Pagot utiliza depoimento na CPMI para se defender

Ex-diretor do Dnit segue roteiro que traçou para garantir que é inocente, que acusações não procedem e que foi afastado do Dnit sem chance de defesa.

O ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) Luiz Antônio Pagot, cumpriu, nesta terça-feira (28/08), na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, o roteiro que ele mesmo havia desenhado para seu depoimento: falou, demonstrou mágoa por ter sido afastado do cargo, atirou em tucanos e petistas e garantiu jamais ter contribuído, de forma alguma, para que qualquer irregularidade acontecesse no órgão. Isentou-se, também, de qualquer culpa ou responsabilidade por malfeitos no Dnit, além de assegurar não conhecer o contraventor Carlos Augusto Ramos, garantindo aos parlamentares que não sabia que a empresa Delta Construções tinha ligações com o esquema de Cachoeira.

“Sempre fui pau pra toda obra”, exaltou-se, repetindo várias vezes que jamais havia cobrado propina nem tampouco conivente com atos de corrupção. Sua saída do Dnit, acrescentou, ocorreu porque ele contrariou interesses econômicos da Delta, principal executora das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Fiquei profundamente estarrecido, primeiro com o afastamento e depois com a minha exoneração do Dnit. Foi um episódio amargo na minha vida. Quando estava me recuperando, veio a informação brutal de que um contraventor foi o responsável por uma reportagem que gerou meu afastamento e minha exoneração”, queixou-se, referindo-se a Carlos Cachoeira e à revista Veja. Magoado, Pagot afirmou aos parlamentares que foi removido do cargo “sem qualquer possibilidade de defesa”.

De acordo com investigações da Polícia Federal, a Delta repassou dinheiro para empresas de fachada ligadas a Cachoeira, utilizadas para pagamento de propina e caixa dois em campanhas. Os parlamentares tentaram, em seus questionamentos, encontrar explicações para o grande número de contratos do órgão com a construtora.

Ao ser questionado sobre a razão da satisfação da quadrilha liderada por Cachoeira com sua exoneração, ele respondeu: “o afastamento deve ter sido pela atuação que eu estava fazendo no Dnit; eu não dava vida boa a ninguém”.

O depoimento de Pagot era um dos mais aguardados pelos parlamentares que integram a Comissão.  Ele foi demitido do órgão depois de uma série de denúncias de corrupção no Dnit, que também levou à saída do cargo do então ministro dos Transportes, o atual senador Alfredo Nascimento (PR-AM).
Pagot contou que costumava chamar as empresas prestadoras de serviços para cobrar o cumprimento dos contratos e  exigir a correta execução das obras
“No caso da BR 116, no Ceará”, exemplificou, “a Delta  subcontratou uma empresa local sem autorização do Dnit. No caso da BR 104, em Pernambuco, havia uma reivindicação de um aditivo de preço que nós não aceitamos. Houve enorme insistência, principalmente pelo diretor Cláudio Abreu para que revíssemos a decisão”, contou.

“Em 2010, vínhamos tendo alguns problemas com a Delta em relação à execução de obras. […] O que fizemos causou um grande dissabor nos trabalhos de Cláudio Abreu. Por isso, acredito que, junto com o contraventor, ele acabou patrocinando matérias jornalísticas que me tiraram do meu cargo”, afirmou Pagot.

Escutas telefônicas da Polícia Federal mostram articulações do grupo de Cachoeira contra o ex-diretor do Dnit. De acordo com gravações de 10 de maio de 2011, Cachoeira disse a Cláudio Abreu que “plantou” as informações contra Pagot na imprensa – principalmente por meio da revista Veja..
Pagot disse aos parlamentares que gostaria de ver criada a “CPI do Dnit” para passar a limpo a autarquia, principalmente em relação à sua gestão. “O momento de minha saída, sem qualquer possibilidade de defesa, foi sob o prisma de absoluto isolamento”, alegou. Ele afirmou que ainda espera que os parlamentares investiguem os contratos realizados pelo Dnit no período em que comandou o órgão, entre 2007 e 2011.

Fazedor
No início de sua exposição, ao falar sobre seu trabalho nos estados do Paraná e Mato Grosso, Pagot disse que foi secretário de Infraestrutura, Casa Civil, e Educação no governo de Blairo Maggi.  

Campanhas
Uma das perguntas mais ouvidas durante o questionamento foram entrevistas concedidas por Pagot à imprensa, onde ele afirmou ter recebido a  missão de  pedir a empreiteiras contratadas pelo órgão para que contribuíssem financeiramente para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência. “Eu não arrecadei para campanhas eleitorais, mas fui procurado pelo tesoureiro da campanha da presidente Dilma, que me pediu ajuda. Eu mostrei o rol das empresas que trabalhavam com o DNIT. Ele disse que eu não precisava me preocupar com as grandes, mas que se pudesse falar com as pequenas seria bom”, relatou. E prosseguiu: “eu, acreditando que não estava cometendo nenhuma ilegalidade, pedi sim, que se pudessem fazer contribuições à campanha, que o fizessem. Mas não vinculei isso a qualquer ato administrativo do Dnit”, ressalvou. Pagot afirmou que as doações foram devidamente registradas na Justiça Eleitoral.

Pagot também reafirmou suas acusações anteriores ao PSDB de São Paulo, ao afirmar que as obras de ampliação da Marginal Tietê, em São Paulo, executadas durante governos tucanos foram superfaturadas para engordar um suposto caixa dois do partido.

Demóstenes
Outro personagem de proa da CPI – o ex-senador Demóstenes Torres – também foi mencionado por Pagot. O depoente confirmou que havia estado em um jantar na casa do ex-senador, em fevereiro de 2011, para o qual o dono da Delta também fora convidado. “Soube da presença de Cavendish ao chegar no apartamento do senador”, disse

da presença de Cavendish ao chegar ao apartamento funcional do então parlamentar.

 

“Terminou o jantar ele me convidou para uma sala reservada, apenas ele e eu. Nessa sala, ele me disse o seguinte: eu tenho dívidas com a empresa Delta, ela tem me apoiado nas campanhas, e eu preciso ter alguma obra com o meu carimbo”, pediu o ex-senador. Pagot disse que não atendeu ao pedido. “Respondi que lamentava, que não podia atendê-lo, que não tinha possibilidade nenhuma de o diretor geral do Dnit ir para o mercado e dizer: olha, reservem uma obra para a Delta”.

Giselle Chassot

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