ONU reconhece queda do racismo no Brasil nos últimos dez anos

Grupo de Trabalho da ONU diz que Estatuto da Igualdade Racial foi "passo crucial na promoção da igualdade"


Nos últimos dez anos, Brasil mostrou vontade
política para superar racismo

A conclusão acima é do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Afrodescendentes que, na última sexta-feira (13), divulgou seu relatório preliminar sobre as relações raciais no Brasil. As conclusões e recomendações definitivas do grupo serão apresentadas ao Conselho de Direitos Humanos das ONU.

Esse relatório preliminar destaca a adoção do Estatuto da Igualdade Racial, em 2010, como “passo crucial na promoção da igualdade para os afro-brasileiros”, assim como a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade das cotas raciais para acesso ao ensino superior, e as atuais discussões no Congresso sobre as cotas para cargos públicos. “São medidas para corrigir as desigualdades históricas que têm impedido que os afro-brasileiros tenham acesso a tais espaços”, afirma o relatório.

O grupo ouviu representantes das três esferas de governo e da sociedade civil, incluindo comunidades negras, em Brasília, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. “Nossa visita permitiu uma oportunidade única para compreender a situação dos direitos humanos dos afro-brasileiros”, afirma o comunicado.

O grupo da ONU lembra que embora constituam mais da metade da população brasileira, os afrodescendentes permanecem “sub-representados e invisíveis na maioria das estruturas de poder, nos meios de comunicação e no setor privado”, em decorrência da “discriminação estrutural” baseada em “mecanismos históricos de exclusão e estereótipos negativos, reforçados pela pobreza, marginalização política, econômica, social e cultural”.

O relatório reconhece os avanços alcançados pelo país, na última década, na redução da pobreza, da pobreza extrema e das taxas de desigualdade, “processo do qual os afro-brasileiros se beneficiaram”, mas destaca a persistência de “um grande contraste entre a precariedade da situação dos negros brasileiros e o elevado crescimento econômico do país. Os afro-brasileiros não serão integralmente considerados como cidadãos plenos sem uma justa distribuição do poder econômico, político e cultural”.

Mulheres

Sobre o racismo institucional, o relatório aponta a repartição desigual dos gastos públicos. “Afro-brasileiros se beneficiam proporcionalmente menos de instalações educacionais e de saúde, da administração da justiça, do investimento público e privado, infraestrutura básica e outros serviços”. Os representantes da ONU chamam a atenção para a “feminização da pobreza”, expressa na elevada proporção de mulheres afro-brasileiras que trabalham em condições precárias, principalmente no serviço doméstico, e a dificuldade de acesso a saúde que acarreta taxas elevadas de mortalidade materna.

Ainda em relação ao racismo institucional, o relatório preliminar do grupo de trabalho da ONU destaca “o alto nível de violência e criminalidade que afeta a sociedade brasileira”, com “graves violações de direitos humanos perpetradas pelas forças de segurança, em particular pelas Polícias Civil e Militar, contra os jovens e adolescentes negros”, violações que, em geral, permanecem impunes.

A garantia da terra às comunidades quilombolas, o racismo ambiental que ameaça essas comunidades e o impacto negativo da indústria extrativista e do agronegócio também são vistos com preocupação pelos representantes da ONU, que alertam, ainda, para “a perseguição e as violações dos direitos culturais e à liberdade de religião sofridas por comunidades religiosas de origem africana, dentre outros, o Candomblé e a Umbanda.”

“Esperamos que o Brasil continue no caminho iniciado durante o governo Lula e seguido pelo atual governo da presidenta Dilma”, afirma o relatório, lembrando que a luta contra o racismo deve engajar toda a sociedade brasileira. “O fim da desigualdade racial, do racismo, da discriminação, da xenofobia e das intolerâncias correlatas beneficiará não só os negros brasileiros, mas também o conjunto da população do Brasil”

O Grupo de Trabalho, estabelecido em 2001, é composto por cinco especialistas independentes: Verene Shepherd (Jamaica), relatora-presidenta; Monorama Biswas (Bangladesh); Mireille Fanon-Mendes-France (França); Mirjana Najcevska (Antiga República Iugoslava da Macedônia) e Maya Sahli (Argélia).

Acesse a íntegra do comunicado emitido pelo Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Afrodescendentes


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