Essa é uma das conclusões de um relatório do Boston Consulting Group (BCG), lançado no último mês de novembro. Nesse relatório, intitulado From Wealth to Well-being (Da Riqueza ao Bem-Estar), faz-se uma avaliação da capacidade dos países em transformar crescimento econômico e riqueza em efetivo bem-estar para a população. Pois bem, no grupo de 150 países avaliados, o Brasil foi o que mais se destacou, nesse aspecto.
Com efeito, o nosso país tirou a nota máxima no indicador de desenvolvimento recente (100,0) e também apresentou o maior coeficiente crescimento/bem-estar, para o período estudado pelo BCG (2006-2011). Assim, mesmo com um crescimento econômico comparativamente mediano, o Brasil ficou à frente de todos os países em geração recente de bem-estar. Caso o Brasil tivesse tido um desempenho na média mundial nesse coeficiente, precisaríamos ter aumentado nosso PIB per capita em 13,5 % ao ano, no período considerado, para termos os mesmos resultados qualitativos. A própria China, que aumentou seu PIB per capita em 12,5% ao ano, no mesmo período, ficou bem abaixo do Brasil, no que tange à geração de bem-estar, segundo o BCG.
Esse extraordinário desempenho qualitativo do Brasil, obtido, em boa parte, numa conjuntura de grave crise internacional, não aconteceu por acaso. Tampouco foi ele ocasionado pelos mecanismos impessoais do mercado ou inspirado por conselhos “técnicos” de agências de risco. Na realidade, o Brasil apresentou esse desempenho porque o nosso país, contrariando até mesmo a sua história econômica, tomou a decisão política de crescer distribuindo renda e oportunidades para todos. Com efeito, foi a corajosa implantação de um conjunto de programas e políticas sociais consistentes, como o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo, a inclusão bancária, o Minha Casa Minha Vida, o Prouni etc., que conferiu, ao recente crescimento brasileiro, essa marca social e política qualitativamente diferenciada.
Dessa maneira, o Brasil deu um primeiro salto em seu desenvolvimento socioeconômico. Conseguimos implantar um novo ciclo de desenvolvimento qualitativamente distinto, criar uma nova e volumosa classe média, reduzir substancialmente a pobreza extrema e construir um dinâmico mercado interno de consumo de massa. Nesse processo, consolidamos a jovem democracia brasileira e suas instituições de controle.
Mas isso não basta. Não se pode distribuir renda, de forma indefinida, apenas com o concurso dessas políticas sociais. Também não se pode crescer indefinidamente sem aumentar a competitividade da nossa economia, especialmente no campo industrial, e sem elevar expressivamente a nossa capacidade de produzir inovação tecnológica. O grande desafio estratégico do Brasil é, pois, aproveitar as vantagens comparativas do país, como a abundância de recursos naturais, o enorme potencial ambiental, a estrutura produtiva razoavelmente integrada e diversificada, o nosso perfil demográfico adequado e o acúmulo gerado por esse ciclo recente de desenvolvimento para construir, nessas paragens tropicais, uma economia verde e criativa e uma autêntica sociedade do conhecimento.
Portanto, se quisermos que esse novo ciclo de desenvolvimento do Brasil tenha sustentabilidade de longo prazo, temos de tomar outras decisões políticas que nos levem à superação desse grande desafio estratégico.
Pois bem, ao final do ano passado, o governo Dilma tomou, nesse sentido, uma decisão histórica: destinar todos os royalties dos contratos futuros do pré-sal à educação.
Não poderia haver decisão mais consistente. Com efeito, o investimento em educação, como bem reconhece o estudo do BCG, é o que mais repercute positivamente na sustentabilidade de longo prazo do desenvolvimento e em sua qualidade.
O estudo do BCG também reconhece claramente dois distintos grupos de países: aqueles que têm alta renda per capita e elevada capacidade de gerar bem-estar e aqueles que também têm alta renda per capita, mas baixa capacidade de criar bem-estar. No primeiro grupo, está a campeã do nível de bem-estar atual, a Noruega. No segundo, estão os países exportadores de petróleo.
Mas a Noruega também é um grande exportador de óleo. Acontece, porém, que esse país tomou uma decisão histórica que o fez seguir uma trajetória diferente daqueles outros países. Em 1990, o Parlamento norueguês criou um fundo soberano para investir parcimoniosamente a renda do petróleo com critérios intergeracionais, partindo do pressuposto que o petróleo é recurso finito e não-renovável. A renda do petróleo é, assim, solidamente investida em seguridade social, educação, etc.
Por outro lado, muitos outros países ricos em hidrocarbonetos preferiram gastar a renda do petróleo em consumo supérfluo de importados e na ampliação da máquina pública. Com isso, desperdiçaram a oportunidade de diversificar a economia, distribuir renda e aperfeiçoar suas instituições políticas. Tonaram-se parasitas de um recurso não-renovável.Transformaram-se em países que, mesmo quando conseguem atingir níveis altos de renda per capita, são incapazes de gerar bem-estar para todos.
Ora, a decisão de investir em educação nos coloca justamente numa trajetória semelhante a da Noruega, capaz de nos manter, no longo prazo, como o país que mais vem se destacando na conversão de crescimento econômico em bem-estar efetivo para toda a sua população. Ela significa incluir o país e toda a sua população nas utopias do futuro, transformando campos de petróleo em campos de novas possibilidades e potencialidades.
É, em suma, a decisão de dar um segundo e definitivo salto de qualidade em nosso desenvolvimento socioeconômico.