Rouco, tentando aparentar firmeza, isolado e com uma claque tímida e quase envergonhada, Michel Temer anunciou nesta quinta-feira (18) que não vai renunciar.
Com a base de apoio no Congresso esfacelada, até aqui seu maior trunfo para emplacar as reformas Trabalhista e da Previdência, Temer disse que a revelação de conversas gravadas clandestinamente “trouxe de volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada”.
Parece chantagem, e é. Até porque os fantasmas citados por ele jamais saíram de cena.
Quem ouve Temer falar sobre o risco de jogar no “lixo da história o trabalho feito em prol do país” para sair de “sua enorme recessão” poderia imaginar, talvez em outro Planeta, que sua gestão tem debaixo do braço índices chineses de crescimento. Não é bem assim.
De fato, a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, ficou em 4,08% em abril deste ano, ainda fora do centro da meta, mas bem inferior aos 9,2% registrado no mesmo mês do ano passado, quando a agenda no Congresso estava trancada pelas discussões do impeachment.
Economistas do mercado financeiro haviam reduzido, há pouco tempo, as projeções para o índice oficial de inflação neste ano, de 4,01% para 3,93%. Seria a décima queda semanal consecutiva para essa previsão.
As taxas de juros também caíram, de 14,15 há um ano para os atuais 12,15% ao ano – ainda uma das maiores do mundo (em 2012, o índice chegou a 7,14). Além disso, a taxa de desocupação continua em alta: segundo o IBGE, o país registra 14,2 milhões de desempregados no trimestre encerrado em março, número 14,9% superior ao trimestre anterior (outubro, novembro e dezembro de 2016). No ano passado, o PIB registrou a pior recessão da história, com queda de 3,6% da atividade econômica.
A expectativa de melhora era exatamente isto: uma expectativa.
Pesquisa recente do Datafolha mostrou que o número de brasileiros a esperar uma melhora nos índices econômicos subiu de 28% para 31%, e a expectativa de piora caiu de 41% para 31%.
Parte do mercado apostava na aprovação das reformas como condição básica para a retomada da atividade econômica, embora a relação não seja unanimidade entre especialistas.
Em entrevista recente ao site BBC Brasil, o professor do departamento de Direito de Cambridge Simon Deakin, especialista no impacto de leis trabalhistas sobre emprego e renda, disse não haver evidências de que mudanças nas formas de contrato criem empregos.
Em geral, afirmou, o afrouxamento dos controles sobre o trabalho temporário e em tempo parcial não só não leva necessariamente à criação de emprego como pode ter o efeito de reduzir o emprego na economia formal, já que estes postos de trabalhos ficam menos atraentes.
A aposta de Temer, além disso, parte de um pressuposto tão frágil quanto a estabilidade jamais alcançada por seu governo, apesar do esforço, este sim notável, de demonstrar que tudo corre bem. Com o facão da Lava Jato sobre a cabeça de alguns de seus principais auxiliares, e com indícios cada vez mais nítidos da participação de Temer em irregularidades, agora oficialmente sob investigação, era possível supor que o otimismo mambembe do mercado estivesse, de saída, vulnerável a qualquer espirro – quanto mais à suspeita de pagamento pelo silêncio de um ex-deputado encarcerado.
A queda na Bolsa e a disparada do dólar ao longo do dia são sintomáticas da fragilidade deste pacto. Segundo Nelson Marconi, coordenador do Fórum de Economia e professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), a atividade econômica vai piorar ainda mais em razão da incerteza política, da crise de confiança e do cenário fiscal.
Em nota divulgada nesta quinta-feira, ele ressaltou que o único setor que vinha demonstrando sinais de melhora até aqui era o agronegócio. “O emprego aumentou no interior do país, e como ele é exportador e depende das condições do mercado externo, vai ser pouco afetado pela crise”, avaliou.
Para ele, no entanto, os demais setores serão impactados, pois os parcos investimentos serão paralisados em razão da crise de confiança.
A gravação de Joesley Batista que comprometem Temer e o agora senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), fiador da aliança com o PMDB, colocou uma pá de cal nesta confiança alicerçada em expectativas de recuperação, e não exatamente no deslanche da economia clamado agora por um presidente cada vez mais acuado.
Fonte: https://theintercept.com/2017/05/18/para-se-segurar-no-cargo-temer-faz-terrorismo-sobre-economia/