a Boeing verá em cinco anos seus engenheiros aposentados. Na prática, a empresa quer pegar nossa expertise e gerar renda e empregos nos Estados Unidos, impulsionada pelo governo Trump, que está promovendo uma intensa internalização da produção.

[blockquote align=”none” author=””]Hoje, as fábricas de São José dos Campos, maior polo de desenvolvimento da empresa, Gavião Peixoto, Botucatu, Sorocaba e Taubaté empregam mais de 18 mil pessoas. E têm mais de seis mil engenheiros. Essa venda é criminosa e vai obrigar o fechamento de fábricas e de milhares vagas de empregos. E ocasionará impacto significativo na economia paulista, que perderá milhões na arrecadação.[/blockquote]

Abrir mão do controle da Embraer vai significar também um grave ataque aos planos estratégicos na área da Defesa, que não sobrevive ou tem envergadura sem o desenvolvimento das aeronaves civis. E com a venda o Brasil deixará de ter qualquer domínio sobre a tecnologia aeronáutica. Projetos importantíssimos na área da defesa nacional – como o FX-2, que está sendo desenvolvido em parceria com a empresa sueca SAAB e inclui transferência de tecnologia para a Embraer – provavelmente serão interrompidos. Também ficaremos sem saber quem vai controlar a fabricação dos cargueiros militares KC-390, desenvolvidos pela Aeronáutica e fabricados pela Embraer.

Além disso, o domínio estratégico do controle e da defesa aérea pode ficar comprometido. Isso porque a Embraer, por meio da subsidiária Atech, controla produtos e serviços nas áreas de sistemas, defesa, segurança e controle de tráfego aéreo.

O governo federal não é o controlador da Embraer, mas Michel Temer tem o poder de vetar mudanças estratégicas, a chamada “Golden Share”, e impedir que essa venda comprometa os programas militares do País e a fabricação de aviões comerciais e jatos executivos. Diante do histórico antinacional do governo Temer, que promove a passos largos a maior entrega do patrimônio nacional e das nossas riquezas naturais, é preciso cautela e atenção com relação aos planos de absorção.

Precisamos nos opor a essa venda criminosa do patrimônio e do conhecimento nacional desenvolvido desde os anos 50 pela Aeronáutica. Ao contrário dos EUA, que estão ameaçando taxar o aço brasileiro por motivos de “segurança nacional”, o governo Temer é dócil e submisso aos interesses estrangeiros e vende, a preços irrisórios, o patrimônio nacional e o nosso futuro.

Carlos Zarattini é deputado federal (PT-SP)
Luiz Marinho é presidente estadual do (PT-SP)

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