Oposição usa fragilidade política para afastar presidente, diz El País

Oposição usa fragilidade política para afastar presidente, diz El País

Oposição foi além da democraciaA acusação está no jornal espanhol El País, um dos mais influentes da Europa e de ampla repercussão na América Latina, e jamais seria encontrada nos veículos do oligopólio de mídia do Brasil, que abraçou a estimulou a tese do impeachment para viabilizar o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

 

Sem a hipocrisia característica dos jornais brasileiros, o El País vai direto ao ponto: “Enquanto o Brasil afunda na recessão”, diz, “a oposição usou o Congresso para transformar uma acusação de caráter político –uma má gestão do orçamento– num processo previsto para casos penais”.

Este é um trecho do editorial do jornal desta quarta-feira (11), Um processo irregular, que vai ainda mais fundo: “As sucessivas investigações não conseguiram provar a participação da presidenta na corrupção que afeta o seu partido, mas o abandono de vários de seus parceiros de governo a colocaram numa situação muito difícil.” 

Leia o texto na íntegra:

 

Um processo irregular – El Pais 

O caos institucional em que o Brasil está afundado, cuja máxima expressão é o irregular processo de impeachment contra sua presidenta, Dilma Rousseff, está colocando o país nas últimas horas em uma incerteza inconcebível na maior democracia sul-americana. E não contribui precisamente para negar as graves acusações feitas por Rousseff e seus colaboradores mais próximos, que culpam a oposição de ter forçado até além do aceitável em uma democracia os limites do Estado para afastar do poder a presidenta em uma espécie de golpe constitucional. 

Na quarta-feira estava prevista uma votação no Senado –por decisão pessoal de seu presidente– para ratificar o impeachment contra Rousseff, mas o Governo entrou com um recurso na terça-feira. Trata-se do toque final na confusão gerada desde que Waldir Maranhão, acusado de corrupção e desde quinta-feira presidente da Câmara dos Deputados –onde, sob outro presidente, afastado do cargo pelo Supremo Tribunal Federal, já se havia votado a favor da destituição–, ordenou na segunda-feira anular todo o processo. Mas o presidente do Senado, Renan Calheiros, recusou-se a obedecê-lo e prometeu seguir em frente com a votação. Horas mais tarde, Maranhão se retratou e deixou o caminho livre à votação. 

Enquanto o Brasil afunda na recessão, a oposição usou o Congresso para transformar uma acusação de caráter político –uma má gestão do orçamento– num processo previsto para casos penais. As sucessivas investigações não conseguiram provar a participação da presidenta na corrupção que afeta o seu partido, mas o abandono de vários de seus parceiros de Governo a colocaram numa situação muito difícil.

 

Essa crise institucional coloca dúvidas mais do que razoáveis sobre a legitimidade que teria um novo presidente depois de um processo tão pouco habitual. O Brasil não pode se permitir semelhante espetáculo. O dano causado é incalculável.

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