Gleisi: Foi uma clara tentativa de humilhar um ex-ministro nos governos Lula e Dilma, que colheu muitos elogios no exercício de seu cargoA senadora Gleisi Hoffmann, em artigo, denuncia o espetáculo midiático que culminou na prisão do seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo. Segundo ela, Paulo Bernardo não participou nem se beneficiou de esquema de que o acusam. “Ele sabe que eu nunca o perdoaria”, destaca.
Gleisi afirma ainda que a operação cinematográfica teve o objetivo de influenciar no Senado as discussões em torno do processo de impeachment da presidenta Dilma no momento em que, segundo a senadora, aumentam as chances de o processo ser barrado.
“É também uma tentativa de abalar emocionalmente o trabalho de um grupo crescente de senadores que discordam dos argumentos que ora vêm sendo usados para afastar uma presidenta, legitimamente eleita por mais de 54 milhões de votos”, ressalta.
Leia a íntegra do artigo:
Um espetáculo desnecessário
A prisão de Paulo Bernardo foi um despropósito do princípio ao fim. Prisão preventiva? Prevenir o que? Um processo iniciado em meados de 2015, sem nenhuma diligência feita, nenhuma oitiva realizada, mesmo por diversas vezes ter ele solicitado para depor?
Qual risco oferecia meu marido à ordem pública? A instrução processual? A aplicação da lei? Sempre esteve à disposição das autoridades, em endereço conhecido, há mais de dois anos não ocupa nenhum cargo público, é aposentado pelo Banco do Brasil, depois de 38 anos de contribuição previdenciária.
Conheço o Paulo há muitos anos. Sei de suas virtudes e de seus defeitos. Sei especialmente o que não faria. E não faria uso de dinheiro alheio para benefício próprio. Não admitiria desvios de recursos públicos para sua satisfação ou da família. Tenho certeza de que não participou ou se beneficiou de um esquema como o que estão acusando-o. Ele sabe que eu nunca o perdoaria!
O patrimônio que construímos ao longo de nossa vida nem de perto chega ao que estão acusando-o de ter se beneficiado. São dois imóveis adquiridos antes de 2004 e um, no qual moramos em Curitiba, adquirido em 2009, financiado junto ao Banco do Brasil, por 20 anos. É uma dívida, mais que do que um patrimônio, constantes das declarações de imposto de renda.
A imprensa noticiou nosso apartamento como uma grande cobertura. O condomínio tem 160 apartamentos, com vários prédios pequenos. O que dizem ser cobertura é o último apartamento, no oitavo andar, um pouco maior que os demais. É confortável, jamais luxuoso.
A operação montada para a busca e apreensão em nossa casa e para a prisão do Paulo foi surreal. Até helicópteros foram usados, força policial armada, muitos carros! Pra que isso, chamar atenção? Demonstração de força? Humilhação? Gasto de dinheiro público desnecessário, é isso!
Foi uma clara tentativa de humilhar um ex-ministro nos governos Lula e Dilma, que colheu muitos elogios no exercício de seu cargo. É também uma tentativa de abalar emocionalmente o trabalho de um grupo crescente de senadores que discordam dos argumentos que ora vêm sendo usados para afastar uma presidenta, legitimamente eleita por mais de 54 milhões de votos.
O que vemos é a mesma e repetida seletividade que vem marcando decisões do Ministério Público e de juízes que promovem carnavais midiáticos contra alguns políticos, ao mesmo tempo em que protegem e retardam decisões de outros, sobre os quais há provas mais do que suficientes para uma ação contundente, definitiva.
Não estou aqui a reclamar o respeito como parlamentar com mandato popular e prerrogativa de foro, sobre o qual, aliás, já me manifestei contrária e assinei uma Proposta de Emenda Constitucional para extingui-lo. Mas o respeito com que qualquer mulher ou homem deve ser tratado por agentes de estado, principalmente os que exercem a função policial. Senti na própria pele o que aflige diariamente milhares de pessoas, homens e mulheres, atingidos pelo abuso do poder legal e policial.
Nas remexidas em minha casa, sequer o computador que meu filho adolescente utiliza em seus trabalhos escolares foi poupado. Agora, é prova de processo criminal. Senti naquele momento todo o mal que pode causar o controle de segmentos do Estado sem limitações. Tentei impedir. Disseram que iriam devolvê-lo no mesmo dia. Sou uma pessoa de fé. Acreditei e liguei no final da tarde de quinta-feira porque meu guri sente falta do computador que usa para jogar e comunicar-se com os amigos. Responderam que só hoje, segunda, 26, começariam a analisar o disco rígido e não há mais data para devolvê-lo. Buscavam achar dinheiro? Cofres? Documentos que pudessem nos incriminar? Não acharam nada, nada! O que provavelmente tenha frustrado a operação espetáculo.
Minha luta aqui e agora é pela restauração da dignidade do nome de meu companheiro, duramente atingido pelas precipitações do noticiário. Sei que é uma cruzada difícil, contrariar a onda corrente.
Ainda não encontrei alívio para a minha dor, para a dor dos nossos filhos, apesar do testemunho de amigos e companheiros que, mesmo na adversidade, não perdem a fé e ousam falar com coragem, o melhor instrumento de combate que temos.
Quero agradecer aqui, publicamente, minha bancada de senadores e senadoras, que na primeira hora fizeram-me uma linda nota de solidariedade. Também a todos e todas que externaram carinho, confiança e apoio através de telefonemas, e mails, mensagens.
Muito obrigada aos que se solidarizaram comigo e com todas as pessoas da minha família. Tudo que tenho para oferecer de volta é a minha amizade e compromisso na luta por um mundo melhor. Podem contar comigo. Hoje e sempre.
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