Gleisi: O governo interino que comanda o País, não tem sensibilidade em relação à causa das mulheres, tampouco conhece e entende sua históriaA senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em seu artigo semanal, afirma que não é fácil ser mulher nesta sociedade em que os poucos anos de avanços e conquistas “não conseguem apagar a cultura machista, patriarcal e violenta que sempre envolveu a história das mulheres na humanidade”.
Apesar de mudanças significativas na legislação, garantindo direitos, penalizando abusos, os ditos “costumes” ainda falam mais alto, apontam a senadora. “Cidadãs de segunda classe, extensão da propriedade do homem, incapacitadas para decidir, as mulheres sempre foram maltratadas e desrespeitadas”.
Segundo Gleisi, o governo interino que comanda o País, não tem sensibilidade em relação à causa das mulheres, tampouco conhece e entende sua história. Retrocedeu e não deixou nenhuma mulher para sua equipe do primeiro escalão.
“Vamos resistir, como sempre fizemos! O respeito e o empoderamento às mulheres é condição essencial à democracia! Sem eles, esta será sempre estuprada”, conclui.
Confira a íntegra do discurso:
Pelo fim da cultura do estupro – Gleisi Hoffmann
Não é fácil ser mulher nesta sociedade. Os poucos anos de avanços e conquistas que tivemos não conseguem apagar a cultura machista, patriarcal e violenta que sempre envolveu a história das mulheres na humanidade.
Cidadãs de segunda classe, extensão da propriedade do homem, incapacitadas para decidir, as mulheres sempre foram maltratadas e desrespeitadas. Só isso pode explicar os casos bárbaros de estupro que estamos assistindo no Brasil, sendo o mais emblemático o do Rio de Janeiro em que mais de 30 homens abusaram de uma jovem de 16 anos, desacordada. Postaram fotos nas redes, fizeram comentários. A primeira ação do delegado do caso foi tentar minimizar, dizendo que precisava de mais evidências para saber se tinha sido caso de estupro!!! Ao ouvir a vítima novamente, o delegado fez-se acompanhar por mais três homens e quis saber se ela praticava sexo grupal!
É a velha tentativa de querer responsabilizar a vítima pelo crime. Afinal, se ela já tinha feito sexo em grupo, frequentava os bailes funks e não se vestia “decentemente”, o estupro estaria praticamente justificado. É bom lembrar que há muito pouco tempo livramos os nossos tribunais do argumento da “legítima defesa da honra” que permitiu o assassinato de muitas mulheres. Sempre surge, no final, a pergunta: “mas o que ela fez para merecer isso”?
A cultura prevalente é de que o homem pratique violência, com a finalidade de punir e corrigir comportamentos femininos que transgridem o papel esperado de mãe, esposa e dona de casa. “Culpa-se a vítima pela agressão, seja por não cumprir o papel doméstico que lhe foi atribuído, seja por ‘provocar’ a agressão dos homens nas ruas ou nos meios de transporte, por exibir seu corpo”, diz relatório do Mapa da Violência – homicídios de mulheres.
É injustificável, intolerável, que essa postura continue imperando entre nós. Ninguém ataca um homem porque ele anda sem camisa, mesmo que em praça pública.
Durante todo o final de semana as mulheres se mobilizaram, nas redes e nas ruas, mostrando indignação e cobrando atitude das autoridades. Os criminosos devem pagar, no Rio, no Piauí, em qualquer lugar. Pelo menos um avanço tivemos, o delegado machista não coordenará mais o caso, que agora fica a cargo da Delegacia da Criança e do Adolescente, comandada por uma mulher.
Penso que teremos tempos difíceis no Brasil daqui pra frente. O governo interino que comanda a Nação, não tem sensibilidade em relação à causa das mulheres, tampouco conhece e entende sua história. Retrocedeu e não deixou nenhuma mulher para sua equipe do primeiro escalão. É um recado claro: aqui vocês não terão vez!
Vamos resistir, como sempre fizemos! O respeito e o empoderamento às mulheres é condição essencial à democracia! Sem eles, esta será sempre estuprada!
Gleisi Hoffmann é Senadora pelo Paraná