
Foto: Alessandro Dantas
Depois de 7 horas e 44 minutos de resistência das senadoras de oposição, os governistas conseguiram reabrir a sessão do Senado e colocar em votação a reforma trabalhista. O texto foi aprovado por 50 votos a 26, com uma abstenção. Três destaques apresentados por bancadas foram rejeitados. Essas propostas de alteração pretendiam impedir que gestantes e lactantes trabalhem sob condições de insalubridade, vetar a legalização do “trabalho intermitente” e manter a preponderância da lei sobre negociações individuais entre patrões e empregados. O PT, o PCdoB, o PSB, o PDT, a REDE e o PTN encaminharam voto contrário à reforma. A maioria dos partidos que votaram a favor declinou do direito de defender o texto na tribuna.
Sem passeio
 O governo havia planejado um passeio. A sessão de votação foi marcada para as 11 horas desta terça-feira e a expectativa era que o processo fosse rápido — a previsão era liquidar a fatura às 13 horas, com a aprovação do texto como veio da Câmara, sem emendas, para que não houvesse necessidade de que a reforma retornasse àquela Casa e pudesse seguir direto para a sanção de Michel Temer.
O “passeio”, porém, acabou se transformando em uma árdua caminhada, graças à resistência de sete mulheres — Gleisi Hoffmann (PT-PR), Fátima Bezerra (PT-RN), Regina Sousa (PT-PI), Lídice da Mata (PSB-BA), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Ângela Portela (PDT-RR) e Kátia Abreu (PMDB-TO), que desde as 11 horas da manhã ocupavam a Mesa Diretora, tentando garantir que houvesse um debate sobre a reforma antes da votação.
Polícia no plenário
 O presidente do senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), chegou a ameaçar com o uso da polícia para retirar as senadoras da Mesa. Um destacamento da Polícia do Senado, composto apenas por mulheres paramentadas para ação de choque — usando couraças, escudos, capacetes, cassetetes e armas de fogo — foi enviado para o plenário, por volta das 17 horas, com o objetivo de intimidar as parlamentares.
As oposicionistas haviam aberto a sessão do Senado pontualmente às 11 horas, como estava agendado, pois eram as únicas presentes no plenário. Por volta do meio dia, Eunício chegou e tentou desalojá-las da Mesa. Diante da recusa das senadoras, arrancou o microfone da lapela de Fátima Bezerra, que ocupava a Presidência, declarou encerrada a sessão e mandou desligar os microfones e a iluminação do recinto. Os assessores legislativos foram evacuados do plenário pela polícia da Casa.
Deboche de Eunício
 No escuro, as sete senadoras resistiram até as 18:44h, recebendo a solidariedade de senadores, deputadas e deputados de oposição. Elas almoçaram quentinhas providenciadas por assessores e levadas até elas por parlamentares, já que ninguém mais tinha autorização para circular no plenário. A imprensa ficou encurralada no espaço lateral destinado aos repórteres.
Por volta das 18 horas, Eunício voltou ao plenário e, usando um microfone sem fio, reabriu a sessão. Sentado em uma ponta da mesa, o presidente do senado ironizava os senadores de oposição que tentavam encaminhar o voto contra o projeto sem poder contar com os microfones de plenário, ainda desligados: “Não grite, não grite”, debochava da tentativa de Lindbergh Farias, líder do PT, para delírio de seus apoiadores e de parte da imprensa.
Nas galerias, apenas três sindicalistas — três mulheres — conseguiram escapar do pente fino movido pela Polícia do Senado, que impediu a entrada de qualquer pessoa que pretendesse assistir à votação. As sindicalistas obtiveram uma decisão judicial que autorizava a entrada nas galerias. Elas resistiram até a retomada da sessão, no início da noite, sendo hostilizadas por senadores governistas de quem cobravam o posicionamento sobre a reforma. Com a reabertura da sessão, acabaram sendo retiradas do local.
Veja quem votou contra a reforma trabalhista:
 Fátima Bezerra (PT-RN)
 Gleisi Hoffmann (PT-PR)
 Humberto Costa (PT-PE)
 Jorge Viana (PT-AC)
 José Pimentel (PT-CE)
 Lindbergh Farias (PT-RJ)
 Paulo Paim (PT-RS)
 Paulo Rocha (PT-PA)
 Regina Sousa (PT-PI)
 Álvaro Dias (PODE-PR)
 Ângela Portela (PDT-RR)
 Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)
 Eduardo Amorim (PSDB-SE)
 Eduardo Braga (PMDB-AM)
 Fernando Collor (PTC-AL)
 João Capiberibe (PSB-AP)
 Kátia Abreu (PMDB-TO)
 Lídice da Mata (PSB-BA)
 Otto Alencar (PSD-BA)
 Randolfe Rodrigues (REDE-AP)
 Reguffe (Sem partido- DF)
 Renan Calheiros (PMDB-AL)
 Roberto Requião (PMDB-PR)
 Romário (PODE-RJ)
 Telmário Mota (PTB-RR)
 Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
Senadores que votaram a favor da reforma:
 Davi Alcolumbre (DEM-AP)
 José Agripino (DEM-RN)
 Ronaldo Caiado (DEM-GO)
 Airton Sandoval (PMDB-SP)
 Dário Berger (PMDB-SC)
 Edison Lobão (PMDB-MA)
 Elmano Férrer (PMDB-PI)
 Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)
 Jader Barbalho (PMDB-PA)
 João Alberto Souza (PMDB-MA)
 José Maranhão (PMDB-PB)
 Marta Suplicy (PMDB-SP)
 Raimundo Lira (PMDB-PB)
 Romero Jucá (PMDB-RR)
 Rose de Freitas (PMDB-ES)
 Simone Tebet (PMDB-MS)
 Valdir Raupp (PMDB-RO)
 Waldemir Moka (PMDB-MS)
 Zeze Perrella (PMDB-MG)
 Ana Amélia (PP-RS)
 Benedito de Lira (PP-AL)
 Ciro Nogueira (PP-PI)
 Gladson Cameli (PP-AC)
 Ivo Cassol (PP-RO)
 Roberto Muniz (PP-BA)
 Wilder Morais (PP-GO)
 Cristovam Buarque (PPS-DF)
 Eduardo Lopes (PRB-RJ)
 Cidinho Santos (PR-MT)
 Magno Malta (PR-ES)
 Vicentinho Alves (PR-TO)
 Wellington Fagundes (PR-MT)
 Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE)
 Roberto Rocha (PSB-MA)
 Aécio Neves (PSDB-MG)
 Antonio Anastasia (PSDB-MG)
 Ataídes Oliveira (PSDB-TO)
 Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
 Dalirio Beber (PSDB-SC)
 Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
 José Serra (PSDB-SP)
 Paulo Bauer (PSDB-SC)
 Ricardo Ferraço (PSDB-ES)
 Tasso Jereissati (PSDB-CE)
 José Medeiros (PSD-MT)
 Lasier Martins (PSD-RS)
 Omar Aziz (PSD-AM)
 Sérgio Petecão (PSD-AC)
 Armando Monteiro (PTB-PE)
Abstenção:
 Lúcia Vânia (PSB-GO)
Senadores que estiveram ausentes da votação:
 Acir Gurgacz (PDT-RO)
 Hélio José (PMDB-DF)
 Maria do Carmo Alves (DEM-SE)



