Oposição perde outra com tentativa de transformar CPMI em 3º turno

Apesar do “histrionismo parlamentar” ininterrupto que a oposição apresentou durante  quase sete meses , a CPMI da Petrobras chegou ao seu final com um parecer capaz de responder a uma série de questionamentos sobre a gestão da empresa, além de sugestões concretas para aperfeiçoar o regime de contratações das estatais, materializadas em um projeto de lei elaborado pelo relator.

A avaliação é do senador Humberto Costa (PE), líder do PT e integrante do colegiado, que fez duras críticas ao “relatório paralelo” apresentado pela oposição, texto que, “lamentavelmente, deixa de cumprir um papel”, por ter resultado apenas em uma “colagem de matérias jornalísticas com notícias sem qualquer confirmação”. Para ele, tratou-se de mais uma tentativa frustrada de “terceiro turno” eleitoral. “Querem porque querem encontrar algum vínculo da presidenta Dilma com esse processo, para tentar no tapetão impedir seu segundo mandato”, afirmou.

Terceiro turno

O líder do PT repudiou as seguidas tentativas da oposição, capitaneada pelo PSDB e pelo DEM, todas estranhas à tradição democrática e resumiu: “Há um candidato derrotado em exercício que não se conforma com a decisão do povo brasileiro””, disse, emendando que, dessa frustração, surgem as atabalhoadas iniciativas como o perdido de recontagem de votos da eleição presidencial, ou a tentativa de desacreditar as urnas eletrônicas, ou ainda a movimentação para ver impugnadas as contas da campanha eleitoral da presidenta. “Até no debate sobre o superávit primário tentaram criar as condições para gerar um hipotético impeachment”, lembrou.  O “relatório paralelo” da CPMI, denunciou o senador, é filho desse mesmo princípio que não respeita a vontade popular.

 

Sem zelo pela verdade
Humberto denunciou também a “falta de zelo pela verdade” demonstrada pela bancada oposicionista responsável pelo “relatório paralelo”, apresentado na última quarta-feira pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). O ponto mais grave foi a tentativa de dar credibilidade aos supostos “vazamentos” das delações premiadas dos réus confessos da Operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, que eram a peça de sustentação do texto.

 

Para isso, Sampaio usou um truque rasteiro e condenável — e dotado de curtíssimas pernas. Ignorando a memória dos demais integrantes da comissão e as notas taquigráficas que vêm em socorro desta, caso falhe, ele afirmou que Paulo Roberto da Costa, em sua última passagem pela CPMI ( no dia 2 de dezembro, em uma acareação com o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró) teria chancelado todas as declarações atribuídas a ele e publicadas pela imprensa como “vazamentos” de sua delação premiada. “Como se nós não estivéssemos também presentes à sessão”, ironizou Humberto.

 

O que foi efetivamente perguntado por Sampaio, na ocasião, é se ele Costa confirmaria “tudo o que havia dito sob a delação premiada”. A resposta foi “Eu confirmo tudo o que eu falei na delação premiada, mas não vou dizer o que eu disse lá, porque não posso”. Como lembrou Humberto, em nenhum momento o ex-diretor da Petrobras disse que os vazamentos que aconteceram na imprensa eram verdadeiros. E lá se foi o único pilar sobre o qual se sustentavam as 165 páginas do “relatório paralelo”.

 

Outro exemplo da falta de zelo pela verdade apontado por Humberto Costa foi a incorporação — a um texto que pretendeu ser um documento oficial do Parlamento brasileiro, a ser encaminhado a órgãos de Estado, como a Polícia federal e o Ministério Público — de uma versão não confirmada de um suposto depoimento do doleiro Alberto Youssef, no qual ele teria tentado incriminar o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma em irregularidades investigadas pela Operação lava jato. Essa versão, alinhavada por uma conhecida revista semanal, com credibilidade decrescente a cada semana, que, na véspera das eleições, tentou interferir no resultado das urnas. A versão da revista foi formalmente desmentida pelo advogado de Youssef, mas de nada adiantou. “Nunca ouvi nada que confirmasse isto, que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção da Petrobras. Não conheço esse depoimento, não conheço o teor dele, estou surpreso. Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo”, afirmou ele ao jornal O Globo, após a divulgação da matéria.

 

Coragem política
Humberto Costa também desafiou os responsáveis pelo “relatório paralelo” a mostrar mais compromisso com a efetiva investigação de denúncias e menos apego à ribalta momentânea propiciada pelas CPIs. O senador petista repeliu com firmeza a postura seletiva e parcial demonstrada pelos oposicionistas, que, novamente escorados em recortes da imprensa, pediram a abertura de investigações policiais sobre alguns parlamentares mencionados pela mídia, deixando de fora outros, citados pelos mesmos veículos.

 

Entre os tucanos, o único lembrado como investigável foi o falecido ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, demonstração, segundo Humberto, de que “nem no túmulo existe solidariedade dos integrantes da oposição com os seus aliados”. Aécio Neves, por exemplo, aparece como beneficiário de diversas doações de campanha de empresas investigadas pela Lava Jato. Como está bem vivo, não foi citado no “relatório paralelo”. Aliás, tão vivo quanto o arauto que, por duas horas, declamou o texto da oposição, na reunião de ontem da CPMI: Carlos Sampaio — ele mesmo —recebeu pelo menos R$ 250 mil de uma empreiteira integrante do consócio liderado pela Galvão Engenharia, que tem vários executivos presos, na esteira da operação da Polícia Federal.

 

“Não vou dizer que isso é demonstração de tibieza e de covardia política porque eu não faço política desse jeito”, fuzilou Humberto. “Mas se eu tivesse qualquer dúvida sobre os parlamentares citados, teria pedido quebra de sigilo de todos eles, teria pedido sua convocação”. O líder do PT, incluído por Sampaio na relação de parlamentares que deveriam ser alvo de inquérito policial, lembra que, ao ser citado em matéria do jornal O Estado de S Paulo, apresentou imediatamente um documento ao presidente da CPMI abrindo mão de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico e colocando-se à disposição da comissão para depor e ser investigado. “Se houvesse coragem política nos que citam meu nome no relatório paralelo, deveriam ter me convocado e me investigado”.

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