Opinião: oposição, agora, apoia a greve da PF

Sob o argumento de que a categoria de agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal deve ter garantida a reestruturação das carreiras consideradas de Estado – não podem fazer greve – a oposição decidiu consignar apoio ao movimento grevista e até mesmo para a “grande” manifestação agendada para esta quinta-feira (27/09). Estranhamente, a manifestação não vai ocorrer em Brasília, onde está a sede do Departamento de Polícia Federal e do Ministério da Justiça a quem a PF está subordinada, mas em São Paulo, na Avenida Paulista.

O recado desse “apoio incondicional” à reivindicação da Federação dos Policiais Federais (Fenapef) foi feito pelo líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), em discurso no começo da tarde de hoje. Mas o que disse Álvaro Dias: “ocupamos hoje a tribuna para manifestar nosso apoio irrestrito ao Projeto de Reestruturação Salarial dos cargos de agente, escrivão e papiloscopista da Polícia Federal. Chamo atenção para o fato de que o pleito transcende um mero reajuste salarial e foi precedido de longa negociação”.

De fato, o governo Lula inaugurou a partir de janeiro de 2003 um processo de valorização das carreiras de Estado – inclusive a Polícia Federal – após passarem oito anos sendo desrespeitadas pelo governo demo-tucano de FHC. No Ministério do Planejamento, a Secretaria de Relações do Trabalho comemora o fato de ter em funcionamento, há dez anos, uma Mesa Permanente de Negociação para todas as categorias do serviço público federal. Nas últimas negociações, quem não quis continuar as conversas e optou pela continuidade da greve que já dura 51 dias foi a entidade que representa os agentes, escrivães e os papiloscopistas.

Apesar de o Ministério da Justiça e a direção geral da Polícia Federal estarem trabalhando para reduzir os efeitos à população, é estranho que agora o PSDB decida consignar “seu apoio incondicional” à greve dos agentes, e apoiar, inclusive, uma manifestação em São Paulo, poucos dias das eleições municipais.

Ao emprestar a causa à disputa política – não aceitando o diálogo que continua aberto há dez anos na Mesa Permanente de Negociação do Ministério do Planejamento – quem sai perdendo são os agentes, escrivães e papiloscopistas.  Esse movimento da oposição chama atenção pelo histórico abandono que sempre foi uma marca registrada do governo tucano em relação aos servidores públicos, mas agora na tentativa de ser a salvação para seu candidato à prefeitura de São Paulo que lidera as pesquisas de rejeição de voto. Acontece que os paulistanos não aprovam essa greve.

Marcello Antunes

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