Pesquisa mostra que 2/3 desse universo procuram emprego e não encontramEspecialistas do mundo inteiro se dedicaram a analisar os efeitos da crise de 2008 sobre a economia mundial, especialmente sobre as taxas de desemprego. Muitos comparam os resultados com o maior caos econômico de que se tem notícia: a crise de 1929 – mais conhecida como a Grande Depressão. A semelhança se explica: em ambas, a causa do caos foi o desequilíbrio na maior economia do mundo, os Estados Unidos. Também em ambas, o problema foi a oferta desmedida de crédito. A maior diferença talvez seja o universo afetado pelo desemprego: agora, segundo pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a falta de postos de trabalho está engessando uma geração inteira. Os jovens foram profundamente atingidos.
Cerca de 40 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, que formam um batalhão de quase 15% dos 35 países da OCDE e em países como na Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul não trabalham, não estudam e nem estão em formação. Desse total, mais de dois terços estão à procura de trabalho, segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira (5). O relatório alerta que essa inatividade pode gerar isolamento e afastamento da sociedade e pôr em risco a coesão social.
Um em cada dez empregos se perderam
Segundo o estudo, quase um em cada dez empregos que até 2007 eram ocupados por jovens com menos de 30 anos perderam-se até 2014, sendo que nos países mais afetados pela crise – Espanha, Grécia e Irlanda – o número de jovens empregados diminuiu para metade no mesmo período.
Em média, 14,6% dos jovens nos países da OCDE não trabalhavam, não estudavam e não estavam em formação (Neet, na sigla em inglês) em 2015, índice que, considerando o peso dos jovens nos vários países, subia para 17%.
O percentual de jovens Neet nos países mais afetados pela recessão era particularmente alta: entre um quarto e um quinto de todos os jovens estavam sem trabalhar e sem estudar na Grécia, Itália e Espanha.
Em Portugal, onde a taxa de Neet chegou a atingir os 19% entre 2008 e 2013, a situação melhorou nos últimos anos e em 2015 estava em 15%, ainda assim acima da média anterior à crise (14%).
O rendimento bruto total que poderia ter sido gerado pelos Neet é estimado pela OCDE em US$ 360 bilhões a US$ 605 bilhões, ou 0,9% a 1,5% do Produto Interno Bruto de todos os países da OCDE juntos.
O estudo conclui que os Neet inativos não procuram trabalho por motivos diversos, como, problemas de saúde, dependências, e, principalmente, por não acreditar no sucesso da procura de emprego.
Em alguns países, como a Turquia, o México ou o Chile, a baixa participação feminina no mercado de trabalho leva a altas taxas de jovens Neet inativos.
O estudo mostra também que os jovens com níveis de escolaridade inferiores ao ensino secundário representam mais de 30% dos Neet e têm três vezes maior probabilidade de não trabalhar e não estudar do que os jovens com uma licenciatura.
Pior para as mulheres
Outro fator que influencia a probabilidade de ser Neet, particularmente numa base de longo prazo, é o gênero: as jovens têm 1,4 maior probabilidade de estar sem emprego e sem estudar do que os rapazes, o que se deve à necessidade de cuidar dos filhos. Para isso, a OCDE destaca a importância de disponibilizar creches econômicas.
Os jovens que já são desfavorecidos em outros aspectos, os que nasceram no estrangeiro e os que têm pais com baixos níveis de escolaridade também correm maior risco de serem Neet.
Embora mais da metade dos jovens numa seleção de países nunca tenham ficado sem trabalhar e sem estudar, cerca de um quinto estão nessa situação há mais de um ano.
A OCDE destaca ainda que os jovens Neet têm baixos níveis de satisfação com a vida e menos confiança no outro do que os jovens que estão empregados ou estudando, além de manifestar menos interesse na política.
Com informações da Agência Lusa